Barracões SRzd: com novo carnavalesco, Salgueiro prepara forte desfile sobre mulheres negras

Alex de Souza. Foto: Reprodução/Facebook

Alex de Souza é o carnavalesco do Salgueiro. Foto: Reprodução/Facebook.

O Salgueiro está como gosta para o Carnaval 2018: enredo afro e desfila na segunda-feira, dois ingredientes que podem levar a agremiação ao lugar mais alto do pódio na quarta-feira de cinzas. Para isso, a escola investiu em Alex de Souza. O novo carnavalesco conversou com o SRzd a respeito dos preparativos para o grande dia e afirmou trazer um desfile forte em homenagem às mulheres negras.

Apesar do Salgueiro não ter autorizado entrada no barracão e fotos, pôde se ter uma noção do que vem por aí. Com fantasias em processo de entrega aos desfilantes e perspectiva de encerramento da produção de alegorias até o fim de janeiro, Alex de Souza está confiante num bom trabalho e mira o campeonato.

Temos que ficar de olho contra os racistas, os misóginos, os homofóbicos, os reacionários…

“É um enredo dedicado às mulheres, que tem um apelo muito forte de uma escola que sempre fez questão de mostrar representatividade negra de maneira muito incisiva. Num ano de política, temos que ficar de olho contra os racistas, os misóginos, os homofóbicos, os reacionários… então, é o Salgueiro mais uma vez batendo tambor e batendo cabeça em homenagem à raça negra através do viés feminino”, afirmou o carnavalesco.

Como será o desfile do Salgueiro?

Com o enredo “Senhoras do Ventre do Mundo”, a agremiação do Andaraí será a quarta a desfilar na segunda-feira do Grupo Especial. A escola virá com 6 alegorias, 1 tripé e 34 alas. Alex disse ser esse o maior desfile que já preparou na carreira, apesar disso, revelou que não terá acoplamento de chassis distintos para compor alegoria: “Não temos carros acoplados, como dois chassis, mas temos um acoplamento na parte frontal do abre-alas”. Outro segredo contado por Alex de Souza foi em relação à fantasia da rainha de bateria Viviane Araújo. A beldade virá de rainha egípcia, no segundo setor da escola.

Cada alegoria e cada setor tem uma cartela de cores que não enjoa.

No que se refere às cores, veremos um Salgueiro colorido, mas sem deixar de lado sua principal marca: o vermelho. O carnavalesco contou que teve o cuidado de utilizar cartela de cores diferentes em cada setor. “O vermelho é fundamental, porque é luta, é paixão, é Salgueiro. Teremos uma gama de cores análogas ao vermelho, como o laranja, o rosa, o roxo, o marrom, o vinho. Ao lado disso, temos o ouro, o preto, o branco, o amarelo. Algumas cores neutras, como o bege, o marrom. Eu digo que está bem variado. Cada alegoria e cada setor tem uma cartela de cores que não enjoa”.

Que materiais foram utilizados?

Num ano de dificuldades financeiras, o Salgueiro surpreendeu com o conjunto de fantasias comerciais. Muita gente se perguntou como a agremiação conseguiu, com poucos recursos, obter o luxo nos figurinos. O carnavalesco Alex de Souza explicou o trabalho realizado:

“Elas são muito detalhadas e tem o recurso de materiais com texturas, que dão ao olhar uma riqueza maior que a riqueza do valor do material. Há plumas, mas, de resto, os materiais são comuns e os mesmos utilizados por todas as escolas. A colocação dos materiais e das cores é o que passa uma imagem de luxo.”

A respeito de como driblar a crise e a escassez de materiais, o carnavalesco deu exemplos de substituições que contribuíram para baratear o processo. Alex deixou claro que as soluções ‘alternativas’ não alteraram o brilho e a beleza do desfile do Salgueiro.

“Tem um material que é muito simples e barato, que se chama veludine, e foi muito utilizado esse ano em alegorias. Dá um efeito tão bacana quanto um feltro, que é mais caro. Eu tenho uma estamparia que vem dos livros das escritoras. Os trechos das páginas dos livros estão presentes tanto em alegorias quanto fantasias. Tem um plástico que parece alumínio e não é. Você fazendo um trabalho nele causa um efeito metálico muito interessante”, revelou.

Qual a setorização da apresentação?

ABERTURA

Alex de Souza: “A primeira parte está ligada a uma questão espiritual e científica. Abordamos a grande Mãe Negra, o princípio feminino da criação do mundo dentro da fé de cultos de matrizes negras. Essa Grande Ya vermelha, mãe vermelha que é a própria Terra, vai formar a raça humana. No lado científico, mostra-se que a evolução da espécie humana surge no continente africano. Nessa evolução, a gente revela um dos fósseis mais antigos encontrados, que os cientistas deram o nome de Lucy, considerada uma Eva africana”.

1º SETOR

Alex de Souza: “Depois disso, a gente vai mostrando as rainhas africanas que fizeram história há milhares de anos. Uma delas, a própria rainha de Sabá. Depois, a linhagem das rainhas Candaces”.

2º SETOR

Alex de Souza: “Entramos na terra negra Kemet, que é o Egito, onde as rainhas são conhecidas como deusas”.

3º SETOR

Alex de Souza: “Falamos das guerreiras, tanto na África quanto no Brasil. Temos a rainha Nzingha de Angola, a Yaa Asantewa dos Ashanti… e chegamos às líderes dos quilombos, como Tereza de Benguela no quilombo do Quariterê. Tem Maria Filipa, que foi uma das que lutou junto com os baianos pela independência do Brasil, para expulsar os portugueses. Luiza Mahin, líder da Revolta dos Malês…”.

4º SETOR

Alex de Souza: “Já no Brasil, a gente mostra essa mulher que é empreendedora, como as vendedoras de frutas e quitutes. Também aquela que cuidou do filho do senhor, que deu a nossa língua palavras africanas…”.

5º SETOR

Alex de Souza: “Entra também a parte espiritual. Aquela que sabe do poder das folhas, da cura, dos feitiços. Aquela que cria as irmandades negras e une os negros”.

6º SETOR

Alex de Souza: “Na parte final, temos aquelas que deixaram seu legado através dos livros. Escritoras, doutoras, militantes… Encerramos também com aquelas que fizeram a história do Salgueiro, negras ou não”.

Acompanhe a série ‘Barracões SRzd’

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