Wuy Jugu – Império da Fênix exalta os Mundurukus em 2023

Logo oficial do enredo

Após ascensão do Grupo Especial no carnaval passado, o GRESV Império da Fênix apresentou o enredo que marcará sua estreia na elite do Carnaval Virtual em 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

De autoria de Fabiana Motta, a tricolor de Niterói/RJ irá cantar os Mundurukus através do enredo “Wuy Jugu – Do Vale do Tapajós… Mundurukus!”.

Confira abaixo a sinopse divulgada pela escola:

WUY JUGU – DO VALE DO TAPAJÓS… MUNDURUKUS!

Quando todo o horizonte era escuro… nem rio, nem terra, nem ventos, nem luz, se faziam presentes. Na alvorada do mundo dos seres viventes, Karú-Sacaibê, o artesão do universo teceu a história dos grandes guerreiros, senhores da mundurukânia. No baile primal do universo, a trama tecida pelas mãos do grande fazedor do mundo, deu origem a Ipi e tudo que nela existe, em seu maior suspiro de inspiração Karú criou a Amazônia e da terra brotou a vida, cresceram florestas de grandes samaumeiras, brotaram olhos d’água que despertaram rios, igarapés e lagos de muita fartura, dos tucunarés e dos tambaquis, nos céus as araras bailavam em uma dança da vida!

A aldeia global surgiu e então Karú caminhou sobre Ipi, mas sentiu-se só e moldou um amigo para contemplar a beleza de sua criação, e veio Rairú fiel escudeiro de Karú-Sacaibê, ele sentiu frio e na prece ao criador surgiu o fogo que trouxe calor e luz. Curimim curioso, Rairú foi quem achou a gente escondida no centro da terra, por seu desenho perfeito do tatu no chão e na ânsia de eternizar sua mais perfeita arte em âmbar, sua mão se une a cauda do pequeno animal de carapaça, que cava o caminho para o curumim descer ao centro da terra e fazer a grande descoberta… do povo que morava no centro da terra, e na volta para a superfície Rairú traz a boa nova ao criador Karú que ao jogar uma pelota sobre a terra fez brotar o pé de algodoeiro, do algodoeiro veio a corda que trouxe o bravo povo para desbravar as maravilhas da terra de cima.

São por suas raízes, Wuy Jugu! Do beligerante guerreiro, aquele iniciado Marupiara com as bênçãos do poderoso Xamã e passou pelos sete caminhos de provação para se tornar o grande guerreador. Por inimigos eram Mudurukus! Exímios senhores da guerra, que pela terra e pelas águas chegavam! No estrondoso toque das trombetas de guerra quebravam o mais perturbador dos silêncios, como um reino de formigas de fogo caiam sobre seus inimigos desprevenidos com suas lâminas de bambú, que como caça fugiam de seus algozes, o desespero tomava conta da aldeia enquanto as flechas de fogo rasgavam a escuridão da noite e abriam o caminho do domínio. Bravos guerreiros inimigos sucumbiam e na dança de guerra a celebração da vitória, o ritual de mumificação! No grande caldeirão fervilhava pariuaté rã, a cabeça mumificada dos inimigos. Assim se tornaram os senhores da mundurukânia, sua terra, seu chão… e quando os monstros de madeira chagaram pelos rios, surgiu a nova guerra… lutaram para não perecer pelo arcabuz, atacaram como formigas e paikicés! Não se deixaram vencer pelos tomadores da Ipi.

Logo oficial do enredo

Resistir! Passaram as luas e o povo de Karú-Sacaibê resistiu. Acabaram-se as guerras intertribais e contra a dominação, mas veio uma guerra contra os devoradores de florestas… que pela ganância matam, intoxicam e contaminam os igarapés. Os monstros de madeiras se foram e vieram os monstros de ferro, assassinos de floresta, poluidores de ibirú, profanadores de Ipi. O mesmo metal que reluz a beleza da terra é o metal que desperta a obscura ambição que se dilui nos rios, envenena iribi e no silêncio mata peixes e gente, os grandes pássaros de aço derramam os líquidos que trazem a antivida, o fogocanibal queima as malocas e arde revelando o futuro que não deveria existir… aquele que habita no abismo e que traz o fim da vida. Mas a tribo tem alma guerreia e luta para que o mundo não caia no abismo da devastação. Punhos erguidos para que todos não se afoguem no grande rio da morte!

As águas de esmeralda e esperança do Tapajós, reflete o rosto dos curumins e cunhatãs que correm pelas longas praias e mostram que é preciso lutar pelo amanhã, para que não sobrem apenas cinzas e vazio… O velho pajé faz o ritual da vida para celebrar o presente de Karú-Sacaibê, que deve ser cuidado, protegido e exaltado. A ganancia deve morrer para que a lua e o sol continuem atravessando o céu, para que as águas do rio continuem seu caminho e para que a gente da terra celebre a vida.

Nos olhos do velho Xamã brilha a esperança do renascer, a grande Fênix Mundurukânia há de abrir suas asas e ressurgir do vale do tapajós para proteger o grande mundo verde! Não é utopia… é esperança! A fênix é a luta!

Material consultado

Instituto Socioambiental. Munduruku – povos indígenas do Brasil. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Munduruku.

SANCTUARIUM BRASIL. Deuses e Deusas: Karú-Sacaibê. Disponível em: https://mitologiabrasilcomsophia.blogspot.com/2018/11/karu-sacaibe.tml?m=1

HENRIQUE, M, C.; OLIVEIRA, M, O. os “cortadores de cabeça”: A memória como patrimônio Munduruku. Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi. Cienc,  v.16, n.2, p 1-15, 2021.

Músicas consultadas

Gênese Munduruku. Tribo Mundurukus. Compositores: Hugo Levi/Neil Armstrong/ Sebastião Junior. 2005

Paikisés Munduruku. Boi caprichoso. Compositores: Ademar Azevedo/ Mauricio Filho. 2012

Gladiadores da Mundurukânia.  Boi Garantido. Compositores: Demétrios Haidos/ Geandro Pantoja. 2007

Marupiara. Boi Garantido. Compositores: Aldson Leão/Eneas Dias. 2002

Guia de palavras

Ipi – mundo/terra

Ibirú – céu

Iribi – água

Observação: os sete caminhos de provação do Marupiara são: o rio de inferno, praia do Jacaré, serpentário, toca das tucandeiras, caverna dos espíritos, nicho do jaguar, remanso das piranhas.

Agradecimento a Daniel Munduruku por contar em suas obras literárias a história de seu povo valente e guerreiro, das quais arte desse texto teve inspiração.

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