Barracões SRzd: com planejamento e pintura de arte, São Clemente promete surpreender

Riqueza de detalhes é uma das marcas da São Clemente para 2018. Foto: João Carlos Martins.

A São Clemente parece estar cada vez mais perto de alcançar o sonho do sábado das campeãs. Com um trabalho primoroso do carnavalesco Jorge Silveira, a escola da Zona Sul promete surpreender no domingo de Carnaval com o enredo “Academicamente Popular”. Graças ao planejamento feito com antecedência, a agremiação finalizará em breve os trabalhos e já estará pronta para adentrar a Avenida Marquês de Sapucaí.

Quem visita o barracão da São Clemente se impressiona. Não somente por estar adiantada, mas pela riqueza de detalhes imposta em cada alegoria e fantasia. A escola também apostou na grandiosidade e trará um abre-alas acoplado. A técnica de pintura de arte, muito utilizada na produção, traz a cara e essência do enredo para a agremiação.

Em conversa com o SRzd, Jorge Silveira revelou que a escolha por homenagear os 200 anos da Escola de Belas Artes se deu através de um pedido do presidente Renatinho. O carnavalesco já havia feito o enredo no Carnaval Virtual, grande portal de projeção de novos artistas, em 2012, mas garante que a abordagem para o real é totalmente diferente. Além disso, Jorge tem uma relação de carinho com a EBA.

A gente tá projetando uma São Clemente maior, mais audaciosa

“É um enredo que eu tenho muito carinho, porque eu estudei na Escola, então, eu vivi o enredo. Achava que já era hora do Carnaval prestar essa homenagem a sua matriarca, né? A Escola de Belas Artes é uma das instituições mais importantes pra evolução estética do Carnaval carioca e nunca tinha sido enredo.”

Para o carnavalesco, chegou a hora da agremiação sair da posição de coadjuvante: “A gente tá projetando uma São Clemente maior, mais audaciosa, para que ela própria acredite que ela é capaz de chegar aonde ela ainda não chegou”.

Como driblar a crise?

Apesar do belo trabalho realizado no barracão da São Clemente, chegar até esse estágio não foi nada fácil. Problema financeiro e interdição da Cidade do Samba ameaçaram a prejudicar a escola, mas, devido ao início muito cedo dos trabalhos, a ‘crise’ não pegou a agremiação.

Quando chegou em junho, nós já estávamos erguendo a primeira alegoria.

“A primeira solução foi começar muito cedo. Eu entrei no barracão dia 3 de março e comecei a projetar o Carnaval. Quando chegou em junho, nós já estávamos erguendo a primeira alegoria. Então, com muita antecedência, nós conseguimos preços melhores, porque enquanto as pessoas estavam ainda desenvolvendo o que iam fazer no Carnaval, eu já estava executando. Isso me possibilitou negociar valores de isopor mais baratos, tecidos mais baratos, os profissionais que eu precisava estavam todos disponíveis no mercado… tudo isso barateou o custo. Nosso segredo esse ano foi a antecipação do processo”, contou o carnavalesco.

Pintura de Debret é retratada no desfile. Foto: João Carlos Martins.

Outra estratégia utilizada pela representante da Zona Sul foi a pintura de arte. Mas não somente para baratear o custo. Segundo Jorge, com um enredo sobre a Escola de Belas Artes, a técnica do pincel não poderia ficar de fora.

“É um Carnaval de crise e todo mundo sabe. Uma coisa que o enredo me possibilitou foi usar muita mão de obra de pintura de arte. É algo que barateia e o meu enredo pede isso. Eu tô falando de arte, então eu precisava de uma camada de pintura em todas as coisas para que elas se aproximassem do resultado das obras de arte que eu tô homenageando.”

O que terá no desfile da São Clemente?

1º SETOR

Jorge Silveira: “No começo da São Clemente, primeiro setor, a gente representa a chegada da missão artística francesa e a edificação do primeiro prédio da Escola de Belas Artes, construído pelo arquiteto que veio na missão há 200 anos atrás. O abre-alas é acoplado. Em sua primeira parte, temos a presença de alegorias que fazem referência à musas da arte que impulsionam o navio que trouxe a missão artística ao Rio de Janeiro, com a reprodução do portal original da Escola de Belas Artes. Na parte de trás, o prédio, ele representa a arquitetura original construída pelo arquiteto. No segundo andar, nós vamos apresentar um ateliê aberto de 200 anos atrás, onde as pessoas na Sapucaí vão conseguir enxergar as pessoas trabalhando dentro da alegoria.”

2º SETOR

Jorge Silveira: “No segundo setor, nós vamos passear pelo Rio de Janeiro de Debret. Ele é um carro que replica a arquitetura colonial da cidade. Ele tem elementos que marcam a presença do negro, figura forte em todas as aquarelas do Debret, e ele vai ser uma grande prancha de aquarela de onde o prédio vai se projetar do bidimensional ao tridimensional.”

3º SETOR

Jorge Silveira: “Carro três é o carro dos salões da academia. Ele representa a época áurea da Escola de Belas Artes, quando os alunos concorriam por medalhas anuais nos salões. Os melhores alunos eram condecorados com medalhas de ouro, prata e bronze e viagens. Eu priorizei, nessa alegoria, os artistas brasileiros que participaram dos salões, como Pedro Américo, Victor Meirelles, Estêvão Silva, Manuel de Araújo Porto-Alegre, entre outros.”

4º SETOR

Jorge Silveira: “Depois, trazemos o tripé que representa o contato do homem com a natureza. O momento que os artistas saem do ateliê da Escola e vão pintar em contato com a natureza. Temos uma grande figura humana que personifica a natureza e interage com um pintor que vai pintar uma tela na Avenida.”

5º SETOR

Jorge Silveira: “O quarto carro é o carro da modernidade, em preto e branco. Ele vai fazer uma dupla referência. Ele vai representar a obra do gravador Oswaldo Goeldi na parte de baixo, e na parte de cima nós vamos elevar uma árvore em homenagem a obra de Cândido Portinari, fazendo uma referência ao período infantil da obra dele, quando ele registrou a memória da infância dele no interior de São Paulo.”

6º SETOR

Jorge Silveira: “A gente encerra com o carro das luminárias de Carnaval, que fazem referência direta aos elementos desenhados pelos artistas da Escola de Belas Artes para a decoração de rua da Presidente Vargas e da Rio Branco. É o carro que vai trazer os nossos homenageados: professores, diretores e carnavalescos oriundos da Escola de Belas Artes.”

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