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Enfim, o Carnaval 2017: Comentários dos sambas-enredo

O ano de 2016 teve muita coisa para nos distrair a atenção: uma Olimpíada aqui no Rio de Janeiro, fato inédito, e uma disputada eleição municipal nos afastaram durante alguns meses da preocupação carnavalesca, ainda que não integralmente. Na Olimpíada, tivemos o show de criatividade da carnavalesca Rosa Magalhães; e, nas eleições, as escolas de samba, pela primeira vez, entraram nas preocupações dos candidatos, polarizando opiniões e colocando em geral dirigentes e sambistas em posições antagônicas, como se viu em algumas quadras.

Passados esses eventos do calendário civil, podemos a partir de agora nos dedicar inteiramente àquilo que é nossa paixão. Falta pouco para o Carnaval. Já temos, por exemplo, todos os sambas do grupo especial e da série A escolhidos. Ainda sem ter ouvido a gravação definitiva, creio que já podemos arriscar opiniões, ainda que provisórias. Aliás, como já tenho dito, minhas opiniões sobre sambas-enredo são sempre provisórias: há a escolha na quadra, depois vem a gravação no CD oficial, depois o desempenho nas quadras e nos ensaios técnicos e, finalmente, a Avenida. E a opinião às vezes vai mudando, nossas preferências se alterando.

A coisa não anda muito boa pro lado dos sambistas. A Portela perdeu seu presidente e sem ele houve tentativa de desestabilização da autoridade, com protestos quanto ao resultado da final. A Vila Isabel também andou às voltas com sérias dificuldades e corria até o risco de não desfilar, felizmente afastado.

Mas, apesar disso, os sambas da safra de 2017 não se ressentiram desses problemas. Tal como no Carnaval passado, a safra é bastante boa. Talvez porque, finalmente, as escolas de samba vão se conscientizando da importância de escolher bons sambas. É um excelente investimento.

Temos, de fato, bons sambas e acredito que no disco se apresentarão ainda com mais capricho do que nas gravações que conhecemos. A uma primeira audição, já tenho, é claro, algo a dizer sobre o que mais me agradou em alguns deles. Começo pelo que mais me encantou: o da Beija-Flor de Nilópolis. Que tremendo samba! Não segue a linha dos sambas que a escola tradicionalmente apresenta, ou seja, não parece um samba modelo Beija-Flor. Aborda muito bem o enredo e tem melodia linda e empolgante. Creio que permanecerá como meu predileto até o Carnaval.

No entanto, o samba da Mocidade tem um componente que sempre se atrai nos sambas, que é o fato de ser originário de um enredo não tão claro e linear quanto os compositores em geral preferem. Só que este “em geral” não se aplica a Altay Veloso e Paulo César Feital, duas feras consagradas e que parecem agora haver tomado gosto pelo gênero que antes não praticavam. O samba da Mocidade é poesia pura, fazendo o contraponto entre o Oriente e a Vila Vintém de uma forma encantadora.

O samba da Mangueira também agradou bastante. Com um enredo que não representava um desafio, pois trata de um terreno conhecido dos sambistas, em que pisam e transitam sem inibição, ele é, ao contrário dos dois citados acima, a cara da Mangueira e nem era preciso consultar a lista de compositores, onde aparecem figurinhas fáceis nos últimos sambas-enredo da escola, para perceber que não houve quebra de um paradigma que afinal tem dado certo.

Quanto à Portela, o samba não segue a linha melódica e a pegada dos últimos anos, mas se reporta a um passado mais distante. É a trilha de uma Portela vitoriosa de outrora, o que condiz muito com um enredo de caráter nostálgico como este. Pareceu-me um bom samba.

No mais, a Vila Isabel escolheu com acerto um samba forte, que passa muito bem por todos os ritmos da negritude disseminados pela diáspora africana, num feliz encontro de ritmos e instrumentos.

Se depender de samba, teremos um bonito Carnaval das escolas no ano que vem, mas, até lá, voltaremos a falar disso ainda muitas vezes, sempre incluindo novos aspectos que as audições vão acrescentando.

Rachel Valença

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