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‘Passageiros’: Titanic espacial

Depois de concorrer ao Oscar de melhor direção por “O Jogo da Imitação” (The Imitation Game – 2014), drama baseado na história real de Alan Turing, o norueguês Morten Tyldum lança a ficção-científica “Passageiros” (Passengers – 2016). Protagonizado por Chris Pratt e Jennifer Lawrence, o longa é uma das estreias desta quinta-feira, dia 05.

 

A produção mostra o êxodo para o longínquo Homestead II, planeta que será colonizado por humanos. Para o transporte interestelar, a até então inabalável Starship Avalon, que leva cinco mil passageiros e 258 tripulantes de cada vez, todos hibernados em cápsulas individuais por 120 anos – a nave funciona no piloto automático. Mas um imprevisto acontece e Jim Preston (Pratt) acorda 90 anos mais cedo, sendo obrigado a salvar a todos com a ajuda de Aurora Lane (Lawrence).

 

“Passageiros” é uma espécie de “Titanic espacial”, principalmente na forma com a qual é estruturado. Comparações com o longa de James Cameron são inevitáveis em diversos momentos, principalmente em termos de imponência e, por que não, arrogância humana. Se no navio que afundou nas águas gélidas do Atlântico Norte em 1912 a arrogância de tripulantes e construtores pode ser resumida em uma frase – “Nem Deus afunda o Titanic!” –, na Starship Avalon a situação não é muito diferente. Vendida a seus clientes como o meio de transporte mais seguro da galáxia, acima do bem e do mal, à prova de toda e qualquer adversidade, a nave não passa no teste de um choque que poderia ter sido evitado, tal qual o Titanic. A diferença, aqui, é que a nave leva dois anos até padecer com os efeitos colaterais da colisão.

 

O relacionamento do casal protagonista também nos remete ao oscarizado “Titanic”, uma vez que é utilizado como pretexto para apresentar à plateia as dependências da Starship Avalon, deixando nítido o choque e divisão entre classes sociais, desde o simplório alojamento de Jim (comparado à terceira classe do transatlântico) até a luxuosa suíte de Aurora (comparada à aristocrática cabine ocupada por Rose). Ou seja, a colônia em Homestead II seguirá os padrões da Terra.

 

O roteiro assinado por Jon Spaihts, de “Doutor Estranho” (Doctor Strange – 2016), por vezes deixa a ficção-científica em segundo plano para seguir a linha romântica e clichê, utilizando diversos elementos facilitadores para sua trama, sem explorar suficientemente todas as suas possibilidades dramatúrgicas. Porém, acerta ao conceder pitadas de humor através dos personagens de Chris Pratt e Michael Sheen (o androide Arthur), com diálogos irônicos e interessantes.

 

E é em seu elenco que consiste a força de “Passageiros”. Totalmente integrados, os atores conseguem tornar o ambiente da Starship Avalon crível e minimamente aconchegante. A química entre Pratt, Lawrence e Sheen funciona muito bem, mas quem realmente chama a responsabilidade para si e segura este filme até o fim é Chris Pratt. No auge da carreira, o ator tem em seu carisma um instrumento poderoso capaz de conquistar a audiência com muita facilidade. E neste longa não é diferente. Sozinho em cena em boa parte do tempo, Pratt consegue exprimir com muita naturalidade cada fase de seu personagem – da estranheza inicial ao medo e euforia, passando pelo dilema moral e ético movido à paixão e ao egoísmo provenientes de uma viagem longa e solitária.

 

DR à vista: Jim (Pratt) e Aurora (Lawrence) vivem um romance na Starship Avalon (Foto: Divulgação).

 

Com uma pitada de “Armageddon” (Idem – 1998), “Passageiros” é um blockbuster nato que prima por seu design de produção, fotografia, efeitos sonoros e visuais, potencializados por um 3D eficiente, sobretudo em profundidade de campo, agregando ainda mais valor a esta obra. Mais do que isso, tornando-o um deleite para o espectador, pois é um dos longas-metragens mais bonitos e esteticamente bem acabados da temporada.

 

No fim das contas, “Passageiros” é mais do que uma ficção-científica sobre um planeta que sofre pelas ações do homem, obrigando parte de seus habitantes a partir numa viagem sem volta para um lugar desconhecido. É uma produção sobre o amor e suas consequências, boas e ruins, levando o espectador a questionar até que ponto vale a pena o sacrifício supremo em prol de terceiros ou pensar somente em si próprio, sabendo que o seu destino será o mesmo em ambas as situações.

 

Assista ao trailer oficial:

Ana Carolina Garcia

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