Rocinha 2019: Bateria se destaca em desfile que lutou contra preconceito e intolerância

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A Acadêmicos da Rocinha foi mais uma das agremiações da Série A que enfrentou a chuva que atingiu o Sambódromo nesta sexta-feira (1º), primeira noite de desfiles do Carnaval carioca 2019. A escola driblou as adversidades causadas pelo mau tempo e teve na bateria de mestre Júnior seu ponto forte na passagem que lutou contra a intolerância, no enredo “Bananas para o preconceito”, do carnavalesco Junior Pernambucano.

O diretor de Harmonia da agremiação, Maurício Dias, comentou sobre a concentração chuvosa da escola: “Foi difícil, mas graças a Deus a escola não perdeu tantos componentes. Vamos para a luta mostrar que o preconceito não tem nada a ver. Nossas fantasias são leves, então, não danificam muito. Os carros que são mais prejudicados”.

Para a comentarista do SRzd, Rachel Valença, a Rocinha se esforçou para fazer uma boa passagem na Avenida, mas não deve figurar entre as primeiras posições por erros cometidos no desfile.

“A sofrida comunidade da Rocinha, onde o samba nem é gênero predominante, se esforça para fazer um Carnaval à altura. Junior Pernambucano ajuda com seu talento, mas a bateria teve um tropeço diante do setor 7. Felizmente, logo corrigido. O enredo é sempre oportuno, porque o preconceito é uma chaga que parece nunca acabar em nossa sociedade. O samba, apesar de vir de canetas premiadas, apela com frequência no lugar-comum, que se mistura, felizmente, à poesia. Mas não conseguiu animar o encharcado componente.”

Comissão de frente

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Ao representar a “Essência primata”, a comissão da Rocinha, comandada por Leonardo Calvo, trouxe uma forte mensagem contra intolerância e preconceito. Os componentes vestiam uma roupa metade primata e metade de algum personagem que costuma sofrer preconceito, como pessoa LGBTI+ e umbandista. No final da apresentação, os integrantes esticaram uma faixa com os dizeres “Somos resistência”. O fato arrancou aplausos do público. A passagem pela Avenida se deu sem erros.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão de frente da Rocinha cumpriu seu papel dentro do enredo: “Leonardo Calvo traz um grupo onde a teatralidade foi a marca do trabalho. Figurinos metade primata e metade moderno ajudavam a contar que, apesar da diversidade, temos a mesma origem. Em determinado momento, duplas de personagens com simbologias diferentes contracenavam para fortalecer o conceito e entendimento do recado da comissão”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Com o figurino representando “Seja homem, seja macaco, a banana como significado de elemento comum entre primatas”, o primeiro casal da Rocinha dialogou com o enredo, ao trazer a porta-bandeira de banana e o mestre-sala de macaco.

A dupla passou com garra pelos módulos de jurados, uma vez que a chuva deixou a fantasia de Viviane Oliveira ainda mais pesada. Apesar das dificuldades normais causadas pelo mau tempo, e que podem ser penalizadas pelo júri, o casal conseguiu concluir o desfile sem problemas.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Rocinha foi bem: “A Acadêmicos da Rocinha trouxe Vinicius Jesus e Viviane Oliveira, seu primeiro casal, em performance teatral, dançando com o pavilhão de forma descontraída, apresentando uma coreografia permeada de gestos e movimentos que, acrescido à dança do mestre-sala e da porta-bandeira, divertiram o público. Podemos apreciar uma boa “apresentação da bandeira”, com variedades de passos e movimentos de outras danças, realizada com entusiasmo pelo par”.

Alegorias e adereços

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Ótimo trabalho do carnavalesco Junior Pernambucano, que trouxe quatro alegorias grandiosas, coloridas e de boa leitura para a Avenida. Contudo, pequenas falhas de acabamento foram reparadas no abre-alas, que podem ter ocorrido pela chuva que atingiu a escola na concentração.

Confira o que cada alegoria representou:

Abre-alas: “Planeta primata”
Segunda alegoria: “Nobreza à flor da pele negra”
Terceira alegoria: “O estrelato negro”
Quarta alegoria: “Vidas negras, vivência urbana”

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Rocinha foi o melhor trazido até o momento.

“A escola trouxe carros com soluções criativas, conjugando extremo bom gosto no uso das cores e uso de materiais simples com efeitos grandiosos. O luxo do segundo carro, “Nobreza à flor da pele negra”, e a boa disposição de imagens de negros célebres no terceiro carro, “O Estrelato Negro”, foram pontos altos do requinte das alegorias, reiterando o apuro estético do carnavalesco.”

