Neste domingo, dia 26, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizou a 89a edição do Oscar, no Dolby Theatre em Los Angeles. A cerimônia aconteceu com críticas ao presidente americano, uma surpresa e uma gafe histórica e imperdoável, que anunciou “La La Land – Cantando Estações” (La La Land – 2016) como vencedor da categoria de melhor filme, no lugar de “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (Moonlight – 2016).
Como uma maneira de homenagear o 50o de “Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas” (Bonnie and Clyde – 1967), a AMPAS convidou Warren Beatty e Faye Dunaway para apresentar a categoria principal, a de melhor filme. Eis aí a gafe imperdoável que entrou para a história da instituição: em tom de brincadeira, o ator parecia não entender o que estava escrito no envelope para conceder suspense ao anúncio, uma vez que a disputa estava acirrada entre três dos nove concorrentes – “Estrelas Além do Tempo” (Hidden Figures – 2016) e os já citados “La La Land – Cantando Estações” e “Moonlight: Sob a Luz do Luar”. Com isso, o ator passou o envelope à Dunaway que, apressada, anunciou “La La Land – Cantando Estações”. Com a equipe no palco, já agradecendo, a confusão foi esclarecida: o envelope entregue aos atores era o do prêmio de melhor atriz, cuja vencedora foi Emma Stone por “La La Land – Cantando Estações”. Warren Beatty se desculpou, mas a incredulidade tomou conta tanto da equipe quanto da plateia.
Além da gafe, a noite foi marcada pelo alto teor político contra o presidente americano Donald Trump. O apresentador Jimmy Kimmel começou seu monólogo em tom de brincadeira e lembrando sua estreia na função, mas adotou o tom sóbrio para falar da atual situação de seu país. “Essa cerimônia está sendo assistida por milhões de americanos e por 225 países que agora nos odeiam. Como vocês sabem – não preciso dizer a ninguém – o país está dividido agora. Tenho recebido muitos conselhos. As pessoas têm me dito: ‘É hora de reunir a todos. Você precisa dizer alguma coisa para nos unir. Vamos pegar algo direto do topo, eu não sou – eu não posso fazer isso. Só há um Coração Valente nesta sala e ele não vai nos unir também, ok. Mel, você está ótimo”, disse o apresentador para logo em seguida retomar o tom sério. “Eu não sou o homem para unir este país, mas isto pode ser feito. Você sabe, se cada pessoa assistindo a este show – eu não quero ficar muito sério, mas há milhões e milhões de pessoas assistindo agora, e se cada um de vocês gastar um minuto para falar com uma pessoa com quem você discorda, alguém que você goste, e ter uma conversa positiva, atenciosa, não como liberais ou conservadores, mas como os americanos. Se todos nós fizermos isso, poderemos fazer a América grande de novo – nós realmente podemos. Começa com a gente”, completou.
Dentre os discursos, um dos que mais se destacaram foi o da presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, que falou também sobre as medidas de inclusão adotadas pela instituição no último ano devido à polêmica do chamado “Oscar So White” em 2016. “Vocês são parte de uma comunidade que existe há um século. Não apenas uma comunidade de Hollywood ou dos Estados Unidos, mas global, que abriga contadores de histórias nacionais e internacionais, ficando mais inclusiva e diversa com o passar dos dias. Estou orgulhosa de ser parte da evolução desta arte e de ver todos esses novos rostos entre os indicados do ano. Esta noite é a prova de que a arte não tem fronteiras, linguagem única nem pertence a uma só fé. O poder da arte transcende a tudo isso. E como resultado, todos os artistas criativos do mundo estão ligados com um elo indestrutível que é poderoso e permanente. Da mesma forma que os homenageados de hoje estão ligados por um elo, os filmes que amamos, os que realmente importam, independente de seus países de origem, falam sobre a condição humana, os valores, tristezas, alegrias e paixões que todos compartilhamos. Essa é a magia do cinema. E é isso o que celebramos esta noite”, disse a presidente.
