Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Expresso do Amanhã’: ficção-científica de Bong Joon-ho na Amazon Prime

“Expresso do Amanhã” é protagonizado por Chris Evans (Foto: Divulgação).

Neste momento de isolamento social e quarentena para tentar conter a disseminação do novo Coronavírus (Covid-19), os espectadores estão voltando sua atenção para os catálogos dos serviços de streaming, como a Netflix e a Amazon Prime Video. São inúmeras as pérolas disponibilizadas em ambas as plataformas, entre elas, “Expresso do Amanhã” (Snowpiercer – 2013), de Bong Joon-ho, que este ano entrou para a História da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) com “Parasita” (Gisaengchung – 2019, Coreia do Sul), primeiro longa-metragem em língua não-inglesa a vencer o Oscar de melhor filme.

 

“Expresso do Amanhã” entrou em cartaz no Brasil em 2015 (Foto: Divulgação).

Baseado na graphic novel francesa “Le Transperceneige”, de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, “Expresso do Amanhã” começa em julho de 2014, mostrando o planeta assolado por uma nova Era do Gelo que impôs aos poucos sobreviventes o refúgio na locomotiva do bilionário Wilford (Ed Harris), chamada de “Arca Sagrada” e “Locomotiva Eterna”, que tem um ecossistema próprio e divisão de classes, onde, segundo ele, cada um tem o seu próprio lugar. Após 17 anos vivendo em condições precárias no vagão traseiro, um grupo de pessoas decide tentar uma nova rebelião em busca de condições dignas de vida. Para isso, contam com a liderança de Curtis (Chris Evans). Sempre aconselhado por Gilliam (John Hurt), Curtis tenta decifrar mensagens secretas enviadas a ele para prosseguir com um plano de ataque para chegar ao vagão dianteiro, pois quem o controlar será responsável pelo destino de todos os passageiros, isto é, da humanidade.

 

Disponível no catálogo sob o seu título original, este é um filme de arte travestido de blockbuster que passeia com propriedade pela ficção-científica, ação e drama por meio de uma história que se desenvolve como um game no qual cada vagão representa uma fase a ser superada. Calcado no roteiro inteligente, repleto de reviravoltas e diálogos interessantes, assinado por Bong Joon-ho e Kelly Masterson, o longa tece forte crítica ao abismo existente entre diferentes classes sociais, explorando ao máximo o conflito interno de pessoas em condições sub-humanas, desesperadas em mudar sua realidade, ao mesmo tempo em que nutrem a dúvida entre continuar no mundo insano e particular que lhes protege do frio intenso ou se arriscar num planeta gelado, cujo clima começa a dar indícios de mudança.

 

Tecnicamente primoroso, “Expresso do Amanhã” chama a atenção pe6lo design de produção e fotografia, que ajudam a situar o espectador à realidade dos vagões e suas respectivas classes sociais, desde o cenário sombrio e degradante do vagão traseiro até o luxo e atmosfera futurística do vagão dianteiro, o coração da locomotiva que se move ininterruptamente há anos ao redor do globo.

 

No entanto, a história não funcionaria se não fosse defendida por um elenco em total sintonia entre si e seus respectivos personagens. Popularmente conhecido como Steve Rogers / Capitão América nas produções do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), Chris Evans explora minuciosamente a personalidade de Curtis, homem determinado, mas ainda assombrado pelos fantasmas do passado. É um trabalho rico do ator, que tem entre seus coadjuvantes nomes como Octavia Spencer (Tanya), Jamie Bell (Edgar), Song Kang-ho (Namgoong Minsoo) e Tilda Swinton (Ministra Mason), responsável por uma composição hilária e grotesca em mais um competente desempenho.

 

Orçado em cerca de US$ 40 milhões, “Expresso do Amanhã” é um longa impecavelmente sombrio e instigante que chegou ao circuito comercial brasileiro discretamente em 2015. Definitivamente, um dos melhores títulos tanto da filmografia de Bong Joon-ho quanto do catálogo da Amazon Prime Video.

 

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