1º de abril e suas faces, por Ilton Castro, médico psiquiatra

Ilton Castro. Foto: Divulgação

Ilton Castro. Foto: Divulgação

Aquele que não mente que jogue a primeira pedra. Se a mentira tem pena curta? Ela estava lá antes mesmo do movimento do andar, no primeiro ano da vida.

Que bebê não usou de suas manhas para conseguir um “colinho” aconchegante mesmo quando tudo estava perfeito, no berço? Mentir faz parte do comportamento humano. Mas, há quem extrapole a linha da mentira do bem, aquela que evita constrangimentos sociais, para desvios sérios de comportamento, que chegam a níveis extremamente nocivos.

O mitômano é aquela pessoa que mente de forma compulsiva ou patológica por questões emocionais como falta de confiança, necessidade de ser o centro das atenções, sentimentos de ciúme, arrogância ou baixa autoestima. Há ainda quem se encha de prazer do enredo inventado e tira proveito das situações: como se diz “Malandro é Malando e Mané e Mané”.

Uma mentira contada repetidas vezes vira verdade? Surpreendentemente, na psicologia este entendimento é aceito sim, na posição do autor da mentira, que acaba enganando a si mesmo. Ele conta a invenção tantas e tantas vezes que acaba rompendo a linha do normal à compulsão. Neste caso, as consequências pensam sobre a vida do mentiroso e de quem convive com ele. Da posição de quem assiste a todo este cenário criado, cabe indagar o que a pessoa quer esconder diante de tal comportamento.

Geralmente um mentiroso compulsivo conta situações improváveis, onde é sempre o protagonista, herói. Exemplo claro é o célebre personagem Pantaleão do imortal Chico Anysio.

Já o mentiroso patológico, que também é um mentiroso compulsivo, esconde interesses que vão além da fama. Ao receber admiração ou popularidade, manipula, disfarça seus fracassos e sentimentos de inferioridade, buscando superação de sua baixo autoestima ou desejo de simpatia pela obtenção de ganhos pessoais. Seus relacionamentos são utilitários, descartáveis e sem empatia. Um bom exemplo para reflexão é o filme “O Golpista do Tinder”.

O comportamento mitomaníaco pode estar associado transtornos mentais enraizados de carência. Para obter atenção, simula problemas de saúde. Há os casos mais graves como o transtorno factício, em que o paciente coloca a própria vida em risco, para ganhar atenção médica e familiar, mesmo sem nenhum ganho financeiro ou previdenciário. E claro, a outra ponta, de quem diz que está mal, quando não está, mas quer estender a licença médica, o atestado… problema maior é quando o mentiroso é ainda perverso com o sentimento alheio. Ele manipula, convence, humilha. São cheios de convencimento e sedução. Há quem viva traumas irreversíveis destas relações.

Por curiosidade e já que estamos em ano de eleição fica a reflexão: O que ocorre no desvio de verbas destinadas a saúde? Pessoas morrem! No desvio de verbas da educação? Famílias perdem a oportunidade de um futuro melhor, digno. Os seres antissociais estão por toda parte, logo: previna-se.

Leia também:

+ Milton Ribeiro diz à PF que recebeu pastor a pedido de Bolsonaro

+ Eleições 2022: Para onde vão os votos do ex-ministro Sergio Moro?

Comentários

 




    gl