Pedindo as bençãos à N. Sra. da Penha, Primeira Estação do Samba apresenta seu enredo para o Carnaval Virtual 2020

O GRESV Primeira Estação do Samba apresenta seu enredo em busca de seu primeiro título do Grupo Especial do Carnaval Virtual, a escola levará até a passarela virtual uma história de amor e devoção à Nossa Senhora da Penha com o enredo: ”Senhora Suburbana”, idealizado pela comissão de Carnaval da escola.

“Ó santíssima que surgiu no monte,
Tua força e poder ganhou o mundo,
Entre tantos milagres aquele que salvou Baltazar,
Sua história marca meu Rio de Janeiro e aqui venho te louvar.
A festa que a tantos animou,
O progresso e modernidade minimizou,
Entre assombrosos atos da atualidade,
Tua imagem nos guia e fortalece.
Abençoai meu pavilhão que a ti seguirá em procissão.
Rogai-por nós, Senhora Suburbana!”

 

FICHA TÉCNICA:

Presidente: Rafael Soares
Vice-Presidente: Tom Santos
Carnavalescos: Alex Carvalho e Alex’s Waldorf
Diretores de Carnaval: Paulo Henrique, Lucas Guerra e Matheus Brito
Intérprete: Maykon Rodrigues

 

ENREDO:

“Senhora Suburbana”

Idealização: Comissão de Carnaval
Texto: Lucas Guerra e Matheus Brito

Apresentação

Um apaixonado eu-lírico de Ary Barroso, em 1928, cantou:

“…Eu vou à Penha,
Se Deus quiser,
Pedir à Santa carinhosa
Para fazer de ti, mulher…”

Durante os anos 60, Cartola canta a necessidade de um belo terno:

“…Entre os amigos
Encontrarei algum que tenha
Hoje é domingo
E, eu preciso ir à Penha…”

E um Noel Rosa cheio de saudade afirmou com um refrão:

“…Não há quem tenha
Mais saudades lá da Penha
Do que eu, juro que não…”

Devoção ao catolicismo e samba: Dois elementos que a sociedade sempre tentou antagonizar como sagrado e profano. A Primeira Estação do Samba levará para a passarela a união destes fortes elementos da cultura popular dentro da segunda maior festividade do Rio de Janeiro nos anos vinte: A festa da Penha!
De Salamanca à passarela virtual, Nossa Senhora da Penha esteve intercedendo por nós e operando milagres. Talvez o maior deles seja transformar o samba tão perseguido e marginalizado nos subúrbios em um dos maiores símbolos culturais do país.
Peregrinos, sambistas, beatos e pecadores: Ajoelhai-vos para a Senhora Suburbana.

Matheus Brito Oliveira

 

Sinopse

 

“Mãe do alto desta colina,
Rogai como na Palestina”
Consagração à Nossa Senhora da Penha – Pe. Thiago Sardinha

Simão Vela, monge francês, peregrino da fé, parte em missão pela Espanha, no início do século XV, e recolhe-se em um convento franciscano na aldeia de Puy, localizada no monte Penha de Santa, província de Salamanca.

Rezas, preces, cânticos e louvores tomavam conta do lugar durante todas as noites. O convento se reunia para a última oração do dia e depois todos caminhavam rumo aos seus aposentos. A fé levava Simão ao ponto de êxtase. Fervoroso em sua crença, uma voz sondava sua cabeça durantes as reuniões e dizia: “Vela e não durmas!”.

Durante toda a estadia do peregrino essa voz o acompanhou. Noites em claro, clamores aos céus para que a mensagem fosse transmitida de maneira clara. Simão não entendia o que essa voz queria lhe dizer. Passam-se os tempos e ele parte da aldeia Puy rumo à um novo local de fé.

Em 19 de maio de 1434, Simão retorna a província de Salamanca e visita o convento onde esteve. Após a visita, sobe ao topo do monte Penha de Santa e novamente escuta a voz em sua cabeça: “Simão, vela e não durmas!”. Ao lembrar-se de tudo o que já havia passado, o monge roga por uma reposta a essa mensagem. Do céu um clarão ilumina o alto do monte e Simão vai até o ponto onde os raios tocavam o solo. Lá ele encontra uma imagem enterrada deixada por soldados de seu país no tempo em que combatiam os muçulmanos que tentavam exterminar o convento da aldeia. Simão ajoelha-se e faz a primeira consagração à santa encontrada, dando assim início a uma devoção que atravessaria o mundo: “Ó virgem santíssima, do alto do monte de Penha tu surgiu, de Penha teu nome serás”.

Vilarejos, povoados, reinos e cortes, do mais humilde camponês a Dom Sebastião, rei de Portugal, que muito doente clamou Nossa Senhora da Penha a cura de uma grave doença que o sondava. Desacreditado sob uma cama, o monarca moribundo recebe a benção da santa e, em sinal de gratidão, ergue em Lisboa uma igreja em louvor a Penha de França. Por todo lugar que passava, embaixo de chuva, sob a luz das velas de seus devotos, a virgem do monte mostrava sua força e cada vez mais era reconhecida.

