‘Lion – Uma Jornada Para Casa’: fórmula batida e certeira para levar a plateia às lágrimas

Na última quinta-feira, dia 16, um dos nove indicados ao Oscar de melhor filme estreou nas salas brasileiras: “Lion – Uma Jornada Para Casa” (Lion – 2016). Produzido pelos irmãos Bob e Harvey Weinstein, o longa é a adaptação cinematográfica da autobiografia de Saroo Brierley, “A Long Way Home”.

Aos cinco anos de idade, numa cidadezinha do interior da Índia, Saroo (Sunny Pawar, na infância / Dev Patel, na fase adulta) se perdeu acidentalmente de seu irmão mais velho e protetor, Guddu (Abhishek Bharate), e percorreu cerca de 1600 quilômetros num trem vazio até Calcutá, onde foi levado para um orfanato e, posteriormente, adotado por um casal de australianos. As lembranças da família, que vivia em condições de extrema pobreza, sempre estiveram presentes em sua vida, mas somente com a ida para a faculdade e com a convivência com outros indianos que ele decidiu resgatar suas origens. Uma jornada difícil que contou com a providencial ajuda do Google Earth.

Com direção do estreante Garth Davis, este é um melodrama redondinho e típico de uma disputa na temporada de premiações – o que não significa que seja primoroso. O problema é que se trata de uma produção ofuscada pela irregularidade de seu roteiro, assinado por Luke Davies. “Lion – Uma Jornada Para Casa” conta com um primeiro ato comovente, que se desenrola de maneira espetacular, alicerçado, sobretudo, na encantadora atuação do menino Sunny Pawar – digna de prêmios. Mas em seu segundo ato, procurando manter o clima de comoção do primeiro, situações repetidas, piegas e superficiais ganham espaço na tela, o que prejudica consideravelmente o longa, que se recupera apenas próximo ao final.

Outro problema grave que pode ser constatado ao longo da projeção é o fato de que nem todos os personagens são desenvolvidos de maneira minimamente satisfatória, mesmo dois que poderiam enriquecer a trama devido à importância na vida do protagonista, Lucy (Rooney Mara) e Mantosh (Keshav Jadhav, na infância / Divian Ladwa, na fase adulta), a namorada e o irmão adotivo de Saroo, respectivamente.

Eficiente ao mostrar a miséria que assola a Índia, bem como a ajuda fornecida por novas tecnologias, “Lion – Uma Jornada Para Casa” é um filme que se destaca por seu elenco, cujos destaques são Nicole Kidman (Sue Brierley), Dev Patel e o já citado Sunny Pawar, que ofusca com muita naturalidade seus colegas. É um menino que encanta pela maneira doce com a qual dá vida ao seu personagem, mesmo nas cenas de maior carga dramática.

Vencedora do Oscar de melhor atriz por “As Horas” (The Hours – 2002), Nicole Kidman acerta o tom da mulher que adota duas crianças que passaram por muitas dificuldades dentro e fora do orfanato, mas que sofre pelos problemas de Mantosh – mal explorados pelo roteiro –, tendo em Saroo a sua fortaleza. Enquanto Dev Patel surpreende pela sobriedade com a qual apresenta a dor de seu personagem, atormentado pelas lembranças do passado, principalmente de Guddu.

Com uma belíssima fotografia e uma trilha sonora incessante que funciona para impulsionar o melodrama, “Lion – Uma Jornada Para Casa” é um filme sobre a importância da família, das raízes e da proteção de um lar na formação do indivíduo, mas que perde consistência ao utilizar uma fórmula batida e certeira para levar a plateia às lágrimas.

* “Lion – Uma Jornada Para Casa” concorre a seis estatuetas do Oscar: melhor filme, ator coadjuvante para Dev Patel, atriz coadjuvante para Nicole Kidman, roteiro adaptado, fotografia e trilha sonora original. A 89^a edição do Oscar será realizada no dia 26 de fevereiro, domingo de Carnaval, no Dolby Theatre em Los Angeles.

Assista ao trailer oficial: