Por dentro do barracão: Beija-Flor volta a ser luxuosa e terá símbolo gigantesco no abre-alas

Detalhes do barracão da Beija-Flor para 2020. Foto: SRzd

Uma Deusa não anda mal vestida, muito menos passa despercebida por Avenida. Ela costuma gostar de luxo, brilho, requinte e opulência. Com a Beija-Flor não é diferente. Irreconhecível nos dois últimos carnavais, a escola prepara uma de suas mais belas produções para 2020. Um visual assinado por dois dos maiores carnavalescos de sua história, Alexandre Louzada e Cid Carvalho; e aquela boa e velha plástica que nos anos 2000 fazia Haroldo Costa dizer que ‘pra ganhar o Carnaval, tinha que ganhar da Beija-Flor’. De lá pra cá, é bom lembrar: ninguém ganhou mais que a Deusa na Passarela.

Por dentro do barracão, luxo, brilho, requinte e opulência. Tudo que a Deusa gosta, e o nilopolitano mais ainda. A grandiosidade também voltou, assim como o símbolo da agremiação. O abre-alas será acoplado e trará um gigantesco Beija-Flor articulado, como em 2007 e 2008. As fantasias são volumosas e impressionam pelo acabamento. Nos carros, predomina o dourado, o prata, o azul e o branco. Nos figurinos, o colorido.

CARA DE BEIJA-FLOR

Entrar no barracão da Beija-Flor é como entrar num túnel do tempo. É reviver aquela plástica que marcou história na Sapucaí e rever dois dos carnavalescos responsáveis por tudo isso. Cid Carvalho (1998-2006) e Alexandre Louzada (2007-2011) comandaram a época de ouro da azul e branca com a comissão de Carnaval. Juntos, eles acumulam sete títulos – metade do que a agremiação tem hoje. Em parceria inédita para 2020, Cid e Louzada buscam ‘rotas já trilhadas no passado’ e miram a décima quinta estrela.

Em reta final no barracão, a dupla reservou um tempo para conversar com o SRzd. Durante o bate-papo, a expressão mais repetida foi “as características da Beija-Flor”. Os carnavalescos estão mais empenhados em produzir um desfile a cara da escola do que ganhar o título na Quarta-Feira de Cinzas. Claro que a Beija-Flor quer ser campeã, mas o principal é resgatar a tradição da azul e branca e deixar o componente feliz com a apresentação na Avenida.

Detalhes do barracão da Beija-Flor para 2020. Foto: SRzd

“A Beija-Flor gosta de grandiosidade e luxo, mas não teremos uma escola carregada. É um luxo diferente, mais limpo. É claro que se tratando de algo grandioso, como a Beija-Flor, o desfile não fica barato. Mas a gente iniciou o projeto com esperança de ter patrocínio e isso não ocorreu. É uma vitória você conseguir fazer um Carnaval dessa maneira em um momento tão difícil. Era pra ser até maior, mas já teve muita puxada de orelha”, brincou Alexandre Louzada.

Sem patrocínio e subvenção da prefeitura, chega a ser surpreendente o nível do trabalho plástico da Beija-Flor. Os carnavalescos disseram ter apostado em soluções baratas, mas o efeito é de luxo e riqueza em cada detalhe de fantasia e carro alegórico.

“A gente dosou tudo. Gastamos mais em fantasias, porque quando começamos a fazer, a gente ainda tinha esperança de verba, então, se gastou um pouco a mais. Alegorias já fomos para algo mais medido. Tudo tem um orçamento e a Beija-Flor foi uma escola maravilhosa em questão de transparência. A gente sabia quanto podia gastar em cada carro. Buscamos soluções mais baratas. Foi um Carnaval controlado, mas sem perder as características de Beija-Flor”, explicou o carnavalesco.

FIQUE DE OLHO
ABRE-ALAS E CARRO QUATRO

Se a comunidade nilopolitana sentiu falta dos abre-alas acoplados, ela poderá matar a saudade na segunda-feira de Carnaval. Após cinco anos, a Beija-Flor volta a ter um primeiro carro grandioso: são dois chassis que juntos passam dos 40 metros de comprimento. E não para por aí: quem também voltou – e em grande estilo – foi o símbolo da agremiação. Um beija-flor gigantesco vem sobrevoando o primeiro carro, uma geleira que representa o primeiro caminho aberto pela humanidade.

“Quando eu vim para Beija-Flor, ela não tinha essa característica de trazer símbolo em abre-alas. Eu gosto de valorizar e fazer com que a escola conte o enredo. Nesse ano, ainda mais. É o beija-flor, que tem seu ninho na Sapucaí, que percorre as ruas da história e chega até a Avenida”, justificou Alexandre Louzada.

