Na última terça-feira, dia 20, a Sony e a Disney causaram um imenso abalo sísmico na capital do cinema com o anúncio do fim do acordo que permitia que Peter Parker / Homem-Aranha continuasse no Universo Cinematográfico da Marvel (UCM). Os direitos do personagem criado por Stan Lee e Steve Ditko em 1962 pertencem à Sony, que, segundo a imprensa americana divulgou naquele dia, se recusou a aumentar a participação da Casa do Mickey nos lucros dos filmes protagonizados pelo Cabeça de Teia, que estrelou cinco live-actions sob o comando exclusivo da Sony nas últimas duas décadas, mas nenhum com o mesmo êxito de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” (Spider-Man: Homecoming – 2017) e “Homem-Aranha: Longe de Casa” (Spider-Man: Far From Home – 2019), ambos integrados ao UCM e produzidos em parceria com a Disney, que tinha todo o controle criativo dos projetos.
O “divórcio”, como tem sido chamado pela imprensa americana, foi inicialmente atribuído à tentativa da Disney de aumentar seu controle sobre o universo do Homem-Aranha, inclusive em relação a outros personagens, dentre eles, Venom, que ganhou um filme solo no ano passado, “Venom” (Idem – 2018), protagonizado por Tom Hardy. E isto incluía o aumento na participação nos lucros, deixando a Casa do Mickey com 50%, numa divisão igualitária com a Sony, que se negou a prosseguir com o acordo em tais termos. De acordo com o The Hollywood Reporter, os executivos dos estúdios chegaram a negociar 30% para a Disney e 70% para a Sony, que recusou a proposta, levando em consideração o bom resultado de “Homem-Aranha: Longe de Casa”, que se tornou a maior bilheteria da História da companhia, US$ 1,111 bilhão até a presente data, segundo o Box Office Mojo.
No entanto, o The Washington Post publicou na última sexta-feira, dia 23, uma matéria afirmando que a decisão partiu da Disney, pois o estúdio precisa se fortalecer para encarar os novos desafios impostos à indústria por empresas como a Apple, Netflix e outras companhias do Vale do Silício. “As empresas tradicionais sentiram que precisavam ficar maiores e mais fortes. O diretor-executivo da Disney, Bob Iger, percebeu isso especialmente e, no final de 2017, comprou a Fox e seus direitos de ‘X-Men’”, diz Steven Zeitchik, na matéria, lembrando que o acordo estabelecido em 2015 beneficiou os dois estúdios.
A Sony emitiu uma nota oficial ao The Hollywood Reporter, ainda na terça-feira, lamentando o fim do acordo e, consequentemente, a saída de Kevin Feige, chefão da Marvel / Disney, da direção criativa dos próximos live-actions do Homem-Aranha. “Muito das notícias de hoje sobre o Homem-Aranha descaracterizaram as discussões recentes sobre o envolvimento do Kevin Feige na franquia. Estamos decepcionados, mas respeitamos a decisão da Disney de não mantê-lo como produtor principal do nosso próximo filme em live-action do Homem-Aranha. Esperamos que isso possa mudar no futuro, mas entendemos que as muitas novas responsabilidades que a Disney entregou a ele — incluindo todas as recém-adicionadas propriedades da Marvel — não o deixam com muito tempo para trabalhar em propriedades intelectuais que não são deles. Kevin é fantástico e nós estamos gratos pela sua ajuda e orientação, e temos orgulho do caminho em que ele ajudou a nos colocar, a que vamos dar continuidade”, afirmou o estúdio.
O Deadline chegou a afirmar, na última terça-feira, que Tom Holland e Jon Watts tinham contrato para outros dois longas-metragens. Contudo, novas notícias têm sido divulgadas desde então, afirmando que o ator fará mais um filme e que o diretor não tem contrato para nenhum outro. De acordo com o que foi publicado pelo The Hollywood Reporter na última quarta-feira, dia 21, Holland está garantido apenas em “Homem-Aranha 3”, que ainda não tem título oficial nem lançamento definidos, enquanto Watts já cumpriu com suas obrigações contratuais na Sony.
O fim do acordo acaba por isolar o personagem na Sony, mas as consequências para ele só serão conhecidas a longo prazo porque nada foi dito sobre as possíveis mudanças e seu impacto no arco de Peter Parker. Se os estúdios não reconsiderarem o “divórcio”, o impacto também será sentido por personagens secundários da trama criada pelo UCM para o Amigo da Vizinhança, sobretudo dois bastante queridos pelo público: May (Marisa Tomei), tia de Peter, e Happy Logan, fiel escudeiro de Tony Stark / Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) que acabou assumindo a função de mentor e protetor do jovem em “Homem-Aranha: Longe de Casa”, filme ambientado logo após os acontecimentos de “Vingadores: Ultimato” (Avengers: Endgame – 2019). “Você nunca sabe o que vai acontecer. Estou esperançoso e otimista de que este não é o capítulo final da história entre estes personagens. Tia May e Happy eram quase um casal”, disse Jon Favreau na sexta-feira, dia 23, durante a D23 Expo, que acontece até domingo, dia 25, em Anaheim, Califórnia. Um dos nomes mais importantes do UCM, assumindo as funções de ator, diretor e produtor executivo de diversos títulos da Marvel produzidos pela Disney, Favreau completou: “Como ator, me diverti muito trabalhando com a Marisa (Tomei) e o Tom Holland”.
