Barracões SRzd: Império da Tijuca prepara Olubajé com grandes alegorias

Segunda alegoria do Império da Tijuca. Foto: João Carlos Martins.

O Morro da Formiga quer fazer jus ao seu samba e vir pra vencer. Se depender do barracão, o Império da Tijuca tem total condição de fazer um belo desfile na sexta-feira de Carnaval da Série A. Com alegorias grandiosas e trabalho alternativo de materiais, a agremiação se prepara para o “Olubajé – Um banquete para o rei”.

Em visita à fábrica de alegorias, o SRzd pode conferir como andam os preparativos do Império da Tijuca e conversou com os carnavalescos Jorge Caribé e Sandro Gomes. Logo de início, eles exaltaram a ligação entre o enredo e a comunidade e prometem passar uma mensagem contra a intolerância e o preconceito.

Sandro Gomes (esquerda) e Jorge Caribé (direita). Foto: João Carlos Martins.

“Esse enredo foi escolhido porque a escola tem um perfil de falar sobre enredos de temática africana. Então, a gente escolheu falar de Obaluaiê, porque a história de vida desse orixá tem muito a ver com a história da comunidade do Morro da Formiga. A começar pela formiga, que é o nome do morro da comunidade e é um dos animados sagrados do culto de Obaluaiê. Como o culto dele é sobre intolerância, preconceito e discriminação, quem mora em comunidade passa por isso. Além do mais, parece que os outros orixás tem uma preferência maior. Todo ano você tem Xangô, Iansã, Oxum, Iemanjá, mas Obaluaiê não”, afirmou Jorge Caribé.

Daqui a pouco vem alguém como o Crivella querendo que a gente fale sobre evangélicos

Para o carnavalesco, um enredo de temática africana nunca será ‘batido’. Além disso, Caribé reivindica que os assuntos brasileiros tenham mais importância e utilização no Carnaval. Ele aproveitou para brincar com a questão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella.

“Pra mim é bacana falar de índio, caboclo, cachoeira, Amazônia, coisas nossas. Temos que valorizar as coisas da nossa terra, se não, daqui a pouco, vem alguém como o Crivella querendo que a gente fale sobre evangélicos… mas se ele patrocinar, quem sabe ano que vem a gente fale, né? (risos)”

Qual o desenvolvimento do enredo?

O Império da Tijuca contará a história de Omolu/Obaluaiê e terminará o desfile com um banquete em homenagem ao orixá. Quem detalhou melhor o enredo da escola foi o carnavalesco Jorge Caribé:

“Começamos com o nascimento de Obaluaiê, que foi escolhido por Olodumaré para vir no ventre de Nanã, só que Nanã, quando tem a criança, fica apavorada pela doença de Chagas que há no filho. Ela coloca essa criança na beira do mar e Iemanjá a adota, levando-a pro reino de Olokum. Anos depois, Iemanjá devolve esse rapaz crescido, curado e bonito e o intima a perdoar sua mãe Nanã. Esse garoto, que foi embora cheio de lepra, volta como o brilho do Sol, que é o Orin. Por isso ele continua coberto com a palha, para não cegar os olhos dos seres humanos. Então, o rapaz se torna o Rei do Sol e da Terra e deixa de ser Omolu para ser Obaluaiê. Ele, então, monta o seu reino em Sapaktá e convida alguns orixás para formarem sua família: Nanã, Oxumarê, Ossain, Irocko e Yewá. A gente fecha nosso Carnaval com o banquete para o Rei, que é uma grande festa de consagração.”

Parte do abre-alas do Império da Tijuca. Foto: João Carlos Martins.

Como está a produção no barracão?

Preparar o desfile com a escassez de recursos que vive a Série é uma difícil missão para Sandro e Jorge, mas se engana quem pensa que a tal crise esteja presente somente em 2017/2018. “Quando é que o grupo de acesso não teve crise? Agora tá todo mundo mascarado pela falta do dinheiro da prefeitura, mas até quando vinha o dinheiro, quando é que eu pude ir numa loja comprar as coisas que eu queria para o Carnaval?”, indagou Caribé.

Sandro contou que a saída foi reaproveitar todo e qualquer tipo de material, desde os utilizados no desfile passado aos restos que viravam lixo e agora viram adereços. “A gente quase não comprou material. A gente reciclou 90% de tudo que está nas alegorias. Muita criatividade, bom gosto e saber utilizar os materiais certos nos lugares certos. A gente pega os materiais velhos e recicla, a palha que cai no chão a gente pega, trata e usa. Até o lixo aqui é reciclado e vira parte de alegoria”.

Uma das curiosidades é a utilização de latinhas de cerveja na barra de um dos carros alegóricos: “As latinhas de cerveja que pegamos da quadra viraram barra da saia da segunda alegoria”, contou Sandro.

No que diz respeito às fantasias, o carnavalesco afirmou ser difícil reproduzir as 21 alas da mesma forma que foram pensadas inicialmente. Contudo, boa parte dos figurinos já estão prontos e Sandro acredita que o conjunto funcionará na Avenida. “Os desenhos são o plano A, com os protótipos fomos para o plano B e com a reprodução acabamos indo para o C e o D. Mas acredito que as alas serão bem impactantes e vão funcionar. Grande parte delas já está pronta”.

O que terá no desfile do Império da Tijuca?

1º SETOR: Nascimento de Obaluaiê

Jorge Caribé: “A gente abre com uma comissão de frente falando do filho do Sol e a vida e da morte, porque pra viver, está pronto pra morrer. Abrimos com o nascimento desse menino especial, até que ele faz um grande mergulho no reino de Olokum, que é o pai de Iemanjá”.

A escola trará um abre-alas grandioso e acoplado em tons azul e verde. Uma grande escultura de Iemanjá carregará, nos braços, o orixá Omolu recém-nascido. A coroa virá composta por conchas do mar. Muitos cavalos marinhos ornamentam o belo carro.

2º SETOR: Obaluaiê e o calor da Terra

Jorge Caribé: “No segundo setor, falamos de calor e quentura, pois Omolu é o senhor da febre. Então, falamos de toda a quentura do Sol e da Terra e sobre as doenças endémicas. Temos o grande carro do feiticeiro vermelho”.

A segunda alegoria da agremiação, composta por palha, tem predominância dos tons do material e do vermelho. A curiosidade do carro é em relação à saia, adereçada por latinhas de cerveja.

3º SETOR: Ninguém vive só

Jorge Caribé: “O terceiro setor é sua grande família. Vem todos os orixás da família de Omolu: Nanã, sua mãe biológica; Oxumarê; Ossain; Irocko; e Yewá, sua esposa”.

O terceiro carro será o mais colorido do Império. O grande arco-íris de Oxumaré estará presente, além de todos os orixás da família de Obaluaiê.

Escultura do terceiro carro. Foto: João Carlos Martins.

4º SETOR: O povo em busca de agradecimento lhe oferece o Olubajé

Jorge Caribé: “Fechamos o quadro com o banquete para o rei. As oferendas, as comidas, as bebidas e a grande festa que é o castelo real de Omolu. Ao final, depois de isso tudo acontecer, os ventos de Iansã vem pra soprar e levar as mazelas, as mágoas e o ódio. Levar também todo o peso desse Carnaval da crise. Vai ser um grande Ebó na Marquês de Sapucaí”.

A escola encerrará o Carnaval com o carro do banquete. Alguidares repletos de pipoca e esculturas de negras compõem a alegoria.

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