Caso Wal do Açaí e relação com pastores ameaçam retórica bolsonarista

Jair Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto. Foto: Divulgação/PL

Jair Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto. Foto: Divulgação/PL

Nesta semana dois casos envolvendo as práticas públicas atingiram o seio do governo Bolsonaro e o discurso da inexistência de corrupção na gestão Federal.

Além de outras acusações que recaem sobre o mandato de Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos, como a suposta prática das chamadas rachadinhas, o sigilo imposto sobre gastos milionários com cartão corporativo e a adesão do presidente e seus principais aliados com o PL, sigla de Valdemar Costa Neto, condenado e preso no escândalo do Mensalão, os últimos dias ligaram o sinal de alerta na base bolsonarista.

Base que usa com “militar” fidelidade as redes sociais para enaltecer Bolsonaro e a direita, contra o que chamam de ameaça comunista e retorno do PT ao comando do país. Na retórica, eficiente, em certa medida, um dos principais mantras está na venda de um governo ilibado.

A campanha de reeleição de Bolsonaro, diferente da 2018, terá de explicar como governou o país. Ainda, certamente serão usados por seus opositores o enfrentamento da pandemia de Covid-19, o patrimônio do clã Bolsonaro, os tropeços ministeriais e a desastrosa condução da política externa, somado a inflação e alta do preço dos combustíveis, temas caros ao cotidiano das famílias brasileiras.

Wal do Açaí

O Ministério Público Federal apresentou à Justiça Federal, em Brasília, ação de improbidade administrativa contra o presidente e a ex-secretária parlamentar da Câmara dos Deputados, Walderice Santos da Conceição, conhecida como Wal do Açaí, no último dia 22.

Segundo o MPF, Bolsonaro teria desviado recursos de seu gabinete, quando era deputado Federal, através da nomeação de Walderice, que seria funcionária fantasma.

A ação pede que ambos sejam condenados por improbidade administrativa e que façam o ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados aos cofres do Estado. Walderice esteve lotada no gabinete de Bolsonaro por muitos anos, entre 2003 e 2018.

Áudio vazado e influência de pastores

Horas depois, o Ministério da Educação, dirigido por Milton Ribeiro, virou centro de um novo problema para o Planalto.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo exibiu áudio onde o ministro afirma que repassa verbas para municípios indicados por dois pastores, a pedido de Bolsonaro. Ribeiro nega as acusações.

O TCU, Tribunal de Contas da União, decidiu, nesta quarta-feira, fiscalizar a estrutura do Ministério da Educação responsável pela transferência de recursos a municípios.

Além do TCU, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu, na noite desta quarta, ao STF, o Supremo Tribunal Federal, a abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro. A relatora da ação na Corte será a ministra Cármen Lúcia.

Ontem, por meio de nota oficial, Milton Ribeiro já havia se apressado em tirar Bolsonaro do centro dos questionamentos, dizendo que ele não interferia nas decisões envolvendo os repasses de verba da Pasta.

Porém, um dos pastores envolvidos no caso, Arilton Moura Correia, aparece nos registros de entrada do Palácio do Planalto. Um levantamento obtido via Lei de Acesso à Informação mostra que, só em 2019, Moura esteve 20 vezes na sede de despachos da Presidência da República.

Veja os registros de entrada do pastor no Planalto:

16 de janeiro, 17h50
20 de fevereiro, 14h44
21 de fevereiro, 16h25
24 de abril, 17h22
25 de abril, 09h35 e 15h47
29 de abril, 8h51
16 de maio, 17h16
22 de maio, 17h35
23 de maio, 15h48
05 de junho, 15h19
06 de junho, 16h32
07 de junho, 15h14
04 de julho, 14h24 e 16h50
10 de julho, 16h52
31 de julho, 15h27
08 de agosto, 11h34 e 13h33
21 de agosto, 14h07
22 de agosto, 13h56
28 de agosto, 14h51 e 16h14
05 de setembro, 14h54

Moura ainda aparece em vídeo feito no dia 7 de agosto do ano passado, na cidade de Coração de Maria, na Bahia, apresentando o ministro Milton Ribeiro a professores do município.

No registro, Moura se refere a Ribeiro como “irmão e parceiro” e diz se orgulhar de tê-lo levado à cidade. Ele também enaltece o mandato de Bolsonaro e diz que “esse é o nosso governo”.

Em 2020, Bolsonaro recebeu o outro pastor citado, Gilmar Santos, em seu gabinete. Dessa vez, para uma audiência a sós. No mesmo dia, logo após o encontro com o Bolsonaro, o religioso foi ao Ministério da Educação se encontrar com Milton Ribeiro, de acordo com os horários das reuniões.

Em fevereiro do ano passado, os três participaram de um evento no Ministério da Educação. Em publicação nas suas redes sociais, Gilmar destacou que levou mais de 40 prefeitos de quatro estados “para tratar dos avanços e desafios da educação atual” para a sede da Pasta.

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