Mas, na América de Trump, o primeiro prêmio da noite foi entregue a um homem negro, nascido e criado em família cristã, convertido ao Islamismo: Mahershala Ali, agraciado com a estatueta de melhor ator coadjuvante por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”. No longa, ele interpreta um traficante que se torna a figura paterna de um menino que sofre tanto com o bullying dos colegas de escola quanto com a dependência química da mãe, enquanto tenta entender sua sexualidade e encontrar seu lugar num mundo repleto de preconceitos e privações. Dirigido por Barry Jenkins, o filme também venceu a categoria de roteiro adaptado.
O prêmio de Mahershala Ali já era esperado, assim como o de Viola Davis por “Um Limite Entre Nós” (Fences – 2016). Uma das melhores atrizes da atualidade, Davis foi ovacionada pela plateia e subiu ao palco bastante emocionada. “As pessoas me perguntam o tempo todo, ‘que tipo de histórias você quer contar, Viola?’ E eu digo exume esses corpos. Exume essas histórias. As histórias de pessoas que sonharam grande e nunca viram seus sonhos se realizarem. Pessoas que se apaixonaram e perderam. Me tornei artista – e graças a Deus eu fiz isso – porque nós somos a única profissão que celebra o que significa viver uma vida”, disse a atriz, conhecida por seus discursos memoráveis, exaltando ainda seus familiares e colegas de elenco, especialmente Denzel Washington, a quem chamou de “capitão”.
Outros dois prêmios considerados certos foram os de direção para Damien Chazelle e atriz para Emma Stone, ambos por “La La Land – Cantando Estações”. Assim como Davis, sua colega de elenco em “Histórias Cruzadas” (The Help – 2011), Stone subiu ao palco muito emocionada. “Um momento como esse acontece através de sorte e oportunidade”, disse a atriz ao receber seu primeiro Oscar. Considerado o queridinho da temporada de premiações, “La La Land – Cantando Estações” venceu seis das 14 estatuetas a que concorria, tornando-se o grande vencedor da festa deste ano, mesmo perdendo a categoria principal, conforme dito anteriormente.
No entanto, a maior surpresa do Oscar 2017 foi a vitória de Casey Affleck como melhor ator por “Manchester à Beira-Mar” (Manchester by the Sea – 2016). Favorito ao Golden Boy desde o início da temporada, o irmão mais novo de Ben Affleck viu sua campanha ao prêmio da AMPAS sofrer com o baque da derrota no SAG Awards, o principal termômetro da categoria, para Denzel Washington por “Um Limite Entre Nós”. Por esta razão, o nome de Washington no envelope era tido como certo, até mesmo pelo ator que não escondeu sua insatisfação ao ver Affleck no palco.
Dentre os nove concorrentes à categoria principal, apenas três não levaram nenhuma estatueta: “A Qualquer Custo” (Hell or High Water – 2016), “Lion – Uma Jornada Para Casa” (Lion – 2016) e “Estrelas Além do Tempo” (Hidden Figures – 2016), cujo elenco principal dividiu o palco com a matemática e computador da NASA, Katherine G. Johnson (interpretada no longa por Taraji P. Henson), para entregar o prêmio de melhor documentário.
A 89o cerimônia do Oscar representa ainda o perdão da indústria a um de seus maiores astros, Mel Gibson, que estava na disputa da estatueta de melhor direção por “Até o Último Homem” (Hacksaw Ridge – 2016). Na geladeira hollywoodiana há muitos anos por causa de escândalos pessoais, o vencedor do Oscar de filme e direção por “Coração Valente” (Braveheart – 1995) recuperou o prestígio e o respeito, retornando ao panteão da indústria com uma obra baseada em fatos reais, mas de forte teor religioso em meio ao horror da Segunda Guerra Mundial.
Não é de hoje que a AMPAS tem a preocupação de dar mais agilidade à cerimônia para conquistar a audiência do público jovem, o que explica algumas pitadas de informalidade e inovações. A principal delas, nesta edição, foi a substituição do tradicional monólogo de abertura pela performance musical de uma das canções indicadas. E a escolhida para abrir a noite mais importante do cinema mundial foi “Can’t Stop the Feeling”, de “Trolls” (Idem – 2016). Esta concorrente foi defendida por Justin Timberlake, que colocou a plateia para dançar, quebrando a seriedade e formalidade inerentes a esta premiação.
