Barracões SRzd: Regina Celi ajuda e Rocinha promete sair da mesmice ao falar da xilogravura

Detalhe de escultura da Rocinha. Foto: Divulgação.

O Acadêmicos da Rocinha tem contado com uma ajuda pra lá de especial no Carnaval 2018. Regina Celi, presidente do Salgueiro, doou cerca de 3 mil fantasias e diversas esculturas que fizeram parte do desfile da vermelho e branca para a representante da Zona Sul. Com o apoio da ‘madrinha’, a Rocinha promete sair da mesmice ao apresentar o enredo “Madeira Matriz”, em homenagem aos 110 anos da xilogravura.

A equipe do SRzd esteve no barracão da agremiação e conversou com o carnavalesco Marcus Ferreira, campeão da Série A pelo Império Serrano em 2017. Marcus contou como a ajuda de Regina tem sido fundamental para o desenvolvimento do desfile da escola.

A base do Carnaval da Rocinha são as fantasias do Salgueiro.

“Com a ajuda da presidente Regina Celi, que é uma espécie madrinha da Rocinha… se não fosse ela, a Rocinha não chegaria até o final. A base do Carnaval da Rocinha são as fantasias do Salgueiro. Foram praticamente 3 mil doadas. Então, conseguimos reciclar praticamente tudo. A parte de alegoria, ela também ajudou com bastante coisa.”

Marcus Ferreira no barracão da Rocinha. Foto: Vinicius Albudane.

Mas se engana quem pensa que vai ver um Salgueiro desfilando no sábado da Carnaval. O carnavalesco prometeu se reiventar e sair da mesmice. Tudo será bem diferente do desfile da vermelho e branca.

Com uma intensa rotina de trabalho no barracão, Marcus enalteceu os carnavalescos da Série A: “Muitas vezes a gente trabalha, não recebe… mas é muito amor ao Carnaval. A gente troca nossa família para estar no barracão”. E deu um panorama de como tem ocorrido o trabalho num ano de crise.

“O profissional da Série A já ta calejado em fazer Carnaval com pouco recurso, mas esse ano tá pior. Ano passado, final de dezembro, eu já tinha três carros embalados, esse ano a gente tá iniciando a decoração de um. A gente tá fazendo com um esforço muito grande para que consiga levar até o final.”

O que é o enredo da Rocinha?

“Madeira Matriz” é a aposta da agremiações e de Marcus Ferreira para o Carnaval 2018. Um tema pra lá de regionalista que encantou de cara a diretoria. “Eu sempre procuro temas diferentes pro Carnaval e eu gosto dos temas regionalistas. Ano passado, eu fiz Manoel de Barros no Império (Serrano). Vindo pra Rocinha, eu queria que o enredo tivesse o olhar da escola, e eu tinha esse tema em mente há um ano mais ou menos. Dentre os três temas que apresentei ao presidente Ronaldo, ele escolheu os 110 anos da xilogravura”, contou o carnavalesco.

Todo o desenrolar da história será pelo olhar do artista J. Borges, um dos mais conceituados no ramo da xilogravura: “Madeira Matriz é um enredo que é o olhar do J. Borges sobre tudo que acontecia lá no sertão pernambucano. As cidades em torno de Bezerros, o rio Ipojuca… todas essas cenas serviram de inspiração pro J. Borges fazer a xilogravura que, a princípio, era utilizada para estampar capas de cordel vendido nas feiras nordestinas”, explicou Marcus.

Como está a produção no barracão?

Fiz um estudo de materiais baratos para que pudesse imprimir minha marca esse ano.

Marcus disse que estava se reinventando para sair da mesmice com a Rocinha e tem cumprido com a palavra. Podem ser vistos diversos materiais alternativos em fantasias e coisas não muito usuais em Carnaval que foram utilizadas pelo carnavalesco. Além disso, o colorido é marcante em todo o trabalho plástico da agremiação para 2018. “A minha ideia com a Rocinha é que seria um Carnaval diferente. Busquei outros recursos plásticos para que eu saísse da mesmice e pudesse me reinventar”, afirmou.

A estamparia é outra forte característica da escola nesse Carnaval. Inspirado na xilogravura e nas obras de J. Borges, Marcus utilizou figuras diferentes em cada setor: “Já que a xilogravura é uma arte que retrata bastante a estampa, eu deixo isso bem claro. O primeiro setor vem com bolinhas, o segundo setor com quadrados, o terceiro vem com estrelinhas e o último com listras. Fiz um estudo de materiais baratos para que pudesse imprimir minha marca esse ano”.

Qual a divisão do desfile?

1º SETOR

Marcus Ferreira: “A gente inicia com esse contato que o J. Borges teve com a literatura de cordel. Ele trabalhava numa carpintaria e teve a ideia de ilustrar o folhetim, já que o folhetim na época era o único meio de comunicação com a zona rural pernambucana. Então, enredo começa com essa questão da feira e ads xilogravuras que foram destinadas à feira. As vendedores de frutas, que são as baianas da Rocinha, os vendedores de piões, os vendedores de balões, os vendedores de lápis e madeira…”.

2º SETOR

Marcus Ferreira: “O segundo setor da escola é destinado à lida rural pernambucana. Então, são as xilogravuras mais importantes que sintetizam a vida do J. Borges. O florer na palma, os cortadores de cana, a quebra de milho, plantio do algodão. Também a questão sertaneja dos retirantes, que vai ser o segundo carro”.

3º SETOR

Marcus Ferreira: “O terceiro setor vem a questão cômica e religiosa. Vários santos católicos foram gravados na madeira. Esse terceiro setor traz a religiosidade em si e os ‘causos’ do sertão. Então, eu retrato o casamento do diabo, a prostituta boa que foi pro céu, a moça que dançou depois de morta. Encerramos o setor com o terceiro carro que é a chegada de Lampião ao inferno”.

4º SETOR

Marcus Ferreira: “O último setor são as festas que foram gravadas na xilogravura. Todas as manifestações religiosas e folclóricas, principalmente da cidade de Bezerros que é a cidade natal do J. Borges. Então, nós temos as cirandas, o bumba-meu-boi, o cavalo marinho, festas juninas. E encerramos o Carnaval com uma identidade folclórica muito grande de Pernambuco que é o grupo de papangus, uma espécie de bate-bolas do sertão. Uma coincidência muito bacana é que a maioria das máscaras dos papangus tem borboletas”.

*colaboração de Vinicius Albudane.

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