Mocidade busca o paraíso na Edição Especial do Carnaval Virtual

Logo oficial do enredo

O GRESV Mocidade apresenta seu enredo e samba para a Edição Especial do Carnaval Virtual que acontecerá nos dias 14 e 15 de Fevereiro deste ano. O enredo “E a Mocidade descobriu… O Paraíso é Padre Miguel” se inspira no samba-enredo composto por Igor Leal, Diego Nicolau, Iuri Abs e Gustavo Henrique, para reinterpretar a narrativa de autoria de Cid Carvalho apresentado em 2010 pela Mocidade Independente, “Do Paraíso de Deus Ao Paraíso da Loucura, Cada Um Sabe o Que Procura”. Além disso, a escola informa que o desfile ainda se relaciona e se inspira em outros famosos carnavais levados para a Sapucaí pela Estrela da Zona Oeste, como Descobrimento do Brasil (1979), Como era verde meu Xingu (1983) e Tupinicópolis (1987).

Para a Edição Especial o desfile da escola contará com os carnavalescos Jorge Silveira e Ricardo Hessez, o enredo será assinado por Leonardo Antan.

“No nosso desfile especial, vamos mostrar que o Éden não é exatamente como os invasores europeus inventaram. Um re-descobrimento se faz necessário. A cultura indígena segue ameaçada desde 1500, com direitos negados e sua cruel dizimação. Voltamos as armas dos nossos camalões guerreiros para a invasão branca, mostrando que não existem paraíso sem gente livre e plural. O paraíso independente é onde podemos ser felizes, abriga a todos, todas e todes. É sempre verde, onde cantam uirapurus e flanam índios sobre seus patins.”

 

Confira o samba que irá embalar o desfile da escola na Edição Especial:

 

Confira também a sinopse do enredo:

E a Mocidade descobriu… O Paraíso é Padre Miguel

Autor: Leonardo Antan

Logo oficial do enredo

Quantas perdas acompanham a humanidade? É possível viver sem um paraíso? Ainda se pode sonhar com algum ideal, longe da realidade que parece nos condenar?

Seríamos nós exilados de um lugar celestial, desorientados em busca de uma perfeição perdida?

Diz a tradição cristã que em um lugar abençoado viviam seres de pele alva. O custo de viver em tamanho perfeição não era alto; uma única regra não poderia ser quebrada. Nem todos souberam respeitar tais leis, tornando-se amaldiçoados. Para eles, foi destinado o castigo de não viverem mais nessa terma firme, colocados dali para fora. Aquele lugar já não era mais o paraíso descrito nas escrituras. Ainda assim, os que foram privados de ali viver tiveram um agonizante destino.

Jogados ao mar, enfrentaram seus maiores medos. Monstros marinhos podiam devorá-los na borda do mundo. A travessia até outro mundo não teria sido fácil. Fome, sujeira e medo. O que os espera fora do paraíso? Achavam que pouco existia além dos horizontes e das beiras de uma superfície plana. Ledo engano. Havia além-mar, havia um além-vida. Os ventos guiaram para um novo lugar que também parecia divinal.

Foram singrando os mares, em busca de novos ares. Após dias de tormenta, uma bela visão. Expulsos da terra firme e jogados ao relento do mar, qual surpresa não tiveram aqueles exilados ao encontrar um lugar de terra verdejante, em que a riqueza brotava em árvores e seres alados sobrevoavam. Um turbilhão de luz, no qual fauna e flora seduziam.

Descobriram um novo mundo. Ou, verdade seja dita, invadiram tal chão, já que aquela terra já pertencia a criaturas celestiais. Eram da cor do chão, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse de suas vergonhas. Sem pudor ou pecado cristão moralizante.

Ao acharem um porto-seguro, desfrutaram dos nativos como se instalassem em uma hospedagem de luxo, verdadeiro resort. A hospitalidade do lugar deixou os invasores à vontade. Os nativos dançaram, tentando ensinar seu ritmo aos novos hóspedes. Mas mal sabiam que tudo que era deles os seria tirado.