No geral, o Oscar 2017 aconteceu conforme o previsto, buscando democratizar o prêmio e mostrando as medidas inclusivas adotadas pela AMPAS no último ano. Foi uma noite de festa, marcada pela emoção e que teve uma pequena dose de Brasil com as participações de Lázaro Ramos e Seu Jorge em um dos clipes exibidos, bem como a homenagem a Hector Babenco no clipe In Memoriam.
Confira a lista completa de vencedores do Oscar 2017:
Melhor filme:
– “Moonlight: Sob a Luz do Luar”.
Melhor direção:
– Damien Chazelle – “La La Land – Cantando Estações”.
Melhor ator:
– Casey Affleck – “Manchester à Beira-Mar”.
Melhor atriz:
– Emma Stone – “La La Land – Cantando Estações”.
Melhor ator coadjuvante:
– Mahershala Ali – “Moonlight: Sob a Luz do Luar”.
Melhor atriz coadjuvante:
– Viola Davis – “Um Limite Entre Nós”.
Melhor roteiro original:
– Kenneth Lonergan – “Manchester à Beira-Mar”.
Melhor roteiro adaptado:
– Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney– “Moonlight: Sob a Luz do Luar”.
Melhor animação:
– “Zootopia – Essa Cidade é o Bicho” (Zootopia – 2016).
Melhor filme estrangeiro:
– “O Apartamento” (Forushande – 2016, Irã).
Melhor fotografia:
– Linus Sandgren – “La La Land – Cantando Estações”.
Melhor edição (montagem):
– John Gilbert – “Até o Último Homem”.
Melhor design de produção:
– David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco – “La La Land – Cantando Estações”.
Melhor figurino:
– Colleen Atwood – “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (Fantastic Beasts and Where to Find Them – 2016).
Melhor maquiagem e cabelo:
– Alessandro Bertolazzi, Giorgio Gregorini e Christopher Nelson – “Esquadrão Suicida” (Suicide Squad – 2016).
Melhor trilha sonora:
– Justin Hurwitz – “La La Land – Cantando Estações”.
Melhor canção original:
– “City of Stars” – “La La Land – Cantando Estações”.
Melhor mixagem de som:
– Kevin O’Connell, Andy Wright, Robert Mackenzie e Peter Grace – “Até o Último Homem”.
Melhor edição de som:
– Sylvain Bellemare – “A Chegada”.
Melhor efeitos visuais:
– Robert Legato, Adam Valdez, Andrew R. Jones e Dan Lemmon – “Mogli – O Menino Lobo” (The Jungle Book – 2016).
Melhor documentário:
– “O.J.: Made in America” (Idem – 2016).
Melhor documentário (curta):
– “The White Helmets” (Idem – 2016).
Melhor animação (curta):
– “Piper” (Idem – 2016).
Melhor curta:
– “Sing” (Idem – 2016).
Leia também:
– Especial Oscar 2017: Categoria de melhor filme
– Especial Oscar 2017: Categoria de melhor direção
– Especial Oscar 2017: Categoria de melhor ator
– Especial Oscar 2017: Categoria de melhor atriz
– Especial Oscar 2017: Categoria de melhor ator coadjuvante
– Especial Oscar 2017: Categoria de melhor atriz coadjuvante
– Oscar 2017: ‘La La Land – Cantando Estações’ lidera com 14 indicações
Confira algumas fotos oficiais do Oscar 2017:
A dupla sertaneja Jorge e Mateus se apresentava, na última sexta-feira (17), em Lavras (MG), quando um fã jogou o…
Sétima colocada no Grupo de Acesso 2 de São Paulo neste ano, a escola de samba Camisa 12 anunicou o…
Figura conhecida nos programas de Silvio Santos, Gonçalo Roque foi internado neste sábado (18), após desmaiar em um restaurante. Após…
As vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul já podem pedir a segunda via dos documentos perdidos. Todos os…
A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo definiu, na noite deste sábado (18), a ordem dos desfiles…
O cineasta Toni Venturini, de 68 anos, morreu, neste sábado (18), após passar mal enquanto nadava em uma praia em…