Rodrigo Pacheco quer ser presidente da Liesa: ‘Hora de um trabalho jovem. Ficamos parados no tempo’

Rodrigo Pacheco. Foto: SRzd

Trabalhando para a Mocidade Independente de Padre Miguel desde 2014, Rodrigo Pacheco agora quer “arregaçar as mangas” em prol de mais 13 agremiações. Recém-eleito vice-presidente da verde e branco da Zona Oeste por mais quatro anos, o mandatário está pronto para um novo pleito e lançou sua candidatura para ser presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa).

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Aos 34 anos, Pacheco mistura a pouca idade – comparado aos antigos gestores da liga – com a experiência intensa de Carnaval. Além dos últimos cinco anos de alta dedicação à verde e branco, lá atrás, mais jovem ainda, Rodrigo já foi representante de ala da escola, diretor de departamento administrativo, vice-presidente de ala na Portela, desfilante da Unidos de Padre Miguel e fez parte do grupo que assumiu a Mocidade 28 dias antes do desfile de 2014 e iniciou o resgate da agremiação que, três anos depois, foi campeã do Grupo Especial.

Em conversa com o SRzd, o candidato à presidência da Liesa, que já conta com o apoio de Salgueiro, Grande Rio, São Clemente e Estácio de Sá – além da própria Mocidade e da Imperatriz, caso permaneça no Especial – elencou tudo que fez o mandatário querer se lançar ao novo desafio. Para Rodrigo Pacheco, o modelo do Carnaval “ficou parado no tempo” e é hora de um trabalho “mais jovem, moderno e usual”.

Atual vice-presidente da Mocidade lançou sua candidatura à presidência da Liesa. Foto: SRzd

Motivo da candidatura

“Não é de hoje que eu venho batendo na tecla de que o Carnaval precisa ser repensado, como um todo. Diante de todo esse cenário, reafirma em mim a questão de que é a hora de pensar novamente em um trabalho mais jovem, moderno, usual, um trabalho que seja o que o mercado exige. Não tiro os méritos do Castanheira e de todos os gestores que fizeram um trabalho muito bom, mas ficamos parados no tempo. Hoje, o Carnaval precisa se oxigenar, precisa de um reposicionamento de marca, para que a gente consiga se tornar autossustentável, para que não tenhamos essa dependência do poder público. Eu acho que eu consigo trabalhar em conjunto com as escolas e adequar tudo que precisa ser adequado.”

Propostas prioritárias

“Tudo acaba sendo prioridade, porque o tempo está passando e o Carnaval está parado. O espetáculo tem data e hora certa e não permite atraso. Tenho muita coisa em mente, mas algumas me incomodam bastante, como a venda de ingressos por fax. Temos que ter uma ferramenta mais acessível e moderna. A questão do julgamento também podemos melhorar. A gente precisa de um curso mais aprofundado. Uma data só, sem o quesito presente, acaba não tendo aquele contato. Quero montar pelo menos umas três datas para que o mestre de bateria, por exemplo, tenha contato com o julgador. Outra coisa: você não pode ficar um mês para digitalizar as justificativas dos jurados. Na Quarta-Feira de Cinzas fez a leitura das notas, na quinta-feira já solta as justificativas.”

Pacheco quer melhorar questão do julgamento dos desfiles. Foto: Reprodução

Recuperação da credibilidade da Liesa

“Temos que trabalhar pra ontem. Precisamos de um grande projeto de reposicionamento de marca, não é nada de uma hora pra outra, mas acho que eu tenho bom conhecimento pra isso. Quando assumimos a Mocidade, a escola estava negativada ao extremo, e ao longo dos anos a gente conseguiu reverter. Hoje, a Mocidade é uma marca consolidada no mercado, que vem crescendo cada vez mais e alcançando resultados por conta disso. Eu preciso que o folião, o pessoal que assiste das arquibancadas, que todo mundo acredite no Carnaval melhor.”

Verba do poder público

“Acho que nenhuma escola ficou com essa esperança depois do Carnaval. Começamos esse trabalho com uma parceria de R$ 2 milhões. O prefeito garantiu que ia continuar, mas cortou para R$ 1 milhão, depois para R$ 500 mil. Nós já sabíamos que a próxima tacada seria não ter nada. Fico chateado com a forma com que ele expõe isso. Ele diz que o Carnaval não acrescenta em nada, o que não é verdade. Com a quantidade de turistas que a gente traz para a cidade, toda a movimentação gira em torno de serviços, e todo o tributo é recolhido pela prefeitura, que é o ISS. Tem até um estudo da Riotur que comprova o contrário do que ele fala. É hora de arregaçarmos as mangas e irmos atrás de novas parcerias e da iniciativa privada, para que as escolas sintam o mínimo possível essa perda de receita.”

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Crivella reduz em 75% a subvenção dada às agremiações desde que assumiu a prefeitura. Foto: Reprodução

Participação de líderes da nova geração

“Nesse último ano, o Gabriel (David, da Beija-Flor), por exemplo, apresentou uma possibilidade muito interessante em relação ao marketing do Carnaval, era algo que eu acreditava muito, foi-se discutido, trabalhado, mas o presidente (da Liesa, Jorge Castanheira) não gostou muito da ideia e não quis levar à frente. Mas são ideias assim que a gente precisa. O mercado exige isso. Precisamos fazer com que a festa seja movimentada pela iniciativa privada.”

