Pelas bandas da Francisco Bicalho, não tem essa de “treino é treino, jogo é jogo”, todo dia é dia de jogo para a Unidos da Tijuca. Mesmo sem fantasia e alegoria, a comunidade do Borel incorpora o espírito de desfile e não dá brechas para erros. Quesito por quesito, a escola demonstra a competência que se tornou sua característica nos últimos anos. Parece que as duas temporadas fora das campeãs se tornaram combustível de força para o pavão comemorar bastante no fim da Quarta-feira de cinzas.
No dia 24 de janeiro, o De olho no ensaio acompanhou de perto a competência, técnica e motivação que imperaram no treino da Tijuca. Após um discurso entusiasmado do diretor de Carnaval e Harmonia, Laíla, no qual exaltou a excelência no trabalho da bateria e do carro de som, o ‘jogo’ começou no tom de seriedade e a comunidade não ‘perdeu um lance’.
Fernando Horta acompanha de perto a preparação nos arredores do Santo Cristo, o presidente faz questão de estar próximo a sua escola: “Enquanto eu estiver na frente da Unidos da Tijuca, a minha comunicação será sempre a mesma. Eu acompanho os ensaios, vou ao barracão, estou sempre junto da minha comunidade. Dinheiro eu não posso dar a eles, então dou todo carinho e isso compensa para que ela faça um grande Carnaval na Avenida”.
O mandatário declarou que o segredo é ter tudo planejado para ficar pronto na hora certa, e fez uma crítica à prefeitura pelo descaso com a folia carioca: “Vamos colocar o Carnaval na rua mais uma vez com grande sacrifício. O samba jamais acaba, eu não tinha nascido e ele já existia, eu vou morrer e ele vai continuar. Agora, a produção dos desfiles pode acabar se essas autoridades não abrirem o olho”, disparou.
Não tem jeito, se alguns críticos duvidam da composição tijucana, os componentes respondem no gogó. De ponta a ponta, o canto é o mesmo: alto, forte e coeso. É incrível como a obra não perde a força em nenhuma das alas no ensaio, seja coreografada, baianas, passistas ou bateria. A ordem na azul e amarelo é cantar. Wantuir é um dos maiores responsáveis pelo bom rendimento do samba. A conexão entre o intérprete e o pavão do Borel é latente.
A escola dá um show quando o assunto é técnica. O treino tem duração aproximada de 1h30 e é comandado pela experiente equipe de harmonia da Tijuca. O desfile se desenvolve com a mesma fluidez do dia oficial. Há pausas até para apresentação da comissão de frente do coreógrafo Jardel Lemos, que não estava presente. Os componentes evoluem de forma tranquila e precisa, não há buracos nas alas e se nota uma explosão forte nos versos finais da obra. É dificil destacar um único ponto positivo em tantos bons quesitos.
“O canto da Tijuca sempre foi forte, já o volume depende do samba. Esse ano temos uma obra muito bonita, então as pessoas caem mais pra dentro, cantam mais. Aqui procuramos trabalhar uma evolução melhor, e isso a gente vai construindo a cada ensaio. O segredo dessa técnica é a sintonia da equipe. O Hélcio Paim, responsável por colocar os carros, nos dá essa liberdade de vir puxando a escola, não há pausas longas e isso dá a fluidez do desfile”, declarou Fernando Costa, dupla de Laíla na direção de Harmonia e Carnaval, quando questionado sobre tamanha maestria do chão tijucano.
Ponto forte das apresentações da escola nos últimos 10 anos, a bateria Pura Cadência já provou sua eficiência nas notas, e, como vinho, a cada ano só melhora. É incrível como o trabalho executado por mestre Casagrande alcançou uma plataforma que beira a perfeição. Com bossas extremamente melódicas e uma sustentação rítmica impressionante, os músicos tijucanos estão preparados para gabaritar o quesito mais uma vez.
Mais do que perceptível, a sintonia entre o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Tijuca merece ser reconhecida. A dupla, que se apresentará junta depois de anos em 2019, esbanja classe e garra em um bailado pra lá de maduro. Alex Marcelino e Raphaela Caboclo têm tudo para conquistar os décimos perdidos pelo quesito no último desfile e fechar os desejados 40 pontos.
Vindo de um pós-Carnaval de premiações, Raphaela ainda se surpreende com o acolhimento na agremiação: “Nem nos meus melhores sonhos eu teria imaginado uma recepção, um cuidado e um carinho tão grande. Apesar de eu ter vindo de um Carnaval que posso chamar de melhor da minha vida, ainda estou engatinhando em meio a tantos nomes que passaram aqui, mas, ainda sim, todos me respeitam demais”.
“Nós temos, desde o primeiro contato em 2007, uma sintonia muito grande. Mas lá éramos garotos, hoje eu sinto uma maturidade maior, não tínhamos essa experiência. Dançamos com mais tranquilidade para desenvolver e concluir os movimentos. Até no caso de desentendimentos, mantemos a calma e resolvemos. Esse reencontro não poderia ter ocorrido em um momento melhor”, analisou Alex Marcelino, que se apresentou com Jack Pessanha no último ano.
Sobre os olhos atentos de Laíla e Fernando Costa, o grande contingente presente no ensaio voltou pra casa com a sensação de dever cumprido, tendo a consciência da capacidade real de trazer o título para agremiação azul e amarela. A Tijuca apresentará o enredo “Cada macaco no seu galho. Ó, meu Pai, me dê o pão que eu não morro de fome!”, desenvolvido pela comissão de Carnaval.
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