Unidos de Padre Miguel 2019: Comunidade canta forte, mas escola peca em evolução e estoura três minutos

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Sempre favorita, a Unidos de Padre Miguel entrou na Sapucaí, na madrugada deste sábado (2), na luta pelo campeonato da Série A. Contudo, problemas de evolução podem tirar a escola da briga pelo tão sonhado caneco. No final do desfile, a UPM correu e mesmo assim não conseguiu terminar a apresentação no tempo regulamentar. Com estouro de três minutos, a escola perderá 0,3 na apuração. A comunidade, por outro lado, mostrou porque é uma das mais fortes do grupo e deu show em harmonia.

A agremiação desenvolveu um enredo em homenagem ao escritor Dias Gomes, intitulado “Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência”, do carnavalesco João Vítor Araújo. O desfile usou da sátira para fazer um paralelo entre a obra do escritor e os problemas da nossa sociedade, com críticas em cada setor.

A agremiação foi outra que enfrentou chuva na concentração, o que prejudicou certos detalhes das alegorias. Durante a apresentação, porém, a água deu uma trégua, mas a pista continuou molhada e os componentes tiveram que driblar as adversidades.

Para a comentarista do SRzd Rachel Valença, a Unidos fez um grande desfile, mas com problemas: “Ganhar ou perder faz parte, afirma o samba da Unidos de Padre Miguel. A vitória perseguida está demorando a chegar. Este ano, o samba, menos vigoroso que os anteriores, mesmo em andamento acelerado, não possibilitou o rolo compressor dos últimos desfiles da escola. Mas garantiu um desfilaço que não faria feio no Grupo Especial, se lá chegasse. Não lhe falta para isso, nem sequer aquele lamentável grupo de deslumbrados na frente da escola, se achando o sal do mundo por estarem ali, sem perceber o quão ridículo e sem razão de ser é aquele conjunto”.

Comissão de frente

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Coreografada por David Lima, a comissão “Oyá por nós, Santa Senhora” mostrou a intolerância e tolerância entre diferentes religiões e arrancou aplausos do público. Católicos encenavam um briga e, depois, um perdão com candomblecistas. Um elemento cenográfico representava Santa Bárbara. Dessa estrutura, no final da apresentação, saia Iansã. A evolução da orixá foi ovacionada pelas arquibancadas.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão de frente da UPM foi correta durante a Avenida e pode conseguir a nota máxima na apuração.

“David Lima trouxe o sincretismo para sua comissão. Figurinos belíssimos que já são marca da Padre Miguel e que transportaram o público para o “Pagador de Promessas”. Uma troca de integrantes faz o momento clímax da comissão, quando as filhas de santo aparecem anunciando Iansã (Santa Bárbara no sincretismo). Um elemento carregado por 4 integrantes era usado como camarim para essa troca. Tudo muito correto e preciso.”

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Um dos casais com melhor retrospecto no grupo nos últimos anos, Vinicius e Jéssica mostraram sua competência em mais um desfile da Unidos de Padre Miguel. Com uma belíssima e rica fantasia, que representou “O encontro de Zé de Burro e Santa Bárbara”, a dupla driblou a pista molhada em apresentações impecáveis.

Ao final da exibição em cada cabine, o mestre-sala entregava uma rosa para a porta-bandeira. O momento de encerramento foi bastante aplaudido pelo público.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Unidos de Padre Miguel fez bela apresentação nos módulos de julgadores. Ela detalhou os movimentos realizados pela dupla:

“Vinicius Antunes e Jéssica Ferreira, da Unidos de Padre Miguel, fizeram uma singela ‘apresentação de bandeira’, dançando com delicadeza e cortesia, em perfeita sintonia do par ao executarem os movimentos obrigatórios do bailado. O mestre-sala foi exuberante na realização do “currupio” com um “beija-flor” fluente e suave, desdobrado em “carrapeta”, na qual passos miúdos e rápidos, piruetas e falsas quedas, foram elaboradas com equilíbrio e elegância, sendo, na sequência, feita a apresentação do “voleio” simplificado para, logo, acontecer a “pegada de mão”, passo obrigatório do dançarino que permitiu a porta-bandeira deslizar no aviãozinho com segurança”.

Alegorias e adereços

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Não é novidade para ninguém que a Unidos de Padre Miguel sempre traz um grandioso e rico conjunto de alegorias. Para 2019, não foi diferente. Contudo, alguns problemas de acabamento e estruturas danificadas pelo mau tempo que atingiu a concentração da agremiação pode acarretar em perda de décimos.

O abre-alas, “A promessa diante da Igreja de Santa Bárbara”, mostrou imponência e luxo tradicionais da UPM. No entanto, a partir do segundo carro, o nível não foi mantido. A segunda alegoria, “Perdidos, a gente não sabe em quem acreditar”, teve problemas no coreto central. E o quarto carro, “Na apoteose do absurdo, viva Santo Dias”, precisou ser bastante empurrado para não desacoplar. A junção das duas estruturas, inclusive, foi realizada com corda, por problemas no ferro.

