Irreverência marca a segunda noite do Grupo de Acesso 1 do Carnaval Virtual

Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NEsCaFe no Carnaval Virtual

Folia virtual. Completando a disputa pela ascensão ao Grupo Especial da ciberfolia, outras oito agremiações desfilaram na Passarela Virtual neste domingo. O espetáculo apresentou temáticas bastante diversificadas, com destaque para a criatividade e a irreverência de alguns enredos. Em uma noite de apresentações equilibradas, a Primeira Estação saiu da avenida com leve favoritismo sobre as demais. Os especialistas do NEsCaFe em Artes Visuais, Imagem e Cultura detalham a seguir como foram os desfiles.

Veados Comunistas

A agremiação abriu a noite com a pretitude de diversas mulheres trans e travestis. O enredo teve como fio condutor a trajetória de Xica Manicongo, apresentada em diferentes espaços e situações sociais. De Cláudia Pantera a Erika Hilton, a escola buscou a reflexão sobre a realidade das trans e travestis pretas no território brasileiro. No desfile destacou-se a primeira alegoria, cujo potencial simbólico denunciou o papel da Igreja Católica para a estigmatização e o preconceito contra a homenageada e todas as pessoas que ela representa. Honrou o corpo político das Xicas de nosso país e estreou no grupo com o pé esquerdo, do jeito que Marx gosta!

Abre-Alas do MRESV Veados Comunistas.

União da Gávea

O universo do Teatro de Tablado, criado pela atriz, escritora e dramaturga Maria Clara Machado, foi apresentado nas fantasias e alegorias da União da Gávea, com suas lindas histórias. Com um desfile muito bem pensado, a agremiação nos levou a uma linda viagem no tempo, ao lado do fantasminha que tinha medo de gente, da bruxinha que era boa e do dragão verde. Uma viagem ao passado que encantou milhares de espectadores em cada descortinar do palco do Tablado. Certa vez, Maria Clara Machado disse que amadurecer pode doer, mas que seus frutos poderiam dar continuidade ao seu legado. A Unidos da Gávea comprovou no desfile os frutos deixados pela nossa eterna Maria Clara Machado.

Ala 5 do GRESV União da Gávea

Pau no Burro

Com um ótimo conjunto de fantasias e alegorias, a agremiação Pau no Burro, conseguiu transmitir a proposta do enredo A convenção das bruxas de forma clara, objetiva e divertida. A escola acertou nas cores escolhidas, que transitaram pelos setores da agremiação e marcaram as temporalidades da narrativa. A ousadia foi dosada com soluções criativas e bem executadas em diversas alas, como as primeiras Baianas e suas saias com a meia-lua e a Ala 9 – Mãe Terra, mostrando a força do enredo.  

Ala 9 do GRESV Pau no Burro.

Acadêmicos da Tamarineira

Com um enredo forte, que retoma a fé da cidade de Mariana, a G.R.E.S.V. Acadêmicos da Tamarineira trouxe opulência para a avenida virtual, abusando principalmente dos tons de verde e dourado. Os bandeirantes vão em busca das riquezas seguidos pelo casal de Mestre Sala e Porta Bandeira representando o ouro, desfiando um enredo que evoca a esperança. A história da cidade foi lindamente contada através de suas alas e alegorias. A Procissão das Almas se apresentou de forma mística em uma imagem grandiosa e impactante, mostrando um belíssimo espetáculo de esperança, sem deixar de evocar um grito por Mariana. 

Alegoria 3 do GRESV Acadêmicos da Tamarineira.

Encantados da Serra

A G.R.E.S.V. Encantados da Serra nos apresentou o protagonismo de uma luta negra pela independência, “O anjo de fogo da Bahia”, trazendo a força feminina da mulher preta. As Iorubás nos remeteram a um encontro da ancestralidade com o povo baiano em cores terrosas que fizeram um belo espetáculo junto à Comissão de Frente. A Ilha de Itaparica onde Maria Felipa trabalhou como marisqueira deu um colorido harmônico ao Carro Abre-Alas. As cores do Candomblé e dos vários Orixás representaram a força espiritual  na história desta heroína, muito bem contada pela Escola

Alegoria 1 do GRESV Encantados da Serra.

Primeira Estação do Samba

A Verde Rosa veio forte na busca pelo título com o enredo Manchas de um Velho Mar. Trouxe um resgate das feridas da escravidão, da valorização da cultura negra e das religiões de matrizes africanas com um conjunto plástico deslumbrante. Todo o desfile foi muito bem construído e encantou a todos. As fantasias e alegorias foram bem executadas conceitualmente, dotadas de elementos criativos e significados de fácil leitura. Destaque para o Abre-alas, a ala 6 (Calunga Grande), as Baianas e alegoria Vou baixar no seu terreiro.

Alegoria 3 do GRESV Primeira Estação do Samba.

VIRA-LATA

A Vira-Lata estreou no grupo com alegria e irreverência. O título do enredo apresentava uma divertida intertextualidade com o clássico desfile da Beija-flor de Nilópolis em 1985, A Lapa de Adão e Eva, desenvolvido pelo Mestre Joãosinho Trinta. Segundo a narrativa carnavalesca da escola, o Cachorro Caramelo passeou pelo carnaval carioca. Muito colorida e criativa, não faltaram os blocos e cordões que arrastam multidões todos os anos e as grandes escolas de samba do Rio de Janeiro. Uma apresentação com muito amor e paixão pela folia, que surpreendeu em seu encerramento ao carnavalizar o casamento de Adão e Ivo.

Alegoria 3 do GRESV Vira-Lata.

Ilu-Ayê

Apavenã encerrou os trabalhos com o desfile da Ilu Ayê. O ponto alto foi o dinamismo cromático das fantasias e alegorias, que não caíram no lugar-comum de apenas utilizar as cores preta e vermelha na representação de Exu. No carro abre-alas, a escultura central tinha sua relevância acentuada pelo hábil trabalho de cores: único elemento em preto e branco, ganhou destaque na alegoria toda em azul e branco. Estratégia que se repetiu no conjunto alegórico da agremiação, que também usou muito bem os efeitos de luz.

 

Alegoria 1 do GRESV Ilu-Ayê.No próximo final de semana, acontecerão os desfiles das agremiações do Grupo Especial do Carnaval Virtual.

Até lá!

Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NEsCaFe (@necf.ufrj):

Carlos Carvalho – Doutor em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Professor no curso de Licenciatura em Artes Visuais/UFAM.

Du Carmo Vido – Doutoranda em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Professora de Artes do Município do Rio de Janeiro.

Leo Jesus – Doutor em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Mestre em Historia del Drama (UAH). Cenógrafo e Figurinista.

Sílvia Trotta – Especialista em Figurino e Carnaval (UVA). Historiadora (UFRJ). Pesquisadora LUPA Carnaval/UFRJ.

Wádson Pereira Rocha – Doutorando em Artes Visuais (EBA/UFRJ). Mestre em Artes (UFU). Artista visual.

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