De olho no ensaio: a força de um grande samba impulsiona comunidade da Mangueira

Não é novidade que os desfilantes da verde e rosa são completamente apaixonados pela escola. Mas, quando eles se sentem felizes e abraçam o samba, não há quem segure. A comunidade é incansável quando o assunto é exaltar e apoiar uma obra que retrate a si mesmo. Os “heróis de barracões” do morro de Mangueira mostram a força que uma grande obra tem em uma das escolas mais tradicionais do Carnaval carioca.

Nos últimos anos, foi perceptível que em algumas agremiações a comunidade ‘fazia o samba acontecer’. O De olho no ensaio presenciou o treino da Estação Primeira e destaca o poder que a composição exerce na preparação da última quinta-feira. Sob batuta de uma equipe musical pra lá de experiente, a agremiação ensaiou durante aproximadamente 1 hora nos arredores da estação de trem do Maracanã.

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De olho no ensaio da Mangueira (24 de janeiro). Foto: SRzd

Meu dengo a Mangueira chegou

Desde sua escolha, a composição de Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino causa um misto de dúvidas e aclamações pelos apaixonados por sambas de enredo. No ensaio, a obra se apresenta com um excelente rendimento e não perde a força, fruto do bom trabalho desenvolvido pelo carro de som comandado pelo intérprete Marquinho Art’Samba.

“A gente encara como mais um desafio de um novo Carnaval. O samba realmente é diferente, ele não tem as características usuais de samba-enredo e, por isso, ele acaba sendo diferenciado, sem ser também por sua qualidade. Mas há um contraponto, o outro lado da balança, que é onde a gente procura equilibrar o canto e a respiração diferente junto com a harmonia. É um conjunto harmônico mais calçado de baixos, um canto mais livre sem tantos cacos para não poluir o samba”, explicou o diretor musical Alemão do Cavaco.

O músico destacou a qualidade da nova equipe e garantiu a sintonia como fator crucial para o bom resultado: “É uma direção nova. O carro de som foi modificado, mas algumas pessoas estão desde a minha primeira gestão como diretor. A bateria ainda é a bateria do morro, e o fato do Wesley não ter vindo de fora ajuda, pois é uma filosofia nova dentro de uma mesma bateria”.

De olho no ensaio da Mangueira (24 de janeiro). Foto: SRzd

Comandada pela comissão de Carnaval e harmonia da escola, a evolução da Estação Primeira se desenvolve no ensaio baseada na fluidez do desfile. Os componentes evoluem durante todo o samba e explodem nos versos finais da obra, principalmente na hora do “paradão” da bateria no trecho que encerra a composição.

Moacyr Barreto, um dos diretores da comissão de Carnaval, acredita que o trabalho deve estar pronto para o dia oficial: “A gente está trabalhando muito. Nosso carnavalesco não está aqui, pois ainda está no barracão. Estamos no caminho, trilhamos uma proposta e vamos seguindo. Começamos com os ensaios de canto, agora apostamos na rua para entender melhor o que precisa ser modificado, e vamos crescendo. Temos a consciência que tem que estar tudo pronto na Sapucaí em Março”.

O desempenho da comunidade é muito forte nas primeiras alas e nas próximas à bateria, o que escancara uma diferença no volume para as últimas do desfile. Destaque para as passistas, que esbanjam samba no pé e simpatia para o público presente. Renan Oliveira e Débora de Almeida também abrilhantaram o ensaio. A dupla, madura e entrosada, é responsável pelo segundo pavilhão da verde e rosa.

De olho no ensaio da Mangueira (24 de janeiro). Foto: SRzd

Bateria da casa colhendo frutos

Uma das apostas da agremiação para o Carnaval de 2019 é a estreia de Wesley à frente da bateria ‘Tem que respeitar meu tamborim’. Com bossas ousadas e um “paradão” no trecho final do samba, os ritmistas da Mangueira demonstram um bom entrosamento e vontade de conquistar os tão sonhados 40 pontos. A convenção melódica que faz alusão à uma banda militar nos versos “Salve os caboclos de Julho…” é sucesso na escola.

À frente dos ritmistas, Evelyn Bastos é referência para as meninas da comunidade que sonham com um futuro diferente por meio do samba no pé. A rainha não vai embora até responder e atender a todos os tietes, em sua maioria crianças, no fim do ensaio. Incansável, a majestade samba e apresenta os ritmistas sem perder o fôlego durante o treino.

De olho no ensaio da Mangueira (24 de janeiro). Foto: SRzd

Não é novidade também que Evelyn se posiciona sem medo de críticas. Quando questionada sobre o motivo do samba mexer tanto com os componentes, a rainha foi taxativa: “Acho que antes de posição política, a gente tem uma condição social, e a nossa condição social liga a gente no samba. Acaba que a comunidade abraça muito essa obra, pois tem muito a ver com o que vivemos, nossa realidade, nosso dia a dia. Muito embora as pessoas tenham trazido a questão politica pra dentro da Mangueira, a gente tem que frisar que o nosso enredo é social antes de ser político”.

Com exceção do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e da comissão de frente, esse ano comandada pelo coreógrafos Rodrigo Negri e Priscila Motta, a Estação Primeira ensaiou com todos os segmentos para se apresentar no Carnaval 2019, quando defenderá o enredo “História pra ninar gente grande”, desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira.

De olho no ensaio da Mangueira (24 de janeiro). Foto: SRzd

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