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Barracões SRzd: Cubango se inspira na obra de Bispo do Rosário para bordar seu Carnaval

Detalhe de alegoria da Cubango. Foto: Vinicius Albudane.

O enredo da Acadêmicos do Cubango é “O rei que bordou o mundo”, mas quem bordou o Carnaval da escola foram os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad. Inspirados pela obra do homenageado, Arthur Bispo do Rosário, os artistas investiram na reutilização de materiais para preparar o desfile que será o quinto a passar pela Avenida neste sábado (10) de Série A.

O SRzd esteve presente no barracão da verde e branco e notou, de cara, a influência das criações do Bispo no trabalho de alegorias e fantasias da escola. Mas se engana quem pensa que foi fácil dar vida ao desfile, uma vez que a arte do homenageado serviu de base para a criação da escola.

Foi um desafio desenvolver uma plástica a partir da obra de um outro artista…

“Foi um desafio desenvolver uma plástica a partir da obra de um outro artista, que possui uma obra muito expressiva visualmente. Uma linguagem que não é carnavalesca, uma linguagem opaca, uma linguagem de apagamentos, do precário”, contou Leonardo Bora.

O carnavalesco revelou que a vontade de diretoria era um enredo afro. Os artistas decidiram sair do comum e fazer uma homenagem a um artista negro, tema abraçado pelo presidente e por toda a escola. Bora disse que o mergulho na obra do Bispo é poético, lúdico e lírico.

“Ele desenvolveu, no manicômio, esse trabalho que seria sua grande missão: fazer um inventário do mundo, com as coisas boas e ruins, para apresentar ao Criador quando fizesse a passagem dele. Ele desfiava as camisas e bordava os lençóis, por isso que no nosso desfile tem bastante fios nas alegorias e fantasias.”

Detalhes do barracão da Cubango. Foto: Vinicius Albudane.more

Como driblar as dificuldades da Série A?

Detalhe de uma das esculturas. Foto: Vinicius Albudane.

Bora e Haddad pegaram o espírito dos bordados e recriações de Arthur Bispo do Rosário e transpuseram no desfile. Assim como o homenageado, a Cubango reutilizou materiais para compor sua parte plástica.

“A regra foi a reutilização, o improviso, o reaproveitamento de materiais. Nesse sentido, há uma proximidade com a obra do bispo, que é fazer algo belo a partir do precário, de materiais já existentes”, afirmou Gabriel Haddad.

Composta de materiais alternativos, a Cubango tem, na segunda alegoria, 70% de tecido oriundo de doações de outras escolas. Os carnavalescos contaram que tentaram reaproveitar o máximo de utensílios possíveis.

“Tínhamos um resquício de crédito no Babado (da Folia), então pudemos pegar os materiais para os protótipos lá. Mas desde essa época, começamos todo o movimento de reutilização. Visitamos o almoxarifado da escola para ver o que poderíamos usar. O enredo permite um pouco dessa experimentação de rearranjar materiais e testar outras possibilidades estéticas.”

O que veremos no desfile?

1º SETOR: Ode marítima

Leonardo Bora: “É um grande convite da escola para que todo o espírito ancestral da loucura venha para esse desfile, apresentando ao público a história do Arthur Bispo do Rosário. Da comissão de frente ao carro abre-alas, a gente evoca toda essa ancestralidade, inclusive a figura do louco no tarot, que é a primeira carta do jogo. O abre-alas dialoga com uma das obras mais famosas dele, que é o grande veleiro, e evoca a tradição da ‘Nau dos Insensatos’, um navio que existia na Idade Média com o objetivo de tirar do convívio social as pessoas consideradas loucas”.

2º SETOR: Peregrinação

Leonardo Bora: “Nós mostramos como o Bispo do Rosário aparece. Ele disse: ‘um dia eu simplesmente apareci’. Esse aparecimento se deu na noite de Natal de 1938, quando ele é detido no Mosteiro de São Bento, depois de interromper uma celebração natalina, e é levado para o manicômio. Ele é detido depois de peregrinar por 48 horas de Botafogo até o Mosteiro. Nessa peregrinação, ele passou por vários lugares guiados por sete anjos. Trazemos sete alas e cada uma representa um desses sete anjos que guiou o bispo. Cada anjo expressa um dos lugares que ele passou. Mas não será repetitivo, porque cada anjo tem uma asa diferente e uma técnica diferente. Os lugares são: a Igreja de Santo Inácio; o Casarão onde ele trabalhava como empregado; o Palácio do Catete; o Outeiro da Glória; a Igreja de São José; a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, representada pela ala de baianas; a Candelária; e o Mosteiro de São Bento. Na alegoria dois, a gente usa impressão do texto original do principal lençol em que ele narrava essa peregrinação.

3º SETOR: Inventário

Gabriel Haddad: “O Bispo, aprisionado por mais de 50 anos, desenvolve a obra que é a sua missão. Essa obra é composta por bordados, colagens de objetos de uso trivial, miniaturas, maquetes… a gente sintetizou para mostrar nesse setor quais os principais temas dessa obra. A primeira fantasia a gente utiliza a série marítima. A segunda representa a série esportiva, pois ele praticava diversos esportes, era um atleta. A bateria representa os fardões que ele produziu. Os passistas de misses e soldados, porque ele era um fã de todas as misses. Trazemos uma ala da roda da fortuna e terminamos com a ala do xeque-mate”.

4º SETOR: Recordações

Leonardo Bora: “Apresentamos os retalhos das memórias da infância do Bispo, de todos os festejos que ocorriam em sua cidade natal. Nós visitamos poeticamente esse lugar de batismo dele, Japaratuba, para coroar Bispo do Rosário como um grande rei negro que é, em meio a todos esses festejos. Ele dizia que o mundo a ser recriado seria um lugar de festa, sem abismos e com muito ouro e prata. Tem as marujadas, as taieiras, os reisados… terminamos o desfile com o ‘Carrossel’, a obra preferida dele”.

Detalhes do barracão da Cubango. Foto: Vinicius Albudane.more

*colaboração de Vinicius Albudane.