Ponte Aérea cantará a negritude na criação do tango argentino

Logo oficial da agremiação.

A tricampeã do Carnaval Virtual, a Ponte Aérea, apresentará em 2021 o enredo Manifesto por um tango negro de autoria de Júlia Melo, Millena Moraes e Murilo Polato. O enredo da agremiação pretende trazer as influências negras na criação do tango, dança símbolo argentina, reafirmando o papel central do povo negro em sua criação. A escola de Xanxerê, cidade do oeste catarinense, apostou na renovação de seu carnavalesco, Juanjo Caballero, na busca por alcançar novamente o título de campeã do carnaval.

Logo oficial completo da agremiação.

Confira abaixo a justificativa e a sinopse da agremiação:

JUSTIFICATIVA:

O Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Virtual Ponte Aérea apresenta para o carnaval virtual 2021 o enredo Manifesto por um tango negro que traz o contexto de efervescência da negritude em Buenos Aires e que ajudou a criar o estilo musical que é símbolo de seu país: o tango. Através do tango pretendemos valorizar a negritude argentina e reafirmar seu espaço como parte central da cultura que foi por muitos politicamente esquecido.

SINOPSE:

São as memórias que nos unem. Culturalmente. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. As memórias nos embalam no limiar de seu tempo. Explicam presentes, questionam passados e quiçá, preveem o futuro. Essa é uma história sobre memórias, ou melhor, um manifesto. Um manifesto pessoal e íntimo, mas que conta a partir das minhas ruas, dos meus ventos e maresia tudo que vi e vivi até aqui. Mas antes, hei de me apresentar…

Muito prazer, sou Buenos Aires. Mas não a Buenos Aires que conheces. Sou a Buenos Aires dos ritos e ritmos negros. Aquela que foi esquecida, embranquecida sem perdão. Nasci em um porto com os olhos em plena maresia e de ares nem tão bons.

Sou a Buenos Aires que grita pela minha ancestralidade, a que viu o chão riscado por sapatos e escutou os negros à noite bailando com saudade. Cada pedra que me forma, tem história para além daquela que foi contada.

Vi a escravidão espanhola deixar marcas em minha história, em uma segregação social e racial que marginalizou meu povo. Libertos sim, mas não iguais. Cresci e me expandi. De certo, com força e trabalho duro, que geram dinheiro… a quem sempre o teve. Foi construído meu chão, meu nome, minha cidade, e minha música. 

Os navios que atracaram em minhas margens trouxeram em suas poupas novas histórias e memórias a serem contadas em minha terra. Trouxe arte e cultura. Sons e batuques. Dança e celebração. Habanera e milonga tomaram minhas ruas. E a partir dessas diversas junções de cores, sabores e sons, nasceu o que hoje é uma das minhas marcas, o tango. Mesmo nos contextos mais difíceis ele resistiu. Seja com a proibição ou a febre, seguiu pedindo licença para tocar o seu tambor. 

Esse ritmo que transcendeu as barreiras musicais tornou-se sinônimo da minha nacionalidade. Embalou muitas noites boêmias pelas minhas ruas e vielas, foi companheiro e amigo dos desamparados, embalou paixões dos enamorados e fez companhia aos solitários. Mas aos poucos ele começou a mudar, ouvi ganhar novos sons, e outros instrumentos a tocar. Vi também ganhar verso, e junto meu povo cantar. 

Por um acaso descobri que tal qual passarinho, meu som ganhou asas e voou. Brilhou em Paris, ganhou nobres ares e se transformou. Com um bandoneón até seu estilo se deslocou. Grandes cantores, músicos e artistas. Uma grande festa, disseram que a era de ouro havia chegado, mas a quem esse luxo é relegado? Veem me visitar, querendo bailar um ritmo muy blanquito, flores na boca em busca de um mito. 

O que me conduz são as pedras miúdas das minhas estradas, as memórias encobertas do meu povo, que um dia hão de romper esses chãos e trazer à tona a minha verdadeira história. Sigo no aguardo dos tambores e atabaques, os cantares do meu povo. Carregando na cabeça e na memória, o enegrecer dessa história.

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