Um dos diretores mais cultuados da atualidade, Christopher Nolan sai de sua zona de conforto para se arriscar na Batalha de Dunquerque, uma das mais famosas da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), em “Dunkirk” (Idem – 2017). Uma das estreias desta quinta-feira, dia 03, trata-se de um longa-metragem visceral que abre mão do clichê do herói de guerra ao contar uma história cujo protagonista é o horror originado pelo conflito.
Numa produção enxuta com apenas 1h46 de duração, Nolan foca na operação de resgate dos cerca de 400 mil homens das tropas Aliadas que tiveram o mar como única rota de fuga após serem encurralados pelo exército alemão em Dunquerque, cidade no litoral norte da França, entre 25 de maio e 04 de junho de 1940. A chamada Operação Dínamo aconteceu sob um intenso ataque nazista e contou com a participação de civis em barcos de lazer ou pesca que ajudaram a salvar mais de 300 mil vidas no episódio que também é conhecido como o “Milagre de Dunquerque”.
Bebendo um pouco da fonte de Steven Spielberg e seu “O Resgate do Soldado Ryan” (Saving Private Ryan – 1998), no que tange à composição de algumas cenas ambientadas na praia, “Dunkirk” começa com uma sequência de tirar o fôlego do espectador, colocando-o no meio da batalha para lhe conceder uma experiência cinematográfica sufocante do início ao fim, tal qual Mel Gibson no terceiro ato de “Até o Último Homem” (Hacksaw Ridge – 2016). A diferença é que este longa, além de não ter nenhuma exaltação heroica, oferece efeitos sonoros impecáveis inseridos em total comunhão com a trilha sonora de Hans Zimmer, trabalhando a favor da trama para potencializar o caos, a barbárie e o medo estampado nos rostos de cada personagem.
Dominando plenamente a técnica cinematográfica e acumulando as funções de diretor, produtor e roteirista, Nolan utiliza uma narrativa não linear para apresentar a trama e seus personagens, porém sem conceder a nenhum deles o status de protagonista. Isto se deve ao fato de “Dunkirk” apresentar quatro núcleos distintos, mas que acabam se conectando por força das circunstâncias, ou seja, pelo conflito e a necessidade de garantir alguma proteção às tropas Aliadas e à Grã-Bretanha, uma vez que a França já estava sucumbindo ao poderio do exército de Adolf Hitler. Desta forma, há espaço para todos brilharem em cena, cada um à sua maneira e sem espaço para o melodrama, principalmente Fionn Whitehead (Tommy), Kenneth Branagh (Comandante Bolton), Tom Hardy (Farrier) e Mark Rylance (Dawson), que interpreta o único civil dentre os quatro e é o personagem mais complexo, pois realiza um ato de bravura (quase suicida) para anestesiar sua própria tristeza, algo explícito em seu olhar.
Contando com a habilidosa montagem de Lee Smith e a bela fotografia de Hoyte Van Hoytema, este é um drama com altas doses de ação que não tem a pretensão de levar para as salas de cinema uma discussão política sobre a Segunda Guerra para dar ênfase às manobras dos britânicos e sua preocupação em poupar a ilha de uma invasão nazista. Contudo, é necessário ressaltar que, mesmo não afetando o seu resultado final, o longa omite a participação de militares de outras nacionalidades na operação de resgate para colocar o exército britânico no centro das atenções.
Com poucos diálogos, “Dunkirk” acerta ao apostar todas as suas fichas no poder da imagem em detrimento da palavra para transmitir não somente o horror imposto pela guerra e a dor de combatentes assolados pelo medo e frustração, sobrevivendo muitas vezes no limiar da loucura, como também a mensagem de que a união entre é o melhor antídoto contra um mal capaz de dizimar a humanidade. É poderoso, impactante e a obra-prima de seu realizador. Um título capaz de brigar por estatuetas no Oscar 2018.
Assista ao trailer oficial:
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