Fantasias

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A Rocinha trouxe um conjunto de fantasias que se variou na Avenida. Em sua maioria, de alto nível. Porém, as últimas alas do terceiro setor destoaram do resto e apresentaram soluções mais pobres, com um visual e acabamento aquém. A ala de baianas, que representou “Mães Maria Lata D’Água”, sofreu com a chuva. Muitas componentes passaram segurando as saias, que desceram com o peso causado pela água.

Destaque para as alas inicias, que antecederam o abre-alas. A primeira delas, “Primatas primitivos”, representou macacos e distribuiu bananas para o público. Os figurinos do segundo setor também tiveram bom desempenho na parte visual.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Rocinha conseguiu manter um bom padrão mesmo com soluções não luxuosas: “Apresentou um trabalho na utilização dos materiais alternativos apresentados, com um forte trabalho de estampas diferenciados de forma criativa. Boa plástica. Presença marcante de perucas. Bom acabamento dos adereços e cabeças”.

Enredo

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Divididos em quatro setores, o enredo da Rocinha, “Bananas para o preconceito”, dialogou com a intolerância e o racismo fazendo um paralelo com os primatas, ao afirmar que todos nós, independente de classe, raça ou religião, somos iguais.

O primeiro setor abordou a “Origem primata” e trouxe macacos e bananas. O segundo, “Banana ouro”, mostrou a realeza dos negros. O terceiro, “Banana prata”, exaltou negros famosos da cultura brasileira. O encerramento mostrou os negros da vida cotidiana, com o setor entitulado “Banana da terra”.

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Rocinha foi necessário e claro no Sambódromo.

“Junior Pernambucano mais uma vez apresentou um belo enredo na Avenida. Com uma proposição temática autoral e discursiva, construiu uma interessante retórica para confrontar o racismo sem ‘panfletarismo’. Talvez tenha faltado um toque de irreverência e humor sugeridos pelo título, mas o enredo foi valente e teve leitura compreensível, cumprindo sua função narrativa.”

Samba-enredo

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

O bom samba da Acadêmicos da Rocinha passou bem na Sapucaí. Interpretado pelo experiente Ciganerey, a composição funcionou à proposta da escola. Contudo, a extensão da obra dificultou o canto dos componentes, como observou o comentarista do SRzd Rômulo Ramos:

“O samba tem 41 versos e o padrão de um samba-enredo atual é de 32 versos. Então, essa extensão pode prejudicar na avaliação”.

Bateria

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Vestida de “Reis da noite, malandros”, a bateria da Rocinha teve passagem de gala na Sapucaí. Os ritmistas de mestre Junior tem grandes chances de conseguir a nota máxima no quesito na apuração. Bossas criativas, ousadas e em cima da melodia, empolgaram o público das arquibancadas e frisas. Após a passagem da bateria no segundo módulo, o julgador aplaudiu.

Mestre da bateria, Junior comentou sobre o fato da chuva na bateria, que, segundo observação do comentarista do SRzd, não prejudicou o desempenho dos ritmistas. “Dificulta a afinação, que temos que tomar muito cuidado nos surdos. Precisamos nos prevenir na segunda e na terceira, na primeira fica mas complicado, por conta do couro, mas botamos fitas. Não acredito que o jurado vá pegar leve por isso, ele precisa julgar.”

Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, a bateria da Rocinha foi impecável: “Melhor desfile do mestre Júnior na frente da bateria da Rocinha, mesmo com toda chuva. Um andamento confortável e funcional. Bossas bem executadas”.

Harmonia

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A harmonia da Rocinha teve pontos altos no desfile desta sexta-feira (1º). Em alguns versos, como no final do samba e refrão do meio, as alas aumentavam o volume de canto. Contudo, em algumas outras partes do samba, faltou maior empenho dos componentes.

A sintonia entre carro de som e bateria foi satisfatória, graças ao ótimo desempenho de mestre Junior, na condução dos ritmistas, e da boa passagem do intérprete de Ciganerey.

Evolução

Desfile Acadêmicos da Rocinha 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Um quesito que a Rocinha não teve problemas graves, mas também não foi perfeita. Algumas alas do segundo setor perderam o alinhamento. Após a apresentação da bateria no módulo 2, a escola também acelerou o passo e por pouco não perdeu o espaçamento entre alas e carro alegórico. De resto, a agremiação, que veio em maior número que as escolas anteriores, passou coesa.

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