Barracões SRzd: mais do que nunca, Mangueira quer trazer o ‘povão’ para seu desfile

Escultura da transformista Laura de Vison promete causar em uma das alegorias da Mangueira. Foto: Reprodução.

Uma das principais características da Estação Primeira de Mangueira é ser a escola que arrasta multidões. Quando passa na Avenida, traz o povo atrás a cantarolar seu samba, como em 2016 e 2017, quando encerrou o Carnaval. Para 2018, a agremiação não será a última a desfilar, mas pretende, mais do nunca, trazer o ‘povão’ das ruas para seu desfile e juntos mostrar que com dinheiro ou sem dinheiro, dá para brincar o Carnaval.

O carnavalesco Leandro Vieira recebeu a equipe do SRzd no barracão e falou sobre os preparativos do seu terceiro desfile à frente da verde-e-rosa. O artista contou que o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco” não surgiu devido ao corte de verbas do Carnaval. A discussão do tema sempre esteve presente nos trabalhos do carnavalesco, que achou o anúncio da redução da subvenção e a possibilidade da não realização do desfiles um momento oportuno de lançar o assunto.

É um desfile de afirmação de valores da cultura da cidade, valores que o prefeito nega.

“A pauta de discussão da alta necessidade de recursos finaceiros num desfile de escola de samba sempre esteve presente no meu discurso desde que eu comecei a fazer Carnaval na Caprichosos de Pilares, em 2015. O desfecho daquele desfile foi conduzido para uma crítica à questão mercadológica que se instalou no Carnaval. Quando o prefeito anunciou o corte e a entidade que organiza os desfiles das escolas de samba informou que esse corte inviabilizaria os desfiles, me veio o estalo de propor, de forma mais efetiva, o discurso de que o dinheiro não é tão determinante e que com dinheiro ou sem dinheiro, é possível brincar.”

Além da intenção da escola em convidar foliões dos blocos e das ruas do Rio de Janeiro para desfilar na Sapucaí, a Mangueira quer, com sua apresentação, afirmar valores da cultura da cidade que tem sido deixados de lado pelo atual prefeito Marcelo Crivella.

“O corte de verba deixou claro que existe um divórcio entre o carioca e a escola de samba. Com o crescimento do Carnaval de rua, ficou evidente que os foliões da cidade preferem brincar nos blocos. A lógica do mercado transformou o desfile num produto e isso inviabilizou algumas relações que eram fundamentais pra sustentar a festa enquanto uma atividade cultural da cidade. Então, meu desfile caminha na direção disso. É um desfile de afirmação de valores da cultura da cidade, valores que o prefeito nega”, afirmou Leandro Vieira.

Afinal, do que trata o enredo da Mangueira?

Com um dos temas mais elogiados do ano, a verde-e-rosa promete mostrar páginas da história carnavalesca que comprovem que o dinheiro nunca foi determinante para a realização da festa. O carnavalesco optou por não setorizar o enredo, ao afirmar que o desfile só acontece na Avenida, mas deu detalhes do desenrolar do assunto que a Mangueira levará para a Marquês, quando será a 6ª a desfilar no domingo de Carnaval.

Frente da alegoria da Mangueira que representa o boteco. Foto: Reprodução.

“Eu utilizei um trecho de uma marchinha carnavalesca, que dentre outras coisas fala: ‘se meu dinheiro acabar/com pandeiro ou sem pandeiro eu brinco/com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco’, para direcionar o pensamento do meu enredo. Que não quer falar do corte de verbas, mas quer falar que a realização da atividade carnavalesca independe disso. Então, eu busco, na história oficial do Carnaval, páginas da cultura carnavalesca que não se debruçaram na questão do capital para determinar a existência da festa. Uma dessas páginas é a própria escola de samba. A maior parte das agremiações, em sua fundação, nunca se debruçaram na questão financeira.”

Como anda o barracão?

O que mais se comenta é o que barracão da Mangueira é um dos mais adiantados. Leandro afirmou trabalhar normalmente. Por ele e a escola estarem acostumados com as dificuldades, não foi muito difícil superar as adversidades do pré-Carnaval 2018.

“A Mangueira tá igual todo mundo. Ficou parada o tempo que tinha que ficar, buscou atender as exigências do Ministério do Trabalho o mais rápido possível e agora tá trabalhando normalmente. A Mangueira faz um Carnaval com a mesma dificuldade que faz todo ano. Talvez para as escolas mais acostumadas com um andamento mais rápido, tenham estranhado o tempo que ficaram paradas. Mas a Mangueira já caminha com uma dificuldade natural e a gente tá um pouco calejado pra fazer essa dificuldade caminhar normalmente.”

Eu não permito que coloquem meu trabalho dentro de um modelo pré-estabelecido.

A respeito dos materiais utilizados na produção das alegorias e fantasias, o carnavalesco contou que não tem um material específico e afirmou utilizar a criatividade para tentar produzir beleza com o recurso que tem. Já sobre as cores da escola no abre-alas, Leandro disse não se obrigar a fazer as coisas dentro de um padrão. Vale lembrar que o carnavalesco ‘interrompeu’, nos dois últimos anos, a tradição da Mangueira em levar o abre-alas nas cores verde e rosa.

“Vou continuar fazendo as coisas do jeito que eu acredito. Eu acho que sou um carnavalesco tradicional, mas não sou um carnavalesco tradicionalista. Se for a minha proposta, será verde-e-rosa; se não for, não será. Eu não permito que coloquem meu trabalho dentro de um modelo pré-estabelecido.”

Detalhe da alegoria que representa o boteco. Foto: Reprodução.

*colaboração de Vinicius Albudane.

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