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da UPM, apesar dos pequenos problemas, mostrou a competência do carnavalesco João Vítor Araújo.

“Um espetáculo visual de majestosa concepção artística coroando João Vitor como um grande gênio do Carnaval atual. Alegorias monumentais, soluções inventivas, absolutamente fora dos lugares comuns, tanto no uso de cores e materiais quanto no desenho e na figuração dos elementos ilustrativos do enredo. Requinte estético inigualável. Um desencaixe na parte superior do segundo carro expondo ferragens e em uma das torres do terceiro carro podem comprometer a nota máxima, o que de maneira alguma diminui a exuberância plástica do trabalho apresentado, no encerramento com o belíssimo carro “Apoteose do Absurdo” – um título que resume o que foi a excelência do trabalho de João Vitor neste desfile.”

Fantasias

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Um dos melhores quesitos defendidos pela UPM na Sapucaí. Um conjunto de alas de muito bom gosto do carnavalesco João Vítor Araújo. O luxo e requinte tradicionais da escola também se fizeram presente. A leitura se deu de forma clara e a proposta satírica conseguiu tomar forma nas fantasias da escola. Destaque para o figurino da ala das crianças, “Santinhos e santinhas de barro”, um primor.

O comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, falou sobre o conjunto de fantasias da Unidos: “A escola mostrou um trabalho primoroso na concepção e desenvolvimento dos figurinos. Com uma grande diversificação de utilização de materiais na realização e acabamento. Cabeças bem realizadas e plástica de muito com gosto. Destaque ao trabalho homogêneo que o carnavalesco João Vitor Araújo conseguiu apresentar na Avenida”.

Enredo

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

O enredo da UPM trouxe a crítica social junto da obra do escritor Dias Gomes. Personagens de novelas passaram pela Avenida, sempre contextualizados com momentos atual da sociedade brasileira. Na traseira do segundo carro, por exemplo, a escola trouxe os dizeres “Morte da democracia, honra e honestidade”. O tema conseguiu ser desenvolvido de forma clara e pôde ser compreendido pelos presentes na Sapucaí.

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo “Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência” foi um dos melhores que passou pela Sapucaí até o momento.

“A retratação do realismo fantástico presente na obra de Dias Gomes foi uma sacada esplêndida do não menos esplêndido carnavalesco João Vitor Araujo, que desenvolveu de forma encantadora um enredo cheio de nuances, imagens, acenos e possibilidades. A homenagem ao autor Dias Gomes se fez presente por um aspecto presente em grande parte de sua obra, possibilitando um interessante trabalho de pesquisa executado com perfeição em termos didáticos.”

Samba-enredo

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Interpretado por Pixulé, o ótimo samba da Unidos de Padre Miguel não rendeu como em anos anteriores na Avenida, mas proporcionou boa comunicação com o público graças às bossas realizadas pela bateria de mestre Dinho. O destaque da obra ficou por conta dos versos finais e refrão principal, parte mais cantada pelos componentes e que também caiu nas graças do espectadores das arquibancadas.

O comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, elogiou a composição e o desempenho dele na pista: “Mesmo sendo um grande samba em linhas, a obra foi muito bem cantada pela voz guia e por todos os componentes”.

Bateria

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Ao menos em bossas e convenções, os ritmistas de mestre Dinho, que vestiram a fantasia “O Rei de Ramos”, conseguiram êxito na Avenida. A grande paradona realizada no final do samba levantou a Sapucaí e o quesito se tornou um dos pontos altos do desfile da vermelho e branco.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, a bateria da UPM teve passagem com confiança pelo Sambódromo: “A bateria da Unidos de Padre Miguel fez um bom desfile. Com o ritmo pra frente, mestre Dinho foi muito seguro nas suas suas apresentações. A Sapucaí levantou com a passagem da galera do ritmo”.

Harmonia

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

O chão da Unidos de Padre Miguel se mostrou, por mais um ano, avassalador. O canto dos componentes foi o destaque do desfile da agremiação. Difícil era ver algum componente sem saber o samba ou cantando sem força. O volume aumentava no final da obra e no refrão principal. A sincronia entre carro de som e bateria também foi satisfatória.

O comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, exaltou o trabalho da UPM: “A Harmonia da escola fez o trabalho de casa e trouxe a agremiação compacta, organizada e cantando bastante”.

Evolução

Unidos de Padre Miguel 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

O calcanhar de Aquiles da Unidos de Padre Miguel no desfile da madrugada deste sábado (2). A escola desfilou de forma lenta e, no final, precisou acelerar o passo. A corrida dos componentes fez a agremiação abrir um grande buraco na frente do segundo módulo, corrigido pouco antes da terceira cabine. Com o problema, algumas alas também perderam o alinhamento.

Para complicar, a escola não conseguiu terminar a apresentação do tempo regulamentar e estourou três minutos, ao encerrar o desfile com 58 minutos – 55 é o limite. Na apuração da Quarta-feira de Cinzas, a UPM já entra com menos três décimos, o que fará diferença na disputa pela parte de cima da tabela.

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