Outra alegoria que pode conquistar o público da Sapucaí é o carro de número quatro, que representa a fé nas ruas. Ele traz a escultura de uma santa que chega perto dos 25 metros de altura. De tudo que o SRzd já viu na Cidade do Samba, este será o carro mais alto do Carnaval. A alegoria também é a aposta de Alexandre Louzada.

Detalhes do barracão da Beija-Flor para 2020. Foto: SRzd

“Eu creio que o carro quatro é emblemático. Apesar de a gente fazer uma saudação à religião afro-brasileira no início, nós falamos de todas as religiões no quarto setor. E isso vem pra somar e criar um clima de harmonia entre todas as crenças, sem ferir as especificidades de cada uma delas”, disse o carnavalesco.

Em fantasias, a Beija-Flor tem totais condições de recuperar as notas 10 que tanto já tirou no quesito. Os figurinos se assemelham aos que a escola desfilava nos anos 2000, mas apresentam um luxo mais contido, sem exageros. Vale destacar o colorido e a criatividade das fantasias. As baianas, por exemplo, representarão o bicho-da-seda, de figurino rosa com flores e asinhas.

“Estamos em período de finalização. Concluindo 95% das alegorias. Temos cerca de 10 dias para terminar o carro seis, que também já está quase pronto. Estou tranquilo porque só temos praticamente isso para fazer. Faltam detalhes do carro cinco também. Mas tudo dentro do cronograma”, explicou Louzada.

O DESFILE

Primeiro setor: “Nossa narrativa começa quando o homem se pôs de pé e começou a abrir caminhos. Nosso primeiro momento é na era do gelo. Com o degelo, o homem pôde caminhar e procurar lugares mais férteis”.

Segundo setor: “Falamos do surgimento das civilizações. Existem registros anteriores aos povos sumérios, relatando de onde eles vieram e como desenvolveram técnicas para erguer palácios altíssimos, desenvolver o comércio e inventar a roda. Esse novo equipamento fez o homem abrir caminhos e traçar rotas, como a que ligava o Oriente ao Ocidente, pela Estrada Real Persa, que tinha como um dos objetivos a comercialização do âmbar. Também abordamos a Rota da Seda, até chegar na República e no Império Romano, com as características modernas de uma estrada de hoje, com caída para água pluvial. Assim encerramos nosso capítulo das rotas já trilhadas no passado, como diz o samba”.

Detalhes do barracão da Beija-Flor para 2020. Foto: SRzd

Terceiro setor: “A gente avança um pouco mais até a era dos descobrimentos, quando é revelado um novo caminho, não mais por terra, e sim pelo mar. O homem cria uma rota para as Índias e então descobre um novo mundo. Também descobriram que o Império Inca, nos Andes, já era todo interligado por estradas, de Machu Picchu a Quito. No Brasil, os bandeirantes pelas matas acabaram interiorizando nosso país. Mais tarde, se criou a Estrada Real, para o escoamento das riquezas de Minas Gerais. No Rio, a gente retrata o calçamento, com a primeira rua calçada, que foi a Ladeira das Misericórdias, que utilizou os pés dos escravos para assentar as pedras, o que foi chamado de pé de moleque”.

Quarto setor: “Nós mostramos que nem só pra viagem e caminhada servem as ruas e estradas. Também são um palco de manifestação de fé, com as religiões. São procissões, romarias e rituais, como a Lavagem do Bonfim, a peregrinação dos muçulmanos a Meca, a travessia dos judeus à cidade santa de Jerusalém até o Muro das Lamentações. Também falamos dos ciganos que tem a estrada como pátria, até a romaria de Nossa Senhora Aparecida, feita na maior parte pelos peões de boiadeiro”.

Quinto setor: “Passamos a falar das ruas mais famosas do mundo, que se transformam em cartões postais e muita gente conhece até sem ter ido visitar, de tão fotografadas que elas são. Como a Broadway, em Nova Yory; a Champs-Élysées, em Paris; El Caminito, em Buenos Aires; a Avenida Atlântica e a calçada de Copacabana, no Brasil; entre outras”.

Sexto setor: “Falamos das ruas que são lendárias, imaginárias, que a gente não tem como percorrer a não ser na nossa imaginação, como a Via Láctea, a Torre de Babel, o labirinto do Minotauro, a estrada de tijolos amarelos, o caminho pelo arco-íris para encontrar o pote de ouro, até a rua mágica dos nossos sonhos, que a Marquês de Sapucaí, o objetivo máximo de tudo aquilo que fazemos no ano. Essa rua é de cada um de nós no momento em que a escola entra na Avenida”.

Detalhes do barracão da Beija-Flor para 2020. Foto: SRzd

FICHA TÉCNICA

Enredo: Se essa rua fosse minha
Carnavalescos: Alexandre Louzada e Cid Carvalho
Posição: 6ª a desfilar na segunda-feira de Grupo Especial, 24 de fevereiro
Alegorias: 6
Tripés: 1
Alas: 38
Componentes: 3500

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