Privatização do Sambódromo e dos desfiles

“Não posso dizer se eu sou a favor ou conta, porque eu não vi a proposta. Pode ser muito bom, como também pode não ser. A única coisa que eu enxergo, em relação ao Sambódromo, é que algo dessa magnitude a Liesa e as escolas não podem ficar de fora. A gente não pode ficar sentado esperando se resolver, porque depois não tem como voltar atrás. De repente é bom, porque realmente as instalações da Sapucaí são muito ruins, a infraestrutura é péssima. Poder público tem dinheiro para investir? Não. Então, talvez a privatização seja o caminho. Mas enquanto não se resolver internamente a questão da liga, fica muito complicado para resolvermos outras coisas.”

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Sambódromo da Marquês de Sapucaí será privatizado, segundo o governador Wilson Witzel e o prefeito Marcelo Crivella. Foto: Cezar Loureiro/Riotur

Cidade do Samba

“Precisa ser ativada, culturalmente e economicamente. Hoje, a Cidade do Samba custa um valor muito alto para a Liesa. Obviamente, tudo que custa para a liga, acaba saindo das escolas. O local é um condomínio que as agremiações pagam para usar. Se criamos atividades que a gente consiga gerar receita, a gente vai conseguindo o que as escolas acabam tendo que investir na Cidade do Samba. Eu sei que um barracão custa caro. Então, se uma escola para de gastar com o cuidado da área comum, pode gastar mais dentro do barracão. Você, perto do Carnaval, tem uma conta de luz de R$ 25/30 mil reais, uma conta de água que bate R$ 20 mil.”

Virada de mesa

“Em 2017, a Mocidade foi a única escola contra. Eu fiz questão de registrar, naquela época, que estaríamos abrindo um precedente perigoso. E foi o que aconteceu. A minha linha de raciocínio sempre foi a mesma. Em 2018, nós fomos a favor porque é um direito adquirido. Por que que a Tijuca, que na época puxou o movimento, não poderia descer e o Império Serrano e a Grande Rio desceriam? Por que que a Grande Rio não desceu e a Imperatriz tem que descer? E digo mais: se fosse a Mocidade, eu estaria brigando também. Por que que a Mocidade tem que descer se lá atrás ninguém desceu?”

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Imperatriz caiu na apuração, mas luta para permanecer no Especial pelo voto dos dirigentes. Foto: Riotur

‘Desvirada’ de mesa e nova assembleia dia 10 de julho

“A Imperatriz contestou isso judicialmente, porque o Castanheira, como renunciou, não pode convocar uma nova assembleia. É algo jurídico que ainda vai se discutir, a gente só acompanha, mas, volto a dizer: essa reunião do dia 10 de julho para se discutir novamente o caso da ‘virada de mesa’… isso tem que ser matéria superada. Você ficar mexendo em torno disso é muito pior, só vai atrasar o processo e não resolver nada. Acho muito mais agressivo você enxergar uma matéria com ‘desvirada de mesa’ do que você pegar, tocar o barco pra frente e colocar as coisas nos seus devidos lugares.”

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Racha entre as escolas contra e a favor do rebaixamento da Imperatriz

“Você dentro de grupo sempre terá divergências de pensamento, mas isso é algo que conversando consegue resolver. Eu defendo que é algo que a gente precisa sentar e resolver entre a gente. Você nunca vai atender os anseios da totalidade. Acho que, hoje, o reflexo disso tudo é que perdeu-se o poder de diálogo. O Jorginho (Castanheira) não consegue mais conduzir esse diálogo interno, porque lá atrás ele cedeu. Acho que uma nova administração consegue resolver isso. Até porque não tem como ter dois carnavais e duas ligas.”

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Presidentes das agremiações estão divididos entre rebaixar ou não a Imperatriz para a Série A. Foto: Reprodução/TV Globo

Novo regulamento

“É hora de pensar em um novo regulamento e trabalhar isso. São 14 barracões. Com 14 escolas, descendo uma e subindo uma, conseguimos um espetáculo grandioso e sem esse conflito de interesses. O erro foi lá atrás. A partir desse momento do erro, não foi sentado e discutido um novo formato para que não houvesse mais erros. Assumindo, é sentar e botar as 14 escolas para pensar o regulamento e ajustar tudo para que lá na frente não tenha discussão.”

Afastamento da Mocidade caso seja eleito

“É algo que a gente ainda vai pensar devagar, porque eu não consigo fazer nada mais ou menos. Eu sou muito ativo e intenso em tudo. Se for para ficar 50% aqui e 50% lá, não vai dar. Eu sei que precisa de um dedicamento total e isso da minha parte, com certeza, vai ter. Na hora certa, eu consigo mapear e colocar a mão até onde eu alcanço.”

Rodrigo Pacheco comanda a Mocidade Independente desde 2014. Foto: Eduardo Hollanda

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