E Jon Favreau não foi a única personalidade a se manifestar sobre o “divórcio”. Parceiro de Tom Holland no UCM, Jeremy Renner, o Clint Barton / Gavião Arqueiro, postou em sua página oficial no Instagram falando à Sony que quer o Homem-Aranha de volta à Marvel. Ryan Reynolds, o Deadpool, foi questionado por uma seguidora no Twitter sobre um possível crossover entre seu personagem e o Homem-Aranha. “Sim, haverá. Mas você só poderá vê-lo no meu coração”, respondeu o ator.
Entrevistada pelo TMZ na última quinta-feira, dia 22, J.C. Lee, a filha de Stan Lee, manifestou seu apoio à Sony e disse que a obra de seu pai precisa de diferentes pontos de vista. “A busca da Marvel e Disney por controle total das criações do meu pai deve ser checada e equilibrada por outros que, mesmo buscando lucros, ainda têm respeito genuíno por Stan Lee e seu legado. Seja através da Sony ou mais alguém, a evolução contínua dos personagens e o legado de Stan merece múltiplos pontos de vista. Quando meu pai morreu, ninguém da Marvel ou Disney entrou em contato comigo. Desde o primeiro momento, eles comodificaram o trabalho do meu pai sem nunca mostrar respeito ou decência a ele e seu legado. No fim das contas, ninguém tratou meu pai de maneira pior que os executivos da Marvel e da Disney”, disse Lee.
Enquanto o imbróglio aumenta, Tom Holland postou fotos com Robert Downey Jr. em seu Instagram com a legenda “Nós conseguimos, Sr. Stark”. Em uma delas, Holland aparece com um boneco do Homem de Ferro, e Downey Jr. com o do Homem-Aranha. Neste sábado, Holland foi ovacionado pelos fãs durante a D23. “Essa foi uma semana maluca, mas eu queria dizer que eu amo vocês 3000”, disse o ator, que compareceu ao evento realizado pela Disney para divulgar a animação “Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica” (Onward – 2020), que tem Chris Pratt, o Senhor das Estrelas, como um dos dubladores – o filme tem estreia prevista para 05 de março de 2020 no Brasil.
Proprietária da Marvel Studios desde agosto de 2009, mas sem o direito de explorar personagens como Homem-Aranha e Hulk, os direitos do Gigante Esmeralda pertencem à Universal, a Disney transformou o filão de super-herói num dos maiores responsáveis pela manutenção do funcionamento das engrenagens hollywoodianas, pleiteando, inclusive, o mesmo tratamento concedido aos títulos considerados “sérios” durante a temporada de premiações, sobretudo no Oscar. Isto se deve ao fato de a Casa do Mickey abordar temas complexos e universais em longas de heróis. Um bom exemplo disso é “Pantera Negra” (Black Panther – 2018), que apresenta uma trama calcada em dinâmica familiar, religiosidade, importância de ancestrais e influência de seus espíritos, levando às telas uma discussão social por meio do passado de seu vilão. Dirigido por Ryan Coogler, o longa concorreu a sete estatuetas do Oscar, incluindo a de melhor filme, vencendo as de design de produção, figurino e trilha sonora original. Até então, apenas a concorrente DC / Warner havia chegado às categorias principais do prêmio mais cobiçado do cinema com “O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight – 2008) – o filme de Christopher Nolan, o segundo de sua aclamada trilogia “Batman”, disputou oito estatuetas, mas não chegou à categoria de melhor filme, vencendo somente duas: a de ator coadjuvante para Heath Ledger por seu desempenho como Coringa, entregue postumamente, e a de edição de som.
A Disney levou os super-heróis ao patamar mais alto da indústria cinematográfica com produções que agradam às crianças pelo visual e cenas de ação, mas que atingem a fatia adulta do público com tramas mais complexas, conforme dito acima e exemplificado com “Pantera Negra”. Outro bom exemplo é “Capitão América: O Soldado Invernal” (Captain America: The Winter Soldier – 2014), que tem uma trama tensa e audaciosa inspirada nos suspenses políticos dos anos de 1970. É inegável que ao unir conteúdo e diversão, a Casa do Mickey se sobressaiu. E foi sob a sua direção criativa que o Homem-Aranha viveu, de fato, seu ápice na tela grande.
Caso a Disney e a Sony não reconsiderem o “divórcio”, todos sairão perdendo, pois não há como dissociar o Homem-Aranha do UCM depois de filmes de grande aceitação por parte do público e da crítica. Esta é uma questão para a Sony, que terá de enfrentar o desafio de manter a mesma atmosfera dos últimos longas na próxima aventura solo do Amigo da Vizinhança; enquanto a Disney terá de driblar a lacuna deixada por um personagem popular, interpretado por um ator extremamente carismático – um dos mais talentosos de sua geração, que chamou a atenção logo em seu primeiro trabalho, “O Impossível” (Lo imposible – 2012), de J.A. Bayona.
Como em Hollywood tudo é possível, não custa torcer pelo fim do imbróglio entre a Disney e a Sony para que Peter Parker / Homem-Aranha possa voltar ao UCM.
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