Tomando posse naquele novo paraíso, cometeram o mesmo erro de sempre: a ganância. Nem toda fome e sede poderiam ser saciadas pelas frutas abundantes e água farta. Além da subsistência, queriam mais. Os povos nativos que ali viviam logo perceberam que quem chegara do mar não seria a bondade, mas sim criaturas desalmadas que espalharam dor e doença, morte e servidão. Como peste, tudo se alastrava rapidamente. A cada toque um novo contágio.

A fuga parecia a última solução para os nativos daquela terra que ganhou o nome de madeira vermelha. Isolamento daquele mal que sucumbia. Enquanto a escuridão se espalhava pela verde mata, salvar os seus filhos era a única possibilidade para uma terra sem males. Não se sabe quantos se perderam na busca por esse lugar ideal. Das mães que tentaram salvar seus filhos, teria alguma conseguido? Existiria um novo lugar em que se poderia se estar pleno, sem dor e doença?

Não houve final feliz, ao menos até aqui. Poucos sobreviveram e os povos originários são dizimados dia a dia. Passaram-se anos, o ouro se transformou em papel carimbado, os quais trazem os animais extintos pelos mesmos invasores, agora impressos. Triste ironia. A dor da colonização marcou a ferro e fogo aquela gente feliz e vivendo na mata. Já não eram mais imagens desse país.

O que se achava ser novo paraíso foi tornado lugar de dor, de desinformação. As matas queimam. O fogo se espalha, sem que existam bombeiros que possam apagá-lo. Plantações derrubam o que restou do verde. Não é pop quem mata e espalha mais dor. O real valor do paraíso era encontrar um lugar em que a felicidade não sucumbisse em nome da “civilização”.

Diante da dureza do exílio, pulsa a dor infernal que acometeu um lugar abençoado de montanhas e mares. Ou seria maldição? A fome e a pobreza se espalharam por esse chão. Dizem que apenas um ser se salvou da fuga nativa para uma terra sem males. Um curumim se fez pássaro. Em um lugar de água boa e limpa, outra possibilidade nasceu. Para além das dicotomias, além da dor e da fome, do bem e do mal, do pecado e da pureza, existia uma morada em que sol e lua se encontravam. Ele desceu uma estrela colorida, brilhante, numa velocidade estonteante.

Era o encontro de três rios, uma praia mágica protegida por camaleões guerreiros que não permitiam caraíbas ou perós de cruzar mágico portal. Lá, a mata era sempre verde, nunca queimada. Terra abençoada pelo canto de um Uirapuru. Da primeira oca lá erguida, fez-se taba, da taba se fez nova alternativa longe de incompetência da américa católica. Parece um sonho, de tanta felicidade.

Não se sabe a fronteira que separa lenda ou verdade, se esse lugar da possibilidade ideal parece utópico demais. Muitos afirmam já ter visitado, tendo sido descoberto por um povo guerreiro ao Oeste. Fez destas lendas suas estrelas. Esse povo que batia tambor para um caçador abraçou o índio com sua juventude. O lugar com nome de sacerdote não tentou colonizar ninguém. Ao desfilar e contagiar toda cidade, essa gente cheia de mocidade fez mais verde nosso coração.

Quando cruza a pista branca, enche da cor da esperança esse paraíso perdido, invadido e colonizado. Um país com nome de árvore e ainda assim desmatador de sua maior riqueza. Fruto de contradições, que sonha encontrar a passagem para uma lendária cidade índia do terceiro milênio, verdadeiro paraíso dessa gente. Será que todos poderão ainda cruzar o espaço em busca dessa possibilidade? Viveremos ainda procurando perfeições perdidas, ou faremos daqui mesmo nossa metrópole de tabas?

Há tempo ainda?

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