Cheryl Berno. Foto: Acervo pessoal

Cheryl Berno

Advogada, Consultora, Palestrante e Professora. Especialista em direito empresarial, tributário, compliance e Sistema S. Sócia da Berno Sociedade de Advocacia. Mestre em Direito Econômico e Social pela PUCPR, Pós-Graduada em Direito Tributário e Processual Tributário e em Direito Comunitário e do Mercosul, Professora de Pós-Graduação em Direito e Negócios da FGV e da A Vez do Mestre Cândido Mendes. Conselheira da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro.

Artigo: Mãe de Adolescente

Eu e os menis BP. Foto: Acervo pessoal

Existe mãe e mãe de adolescente. São duas relações completamente diferentes. Na adolescência o amor muitas vezes se transforma até em ódio. De “anjinhos”, se tornam “bichos”, ariscos, avessos. Passam a nos desafiar, a testar os nossos limites diariamente. Mãe que passa pela adolescência realmente ama demais o filho, porque todos os dias o amor é posto à prova. Mas mãe que é mãe continua com a sua missão: criar, educar, amar, ensinar, e isso tudo que dá muito trabalho. Fosse fácil ninguém teria problemas, não seria considerada a fase mais complicada da vida. Adolescência rima mesmo com paciência.

Não são mais crianças, mas também não são adultos, fica aquele meio termo que nem eles e nem nós entendemos. Complicado pra todo mundo. Tem hora que não deixamos fazerem nada que querem porque dizemos que ainda são crianças e tem momentos que exigimos deles como se já fossem adultos. Complexo demais para meros mortais que não receberam manual e não são formados nessas relações tão delicadas. Estudos dizem que os adolescentes estão em formação até os vinte e poucos anos. Até então o tal “botão do juízo” não está bem formado. Então seguimos dando conselhos e desconto em tudo, para “terminarmos o trabalho”, que esperamos resulte em adultos maduros e resolvidos, com responsabilidades em todas as áreas da vida. Que salvem o mundo que não deixamos muito bacana pra eles.

Somos muito exigentes, queremos até que sejam “só felizes”, além de formados, pós-graduados, mestres, doutores e tantas coisas mais. Sonhos, expectativas, desejos que nem nós conseguimos realizar, coisas que queríamos, não fizemos a agora projetamos neles. Entender que são outras pessoas, outras vontades, outras pessoas é o maior desafio. Daí o conflito, de jeitos diferentes de ver a vida, de experiências demais de um lado e da falta dela do outro. Não viveram o que vivemos, não sabem ainda como será o caminho. São destemidos, se arriscam, não tem o medo, eles têm o espírito desbravador, nós já estamos na fase do “não vale a pena”, “deixa prá lá”, eles querem mais e mais aventuras, natural das idades.

Nós já estamos calejadas, cheias de medos e inseguranças, queremos protegê-los o tempo todo e muitas vezes até extrapolamos, invadimos, tiramos a liberdade – quase interrompemos o processo de saída do casulo, querendo fazer o bem. Tem responsável (?) que até rastreador coloca no celular, tem a senha e acessa as conversas privadas, até do grupo, de outros filhos. Já imaginou se os pais e mães destes pais e mães soubessem o que falavam com os amigos na época em que eram eles os adolescentes? O que falavam dos próprios pais e mães? Por que esquecemos de quando éramos nós os adolescentes? É natural o processo de ruptura com o pai e com a mãe, para trilharem os seus próprios caminhos. A psicanálise explica tudo (dica de livro ao final). Cabe a nós aproveitarmos a maturidade para conseguirmos passar de fase no “jogo” da vida. Não é fácil, muitas vezes dá vontade mesmo de gritar, de sumir, de chorar, de botar pra fora, largar tudo, porém, insistimos por eles e tentamos nos adaptar ao novo papel. Faz parte.

Já não querem mais os beijos, o colo, os abraços, apertos, querem mais é distância, e cabe a nós convivermos com pessoas totalmente novas em nossas casas, que acham que sabem tudo e que podem tudo. Haja paciência, disposição, ioga, meditação, psicanálise, etc. Quantas vezes temos que respirar fundo e lembramos que assim como os nossos bebês cresceram rápido, daqui a pouco vão embora e sentiremos falta até das brigas e buscamos forças para superar, para conseguirmos ao menos que nos digam aonde vão, com quem, que horas vão voltar, como anda a escola, os namoros, quem são os amigos e que liguem, que levem o casaco que vai fazer frio, é claro!

Precisamos ter a consciência de que não está sendo fácil para eles também, que as transformações físicas e psicológicas são quase que insuportáveis. O corpo muda, A cabeça muda. Estão cheios de incertezas, ao mesmo tempo que nos dizem que sabem de tudo, estão cheios de medo, enquanto nos enfrentam, estão cheios de dúvidas enquanto nos dizem que sabem bem o que querem. A inconstância faz parte do adolescente. Cabe a nós mostrarmos que estamos ali para apoiar, para iluminar os caminhos, que não somos inimigos, mas tutores, “coaching”, influenciadores, exemplos que podem seguir, ou não, mas que pelo menos nos ouçam, ainda que não façam tudo que queremos, até porque a transgressão faz parte do crescimento. Nos negando vão se encontrando e depois acabamos vendo muito de nós neles, mesmo que não queiram ou não queiramos.

É preciso achar o jeito, arrumar esta nova bagunça (não mais dos brinquedos pela casa), aprender a conviver com seres já donos do seu corpo, ainda que tenhamos que sustentá-los, dar casa, comida, roupa lavada, estudo, celular, internet e uma porção de coisas. Este meio termo, este equilíbrio, vamos tateando, experimentando e o que nos permite seguir em frente com a certeza de que estamos fazendo o melhor para eles é simplesmente porque somos mães e mãe que é mãe sempre quer o melhor para o filho, até mãe de adolescente (pai também). Um dia, quem sabe, pode ser que reconheçam, que nos agradeçam, que nos entendam, que nos perdoem, que cuidem de nós, como cuidamos deles, no ciclo da vida.

Homenagem aos adolescentes da vez, às suas mães, pais e responsáveis.  E fica a dica de livro: Calligaris, Contardo. A Adolescência. São Paulo: Publifolha …

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