“Senhora nossa e mão querida,
Consagramo-vos nossa vida.”
Consagração à Nossa Senhora da Penha – Pe. Thiago Sardinha

O ar do Brasil Colônia ainda se desenhava, uma terra recém descoberta tomada pelos portugueses viu o primeiro ato de devoção à Penha surgir. Foi na capitania do Espírito Santo, na localidade conhecida como Vila Velha que entre os engenhos de açúcar e poderio de seus donos, o Frei Pedro Palácios, um espanhol devoto da santa da Ordem dos Franciscanos, ergue a primeira ermida em sua consagração.

No início do século XVII o porto da capitania Rio de Janeiro começou a exportar o ouro extraído das Minas Gerais. A, até então, cidade dos grandes engenhos de açúcar e pastos de pecuária viu suas ruas ganhando movimentos de novos moradores e a aparição de novos barões proprietários de posses de chão. Com a expansão da economia e novos endinheirados, surgem mais fazendas de engenho, alambiques e o número de escravos, indígenas e negros oriundos de Angola. A cidade passou a receber um grande volume de escravos retirados a força por portugueses que aportavam na baía de Guanabara, rota por onde passavam tabaco, café, cana e aguardente, levando centenas de negros e negras para trabalharem no ciclo da prata, período em que a cidade desenvolveu-se e se tornou o principal elo logístico com o Império Português.

Entre tantos barões, existiu na sesmaria de Irajá um capitão português que ganhou as terras da região da Fazenda de Nossa Senhora da Ajuda. Baltazar de Abreu Cardoso era dono de diversos pedaços de chão para a produção agrícola, era conhecido na freguesia de Irajá por ter muitas fazendas e escravos em suas propriedades. Ao subir o grande penhasco de suas terras, o capitão admirava suas produtivas terras do alto quando uma enorme serpente o ataca, levando-o ao chão. Ao sentir seu corpo padecer grita aos céus: “Valei-me, ó virgem santíssima! Salve-me desse assombro”. Inexplicavelmente surge dos campos ao redor um grande lagarto que trava uma luta fatal com a serpente, derrotando-a com o seu rabo. Incrédulo com a cena que presenciou, Baltazar foge para a sua casa e faz uma nova prece pelo livramento: “Ó mãe senhora, por mim intercedeste, afastando o assombro enviando o bicho. Eternamente grato, homenagearei tua grandeza todo santo ano”.

Ao recuperar-se, o português ergue no alto do penhasco de suas terras uma capela em agradecimento pelo milagre. Com simplicidade colocou uma imagem no altar e consagra a ermida como Nossa Senhora do Alto do Penhasco. Agora Baltazar subia o grande penhasco não somente para avistar suas terras, o ato passou a ser de gratidão pela vida e interseção da santa, parentes, amigos e vizinhos tiveram conhecimento do milagre e subiam juntamente ao capitão para fazer suas orações. Com o passar do tempo, curiosos avistavam a pequena capela do alto do penhasco e perguntavam como era feito para subir “a penha” e visitar a santa do penhasco, fazendo com que a ermida passasse a ser popularmente chamada de Nossa Senhora da Penha.

A devoção à Nossa Senhora da Penha foi se espalhando e cada vez era maior o número de pessoas que subiam o sagrado penhasco pedir e agradecer a sua intercessão.

Já no final de sua vida, o capitão Baltazar doou suas propriedades a santa que salvou sua vida e lhe concedeu o milagre. O fiel que recebeu a graça entrega sua devoção e lugar para a virgem reinar eternamente.

“Orai por nós ao Bom Jesus,
Que por todos morreu na cruz.”
Consagração à Nossa Senhora da Penha – Pe. Thiago Sardinha

As recém construídas linhas de trem traziam fiéis peregrinos e devotos todo mês de outubro para a chamada “Festa da Penha”, festividade que reunia toda a população para louvar e agradecer as graças alcançadas através de Nossa Senhora da Penha. Flores, fitas, cânticos e fados, danças, velas, quitutes e agrados construíam todo o cenário do local. Entre viras e fandangos, a tarde e noite de homenagens à santa do penhasco era acompanhada por portugueses, cariocas, alforriados e quilombolas que habitavam o “Quilombo da Penha”, situado nas terras doadas a Nossa Senhora, que era acobertado pelo abolicionista e republicano, Padre Ricardo, um nome de influência na região.

Depois da abolição da escravatura, a festa passou a contar com a influência de ritmos, danças e costumes do povo negro, enriquecendo e agregando todo povo da cidade do Rio de Janeiro nos festejos em louvor à Penha. Na arte da capoeira, do bater de pés do jongo aos tabuleiros das “negas quituteiras”, as barraquinhas ganhavam novas cores, temperos e cheiros. Os recém libertos escravos pediam à nossa senhora que os seus dias futuros fossem mais amenos que os já passados sob o estalar das chibatas. Do batuque do atabaque ao cheiro do dendê, a festa seguia noite e dia sem parar.

