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Hollywood tenta se reerguer em 2018

A indústria hollywoodiana começou o ano ainda no epicentro do “caso Harvey Weinstein”, que desencadeou uma série de denúncias contra diversos profissionais, algumas comprovadas, outras não. Respondendo a processos e sob o risco de ser condenado à prisão perpétua, Harvey Weinstein viu sua empresa, a The Weinstein Company, à beira da falência, sendo posteriormente vendida para a Lantern Capital por um valor abaixo ao de mercado.

 

Movimentos como o Me Too e o Time’s Up exerceram bastante influência no primeiro semestre, inclusive na temporada de premiações, que tinha James Franco como um dos destaques por “Artista do Desastre” (The Disaster Artist – 2017). No entanto, o Me Too teve de lidar com problemas internos que abalaram suas estruturas após uma de suas líderes, a atriz italiana Asia Argento, que acusa Weinstein de estupro, ter sido acusada de pedofilia e abuso sexual por Jimmy Bennett, com quem trabalhou em “Maldito Coração” (The Heart Is Deceitful Above All Things – 2004). Argento afirmou ter sido procurada pelo ator e cantor anos mais tarde para ajudá-lo profissionalmente, confirmando a relação sexual, mas dizendo que pensava que Bennett tinha 18 anos, idade mínima para consentimento de acordo com as leis da Califórnia, quando tudo aconteceu.

 

Tais movimentos, assim como os protestos que sucederam o anúncio dos indicados ao Oscar 2016, chamado de “#OscarSoWhite” (“Oscar tão branco”, numa tradução literal), obrigaram a indústria a prestar mais atenção em minorias. Esta busca por representatividade e diversidade poderá render frutos a longo prazo, mas ainda não teve nenhum resultado realmente expressivo nem mesmo no que tange aos quadros de instituições como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS). Isto se deve ao fato de que as mudanças exigidas em termos de premiações são superficiais, pois a diversidade das listas de indicados só será alcançada se os estúdios se abrirem aos novos tempos, oferecendo projetos relevantes e de qualidade a tais profissionais, mas fugindo de estereótipos.

 

Produzido pela Netflix, “Roma” teve sessões gratuitas em salas do Rio e de São Paulo (Foto: Divulgação).

Aos poucos, as instituições responsáveis pelas premiações estão se abrindo aos títulos produzidos diretamente para os serviços de streaming, sobretudo a Netflix, que este ano brinda o público com “Roma” (Idem- 2018). Com produção, direção, roteiro, fotografia e montagem de Alfonso Cuarón, o longa vencedor do Leão de Ouro na última edição do Festival de Veneza é um dos destaques da atual temporada de premiações e briga por uma vaga dentre os indicados ao Oscar 2019.

 

O Oscar também foi um dos principais assuntos do ano, principalmente após a AMPAS anunciar a criação da categoria de melhor filme popular. De acordo com o Indiewire à época, a criação desta categoria é resultado da pressão feita pela emissora ABC, atual detentora dos direitos de exibição da cerimônia e uma das subsidiárias da Walt Disney Company, sobre a Academia. Isto seria uma manobra para aumentar a audiência, conquistando a fatia mais jovem do público, mas rendeu à instituição a acusação de favorecimento aos blockbusters, principalmente os de super-heróis, que têm como maior fonte de renda os títulos do Universo Cinematográfico Marvel (UCM), produzidos pela Disney. Neste ponto, o alvo da controvérsia foi “Pantera Negra” (Black Panther – 2018), de Ryan Coogler.

 

Segunda maior bilheteria de 2018, o longa tenta chegar aos finalistas de melhor filme, algo criticado por muitos que não reconhecem o valor do cinema comercial quando produzido com qualidade, porém sua equipe temeu por uma estatueta “secundária”, a de filme popular, endossando o coro contra a criação da nova categoria. Blockbuster que levanta discussões sociais usando como fio condutor a história pregressa do vilão Erik Killmonger, interpretado por Michael B. Jordan, que teve como inspiração “Cidade de Deus” (2002), “Pantera Negra” é um dos destaques da atual temporada de premiações e constrói um caminho que pode levá-lo ao palco do Dolby Theater.

 

Com isso, a AMPAS se viu no meio de nova polêmica no momento em que precisava se manter longe dos holofotes, algo que se potencializou com a decisão de não apresentar ao vivo algumas categorias técnicas para diminuir o tempo de duração do show, concedendo-lhe agilidade, mas desrespeitando os profissionais relegados ao intervalo. Decidida a não apresentar algumas categorias ao vivo para encurtar a cerimônia, a Academia cedeu à pressão e o prêmio de melhor filme popular não será implementado na próxima edição, conforme previsto inicialmente.

 

Polêmica não faltou à Disney, que fechou negócio com a Fox por US$ 71,3 bilhões, adquirindo os estúdios de cinema e televisão da companhia fundada em 1935 após a fusão da Fox Film Corporation, de William Fox, e a 20th Century Pictures, de Joseph Schenk. O acordo também inclui canais por assinatura como National Geographic e FX Networks e de 30% do Hulu, plataforma digital que deseja brigar com Amazon e Netflix, por exemplo. A fusão bilionária preocupa os funcionários da Fox, cientes de que haverá demissão em massa, e deixa cerca de 27% da indústria cinematográfica americana sob o controle da casa do Mickey, que também é proprietária  da Marvel Entertainment, Pixar e LucasFilm.

 

Apesar dos problemas, 2018 foi um ano mais calmo para Hollywood, que está se reerguendo do terremoto que abalou suas estruturas em 2017. Mesmo com alguns ponteiros a acertar, a capital do cinema mundial chega ao final deste ano fortalecida, inclusive em termos de bilheterias. E no quesito lucro, o destaque foi a Disney, que ultrapassou a marca de US$ 7 bilhões em bilheterias mundiais, tornando-se o único estúdio a conseguir esta façanha duas vezes – a primeira foi em 2016. Segundo a Variety, a empresa bateu o recorde a três semanas do final do ano, que ainda terá outra promessa de sucesso de público: “O Retorno de Mary Poppins” (Mary Poppins Returns – 2018), uma das estreias desta quinta-feira, dia 20, nas salas brasileiras. A Disney também é a única companhia a arrecadar mais de US$ 5 bilhões pelo quarto ano consecutivo.

 

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Ana Carolina Garcia

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