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Carnaval das críticas sociais: escolas do Grupo Especial com enredos ‘questionadores’ voltam para as campeãs

No curso de 2017, o Carnaval do Rio de Janeiro enfrentou momentos turbulentos durante as preparações para os desfiles deste ano. Por conta de uma crise financeira que também afetou a prefeitura do Rio, cortes nas subvenções dadas às escolas de samba assombraram as quadras das principais escolas de samba do Rio. Algumas agremiações canalizaram essa energia caótica e a transformaram a insatisfação em desfiles críticos. O resultado foi refletido nos votos dos jurados, revelados durante a apuração nesta quarta-feira (14), realizada na Avenida Marquês de Sapucaí.

A decisão da campeã foi feita ponto a ponto e a vencedora só pôde comemorar, de fato, com a nota do último jurado. Portela, Salgueiro, Mangueira, Mocidade, Tuiuti e Beija-Flor se alternavam na liderança a cada nota. No entanto, a grande campeã do Carnaval 2018 foi a Beija-Flor, que desfilou com o enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”. Durante a apuração dos votos, membros da agremiação torciam pela vitória e repetiam que o “enredo representava o povo brasileiro”. O renomado intérprete da azul e branca de Nilópolis, Neguinho da Beija-Flor, afirmou que a escola conseguiu passar a situação atual do Brasil de uma forma bastante delicada.

A diferença que separou Beija-Flor da vice-campeã foi de apenas um décimo. Pontuação que só foi definida no último quesito a ser analisado: samba-enredo. Neguinho destacou a qualidade do samba da Beija-Flor, mas também encheu a vice-campeã de elogios. “Foi o melhor samba do Carnaval. Na verdade, Beija-Flor e Tuiuti foram os dois melhores sambas do Carnaval. Na minha concepção, a vitória [de uma escola depende ] 70% do samba”, afirmou. O intérprete salientou também a posição política das duas escolas. “As críticas sociais foram a força do Carnaval deste ano. Tuiuti e Beija-Flor campeãs do Carnaval”, concluiu.

O Paraíso do Tuiuti passou pela Avenida com o enredo “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?”, que traçou um paralelo entre os 130 anos da Lei Áurea e a atual situação trabalhista do Brasil. Muito elogiado pela critica especializada e abraçado pelo público geral, o desfile da agremiação causou comoção nas arquibancadas do sambódromo do Rio. Patrick Carvalho, coreógrafo da comissão de frente, deu depoimento forte e emocionado quando soube, na apuração, que seu quesito foi muito bem avaliado. “Eu sou o coreógrafo mais novo. O que eu tenho de idade, meus colegas tem de carreira. [Este] é o grande trabalho da minha vida. Foi muito difícil [montar a apresentação] porque quando a gente começou a pesquisar, entrava em um processo de choro exaustivamente. A gente pedia para parar os ensaios porque eles [os dançarinos] não estavam conseguindo se controlar”, revelou.

Eu moro no morro. Eu moro numa senzala. Eu moro no Cantagalo. Eu moro num quilombo. Para subir e descer é difícil. Eu estou preso. Eu estou preso na minha cidade.

Patrick montou uma comissão de frente que representava os maus tratos que os negros sofriam durante a escravidão. Durante entrevista, o coreógrafo fez um paralelo com sua situação atual. “A comissão fala sobre o negro não poder ter nome. Mas eu quero ter um nome. Eu sou Patrick; e eu vivo isso constantemente. Eu moro no morro. Eu moro numa senzala. Eu moro no Cantagalo. Eu moro num quilombo. Para subir e descer é difícil. Eu estou preso. Eu estou preso na minha cidade. Não posso sair a qualquer momento. Estou preso no meu país com tudo que estão fazendo. Esse ano foi o ano que eu entrei esquecendo nota e prêmio. Eu queria que a Sapucaí gritasse com a gente esse grito de liberdade”, concluiu emocionado.

– Ouça o áudio da entrevista de Patrick Carvalho

Ao longo da apuração, grupos de manifestantes ocuparam os dois lados das arquibancadas liberadas para dar apoio ao Paraíso do Tuiuti. Eles gritavam frases contra os governos municipal e federal. A palavra de ordem mais repetida foi “Fora Temer”. Perguntado sobre isso, o presidente da Tuiuti, Renato Thor, comentou que se sente feliz com o apoio, mas que acha melhor se abster desses tópicos. “Eu agradeço aqueles que abraçaram a causa da Tuiuti, mas eu não gosto muito de entrar nesses detalhes políticos. Minha política é o Carnaval”, respondeu.

Uma outra escola que fez crítica social bem explícita foi a Mangueira. Classificada em quinto lugar, a tradicional escola desfilou um enredo que abordava a história da folia com exemplos de Carnavais que não necessitam de muito dinheiro. “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”, desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira, evidenciou que o espírito do Carnaval está no folião e fez críticas a Marcelo Crivella, atual prefeito do Rio de Janeiro. Portela, Salgueiro e Mocidade arranjaram uma forma de incluir temas de tolerância e respeito em seus desfiles.

Confira lista das seis escolas que desfilarão no desfile das campeãs no próximo sábado (17):

1) Beija-Flor (269.6)

2) Paraíso do Tuiuti (269.5)

3) Salgueiro (269.5)

4) Portela (269.4)

5) Mangueira (269.3)

6) Mocidade (269.3)

O sofrido rebaixamento de quem focou na alegria

Os presidentes da Grande e Rio e do Império Serrano conversaram com o SRzd antes da apuração dos votos. Apesar dos problemas enfrentados pelas escolas na Avenida, ambos presidentes estavam confiantes que outros segmentos compensariam. No entanto, não foi o caso. As duas escolas foram rebaixadas para a Série A, principal divisão do Grupo de Acesso do Carnaval do Rio. Milton Perácio, presidente da Grande Rio, bastante emocionado, preferiu não comentar sobre o rebaixamento da escola. Já Vera Lúcia, presidente do Império, afirmou que as escolas que sobem para o Grupo Especial são prejudicadas. “A única coisa que eu tenho a dizer é que estou com minha consciência tranquila. O Império apresentou um lindo desfile na avenida. Infelizmente, a escola que sobe [para o Grupo Especial] é prejudicada. Ela não passa na TV; ela não entra no sorteio… Isso prejudica”, comentou. Quando perguntada sobre a posição dos jurados em relação a uma escola que subiu da Série A, Vera diz que há um pouco de preconceito. “Eles não vão dar nota [boa] para a primeira escola que passa; sem ver as outras. A escola ê prejudicada. Qualquer escola que sobe é prejudicada”, concluiu.

Max Gomes

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