Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Guerra Civil’: caos e ruína

“Guerra Civil” é protagonizado por Kirsten Dunst (Foto: Divulgação).

“Guerra Civil” é dirigido e roteirizado por Alex Garland (Foto: Divulgação).

Há 17 anos, Wagner Moura protagonizou um dos filmes nacionais mais aclamados ao redor do globo, “Tropa de Elite” (Tropa de Elite – 2007, Brasil / Argentina / EUA). Sob a direção de José Padilha, o ator construiu um personagem inserido no cenário violento da capital fluminense, uma zona de guerra entre policiais e traficantes no final dos anos 1990, às vésperas da visita do Papa João Paulo II. Repleto de violência gráfica, o longa de Padilha causou reações diversas à plateia, parte dela incomodada ao perceber que o horror retratado na tela grande não era ficcional, pois o Rio de Janeiro, assim como outras capitais brasileiras, vive sua guerra particular há décadas, sem nenhuma perspectiva de término, deixando para abordar com mais afinco as questões políticas em sua sequência, “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro” (Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro – 2010, Brasil), também dirigido por Padilha.

 

Submetido a intenso treinamento para viver o oficial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), Moura, que recentemente interpretou o traficante Pablo Escobar na série original Netflix “Narcos” (Narcos – 2015 a 2017, EUA / Colômbia), volta ao cenário de guerra, ainda mais complexo, como um jornalista de zonas de conflito em “Guerra Civil” (Civil War – 2024, EUA / Reino Unido), uma das principais estreias da próxima quinta-feira (18) no circuito exibidor brasileiro.

 

Com direção e roteiro do britânico Alex Garland, que começou a desenvolver a história em 2020, “Guerra Civil” não informa ao espectador o período no qual sua trama é ambientada nem coloca no centro da ação questões políticas, pois não explica o motivo pelo qual os Estados Unidos enfrentam uma nova guerra de secessão. A causa não interessa à narrativa proposta por Garland, apenas as consequências do conflito sobre o país completamente dividido e devastado, algo mostrado pela equipe da Reuters formada pela fotojornalista Lee (Kirsten Dunst) e seu colega, Joel (Moura), que saem de Nova York rumo a Washington D.C., onde pretendem entrevistar o presidente que extinguiu o FBI, acompanhados pelo veterano Sammy (Stephen McKinley Henderson) e pela novata Jessie (Cailee Spaeny).

 

Inserindo características de road movie numa produção de guerra que prima pelo rigor técnico, sobretudo no que tange ao design de som, “Guerra Civil” causa incômodo no espectador tanto pelas cenas de violência gráfica quanto pelo cenário propriamente dito, pois as consequências do conflito secessionista levaram a nação mais poderosa do mundo ao caos e à ruína, algo observado em cada parada da equipe ao longo da jornada rumo à capital, repleta de perigos de todos os tipos, principalmente para jornalistas, grupo de profissionais perseguido pelo presidente e seus aliados.

 

Wagner Moura e Cailee Spaeny em cena de “Guerra Civil” (Foto: Divulgação).

 

No entanto, “Guerra Civil” ganha força graças ao desempenho de seu elenco, que consegue assimilar as características de seus respectivos personagens, mas de maneira a permitir que todos os atores brilhem igualmente na tela grande. Obviamente, o maior destaque é Dunst, que constrói Lee como uma profissional respeitada numa área majoritariamente masculina, mostrando, com propriedade, como o trabalho em zonas de guerra a consumiu. Enquanto Dunst tenta ser o fator razão, Joel surge como o jornalista que encontra na guerra o combustível para se manter vivo, encorajando a jovem Jessie apesar das críticas e preocupações de Lee. São duas interpretações potentes que agregam enorme valor à trama, tendo como apoio Stephen McKinley Henderson e Cailee Spaeny.

 

Mais do que uma produção sobre jornalismo em zonas de conflito, abordando como a violência se torna rotineira para profissionais após o choque inicial, “Guerra Civil” é um filme sobre as consequências de uma nação dividida. Divisão essa que, independentemente da causa, poderia ter sido evitada por meio do diálogo necessário para sanar a polarização.

 

Leia também:

‘Guerra Civil’ lidera a bilheteria americana

 

Assista ao trailer oficial (legendado):

Comentários

 




    gl