Crítica: Pearl Jam no Maracanã

Foi uma longa noite. Em 29 músicas tocadas em pouco mais de 2h45min, a banda que co-protagonizou a tendência que mudou a estética do rock no início dos 90, passeou pela sua história e levou consigo uma pequena multidão presente ao eterno “Maior do Mundo”.

Após um um longo vídeo sobre aquecimento global, produzido pela ONG Conservation International e atrasados em cerca de meia hora, o Pearl Jam subiu ao palco sem muito alarde ao som de “Metamorphosis Two”, tema de Phillip Glass. E ainda nesse clima intimista, com globos de vime que trocavam de cor subindo e descendo pelo palco, rolaram as três primeiras canções da noite: “Release”, “Low Light” e “Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town”.

Após o boa noite inicial, “Go” abriu o set mais acelerado, virando a chave no público. Em diversos momentos, Eddie Vedder precisou dar uma boa respirada entre as músicas. Aproveitou para ler algumas colas em português e declarar o prazer em estar de volta ao Brasil (pela quinta vez). Em um dos momentos em que tragou seu costumeiro vinho, apresentou “uma grande garrafa para um grande show”. Não foi só o cansaço que chamou a atenção em Vedder. O homem que influenciou algumas gerações com sua forma angustiada de cantar errou algumas letras e até a introdução na guitarra em “Leaving Here”, de Eddie Holland, dedicada às mulheres de nossas vidas.

Confira as fotos do show

O cantor apresentou os companheiros de banda aos poucos. O baixista Jeff Ament ganhou um corinho de “xerife, xerife” da galera e foi acompanhado por Eddie. Stone Gossard foi chamado de “meu grande amigo” já na reta final do show. Gossard, com um visual muito mais músico de fusion do que de rock, contrasta com o esporrento Mike McCready, o outro guitarrista, adepto a fanfarronices datadas, como tocar com o instrumento na nuca e usar o pedestal como slide.

Como de costume, o setlist foi muito diferente dos últimos shows realizados na América do Sul. Certa vez, Eddie declarou que a banda tinha 200 músicas ensaiadas e que escolhiam o repertório pouco antes de subir ao palco. Neste show, o set escrito à mão previa uma reta final que acabou não sendo cumprida.

Como vem ocorrendo com frequência, sobrou porrada para Trump. Eddie vestiu uma máscara do presidente e disse que a vantagem de se ter um mau líder é que o povo percebe que precisa se unir para e encontrar novas lideranças. A recém-lançada “Can’t Deny Me” também foi uma “homenagem” ao topetudo. Antes dessa música, inclusive, rolou um momento tão divertido quanto bizarro. Eddie chamou ao palco Chad Smith, baterista do Red Hot Chili Peppers, que assim como o Pearl Jam se apresenta no Lollapalooza em São Paulo no próximo fim de semana. Após um aviso de que o baterista participaria de uma canção sem nunca tê-la ouvido antes, Chad literalmente espancou um cowbell preso de forma mambembe em uma cadeira (!!!!!). O detalhe é que não havia sequer microfonação no artefato e, provavelmente, só quem estava colado ao palco escutou alguma coisa.

Outro chillipepper, o guitarrista Josh Klinghoffer, participou um pouco mais profissionalmente em “Alive”, clássico de “Ten” o primeiro e antológico álbum da banda que cedeu sete faixas para o setlist de ontem. Em outra delas, um cansativo trecho instrumental fez a espetacular “Even Flow” parecer interminável.

O gigantesco bis contou com onze músicas, dentre as quais a faixa solo de Eddie Vedder “Sleeping by Myself”, a porradaça “Do The Evolution”, a queridinha “Black” e o cover de “Rockin’ in the Free World” (Neil Young), mais uma vez com Smith & Klinghoffer no palco.

O curioso desse “bisão” é que, após “Porch”, que encerrou o set principal, pouca gente percebeu que o show havia “acabado”. No lugar dos tradicionais pedidos de “mais um, mais um”, extintos há alguns anos, havia muita gente conversando de costas para o palco, tirando selfies e filmando sabe-se lá o quê. Diga-se de passagem, tirando os muitos fãs fiéis, a grande maioria deles postada no gargarejo do palco e outros pipocados entre os 50 mil presentes, este foi o lamentável comportamento de grande parte do público durante todo o show. O importante é estar lá e sobretudo mostrar que foi. Ver o show tornou-se secundário.

“It’s evolution, baby.”

Setlist

• Release
• Low Light
• Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
• Go
• All Night
• Animal
• Given to Fly
• In Hiding
• Jeremy
• Corduroy
• Even Flow
• Inmortality
• Wishlist
• Mind Your Manners
• Lightning Bolt
• Garden
• Can’t Deny Me
• Porch

Bis

• Sleeping by Myself
• Inside Job
• Daughter
• Do The Evolution
• Black
• Leaving Here
• Blood
• Better Man
• Alive
• Rockin’ in the Free World
• Yellow Ledbetter