O festejo à Penha passou a reunir milhares de pessoas e tornou-se uma das principais festividades do Rio de Janeiro, visto o momento em que as demais festas da cidade, incluindo a famosa Festa do Divino, passaram a perder força. A junção de culturas e costumes deram o tom plural e agregador em tudo que a Penha representava. Com o passar do tempo, as elites políticas burguesas e intelectuais adotaram uma postura contra os festejos religiosos, levando as manifestações de fé a serem vistas como perigosas, ignorantes, vulgares e de atraso, uma clara tentativa de “afrancesar” os costumes e os tornarem mais “civilizados” aos olhos da burguesia. De maneira completamente oposta aos anseios intelectuais, a festa da Penha ganhava mais expressividade cultural com a criação de um concurso de marchinhas para o carnaval da cidade. Era no mês de outubro em que as músicas de compositores como Donga, Noel Rosa, Heitor dos Prazeres, Sinhô, Ismael e tantos outros, apresentavam seus sambas para o carnaval que se aproximava.

Entre pandeiros, pratos, cavacos e violões, rodas de capoeira, baianas de saias rendadas, mulatas de pé no chão, o samba adentra e se encontra através da mistura de povos, que faziam os festejos da Penha serem considerados um verdadeiro carnaval fora de época. A alegria do lugar era falada aos quatro cantos da cidade. Foi ali que grandes sucessos musicais surgiram, entre eles estão Braço de Cera, Feitio de Oração e Viva a Penha. Com a chegada dos sambistas, os festejos ganharam ainda mais importância na cidade, a Penha foi considerada a segunda maior festa da cidade, atrás somente do carnaval. Artistas de relevância nacional sugiram as escadarias para celebrar a santa e participar da festa, que durante muitos anos, todo mês de outubro, levava o afago para uma região que começou a sofrer com os avanços populacionais desenfreados e problemas políticos, sociais e educacionais, derivados do abandono e esquecimento dos poderes públicos. Hoje a festa da Penha não é mais como antigamente.

A festa da Penha ainda resiste e influencia todos os bairros que ficam ao seu redor. A região da Penha é um polo de cultura, onde existem escolas de samba, cordões carnavalescos, orquestras, companhias de teatro e tantas outras manifestações que são abençoadas pelo maternal olhar que habita o alto do penhasco.
A determinação de todos aqueles que construíram a festa da Penha ainda nos inspira. A modernidade e progresso mudaram a realidade da região e fizeram com que a festa perdesse sua força. Vivemos tempos sombrios e nos apegamos na fé em nossa senhora para seguirmos. A resistência nos moldou e, enquanto aqui estivermos, levaremos a bandeira da cultura que celebra o sagrado e o profano, o cortejo que une o erudito e o popular até o fim.

Rogai por nós, SENHORA SUBURBANA!

Lucas Guerra.

 

Referências bibliográficas:

História de Nossa Senhora da Penha em Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França. Disponível em: <https://www.basilicasantuariopenhario.org.br/historia-de-nossa-senhora-da-penha>.  Acesso em: 08 mar. 2020.

GOES, Tadeu. A festa, o samba e a santa. HH Magazine. Disponível em: <https://hhmagazine.com.br/a-santa-a-festa-e-o-samba/>.  Acesso em: 10 mar. 2020.

PANEMA, Ricki. História da Festa da Penha – Rio de Janeiro. Flickr. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/rickipanema3/5366909516>.  Acesso em: 10 mar. 2020.

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F. Central do Brasil em Museus Ferroviários SP. Disponível em: < http://museusferroviarios.net.br/antigas-companhias/e-f-central-do-brasil/>. Acesso em: 09 mar. 2020.

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Igreja de Nossa Senhora da Penha (Rio de Janeiro) em Wikipédia. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Nossa_Senhora_da_Penha_(Rio_de_Janeiro)>.  Acesso em: 10 mar. 2020.

TEMPESTA, O. João. Nossa Senhora da Penha. Arquidiocese de São Sebastião. Disponível em: <http://arqrio.org/formacao/detalhes/965/nossa-senhora-da-penha>.  Acesso em: 10 mar. 2020.

GABLER, Louise. Estrada de Ferro D. Pedro II. MAPA – Memória da Administração Pública Brasileira. Disponível em: <http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/317-estrada-de-ferro-d-pedro-ii>.  Acesso em: 10 mar. 2020.

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FONTENELLE, D. C. Quilombos, Abolicionismo e a cidade: Política e simbolismo na inserção do quilombo do Leblon na dinâmica urbana do Rio de Janeiro do final do século XIX.  Dissertação (Dissertação em Geografia) – UFRJ. Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: <http://objdig.ufrj.br/16/teses/825069.pdf>.  Acesso em: 10 mar. 2020.

 

INFORMAÇÕES DA DISPUTA DE SAMBA:

– Escola fará disputa interna.

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