Imperiais de Madureira apresenta enredo para o Carnaval 2023

Logo oficial do enredo

Preparando-se para a disputa do Grupo de Acesso I do Carnaval Virtual, o GRESV Imperiais de Madureira apresentou o enredo que levará para o seu desfile oficial de 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

De autoria de Marcos Felipe Reis e Caio Barcelos, a azul, verde e branco abordará a Amazônia através do enredo “A melodia que vem da selva”.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela agremiação:

A Melodia Que Vem Da Selva

Justificativa

 No papel de uma escola de samba é primordial que saibamos respeitar as nossas origens, nossa tradição, nosso ventre. Respeitar aqueles que vieram antes de nós e moldaram uma terra para que hoje possamos caminhar e deixar um legado para os que virão após nossa partida. 

 A Imperiais de Madureira para o Carnaval de 2023 levanta a bandeira dos povos da Floresta, e pede passagem bradando a melodia daqueles que desbravam e vivem na maior floresta tropical do mundo.

Ouçam a Amazônia, ouçam o cantar, o gritar, o chorar da floresta mãe! Nossa Águia levanta seu vôo em direção à grande Selva para amplificar a voz da floresta, os sons da vida que pulsam e emanam de cada ser vivo que reside em seu interior.

Daremos luz aos grandes maestros responsáveis por reger a orquestra de vida que emana da verde mata e se espalha pelo mundo.

Ouçam a Melodia que vem da Floresta!

Sinopse:

A melodia da vida

Sou tudo que existe: sou galho, planta, raiz, água, pedra… Sou o ser maior que contata o ser humano todos os dias, mas que ainda sim continua nas sombras. Minha voz ecoa, mas não é ouvida. Eu amparo, dou alimento, luz e abrigo para todos aqueles que de mim necessitam. Tenho vários nomes, conhecidos em várias culturas: Gaia, Danu, Erce, Pachamama, mas vocês podem me chamar de Natureza.

 Com o levantar do sol todos os dias e o deitar da noite na cabeceira do horizonte, eu vejo uma floresta despertar e com ela a melodia da vida se reinicia. O vento é livre, corre entre as árvores tocando tudo: balançando as folhas, levando sementes pelos ares que irão germinar em terras distantes. No céu, vejo a dança dos pássaros, leves e soltos curtindo o prazer da liberdade sem rumo num multicolorido surreal. Nas águas, vejo o correr de rios que ora se alargam, ora se tornam estreitos novamente, o nadar de peixes, botos, serpentes e toda uma vida que se estabelece por debaixo dos sinuosos rios da Amazônia. Na terra o rugido das feras, o saltar dos micos e macacos que habitam a minha selva fazem desse manto verde um santuário, uma catedral ancestral da vida.

A Melodia do imaginário

Sou palco, sou ribalta a céu aberto. Do meu chão vi florescer contos, mitos e seres fantásticos, assustadores e lindos. As lendas ultrapassam gerações, permanecendo vivas nas mentes daqueles que ouvem o som do Imaginário ganhar forma no meio de minha selva. O bradar da Floresta torna-se palpável na mente daqueles que em mim habitam. Eu vi ao longo das eras essas lendas ganharem forma, cor, brilho, contagiando a mente e os olhares curiosos. Eu vi brotar Naiá, a flor das águas. Ouvi o canta sedutor da Iara chamando os caboclos e indígenas para o mundo dos rios, vi o olhar amedrontador da Boiúna ou Cobra Grande. Assisti Ajuricaba se atirar no encontro das águas e se tornar ser encantado do rio, vi o boto virar gente e dançar nas festas ao longo de meus beiradões. Da terra, ouço o passo apressado do curupira confundindo o caçador. Escondido nas folhagens o Bicho Folharal espreita o madeireiro, boitatá rasteja com suas escamas flamejantes afugentando aqueles que tentam degradar meu solo. E do ar posso ver a paixão proibida de Jaci e Guaraci, os ventos mortais causados pelo bater de asas da Matinta Perê, o canto apaixonado do Uirapuru. 

 A melodia da ancestralidade

Eu sou a terra, eu sou a vida, eu sou a raiz ancestral, sou o início e o fim. Vi durante anos e anos brotarem de mim povos e civilizações. O som que parte da ancestralidade e conhecimento indígena, pulsa do coração aldeia em noite de festa, ecoando por cada palmo de chão da Amazônia. Eu sou o chacoalhar do maracá, o doce canto da flauta, o rufar dos tambores tribais que se manifestam em toque de guerra ou de festa… Emano pulsações rítmicas para cada índio que brada por seu local, seu chão, sua tribo e sua floresta. Eu sou o clamor do pagé, a risada do curumim e da cunhatã, o canto da tribo celebrando seus ritos. 

Estou no canto de festa, na reza dos ritos, no grito de guerra, eu estou na melodia que parte da terra Ancestral e que se comunica com quem entende os direitos da terra, e preserva os direitos desse solo, canta, dança, brada e guerreia… Índio do Brasil!

 Resisto no bater de pés descalços sincronizados com o chão da aldeia a ligação com terra, com a origem! Sinto cada lágrima derramada por cada índio ameaçado e me faço presente, pois sou a melodia que ecoa também nos soluços de dor e desespero ao ver seu hábitat sendo devastado por gananciosos madeireiras e cobiçadores que insistem em fazer do verde da floresta apenas pasto.

Logo oficial do enredo

A melodia do saber ribeirinho

Eu me faço presente na sabedoria que é passada de geração em geração. Estou na oralidade que é contada pelos mais velhos aos jovens de cada comunidade ribeirinha.

 Sou o “zum zum” dos barcos que vão e vem por esses rios, existo em cada palha de buriti que se tornam cestas e ornamentos, estou no barro que vira vaso, pote, urna… Sou a reza da beata, a força da parteira, os cânticos das benzedeiras. Sou parte da rede que mergulha no rio em busca de peixe para o pescador, a gota de látex que escorre na seringueira, a planta que se comunica com o caboclo mateiro. Eu vi e vejo os ensinamentos se perpetuarem com o passar dos anos, ensinamentos esses que precisam guerrear para se manterem vivos pelos próximos anos.

A Melodia da Cultura Popular

Sou fé, sou rito, sou religião. Faço-me presente nos andores, nas chamas das velas, em cada terço. Estou no pensamento, na oração, na pensar e no cântico entoado e levado aos céus.

Sou Círio, cordão, procissão, círculo de oração… Acompanho os fiéis romeiros aonde vão: pela terra cortando ruas de igreja em igreja, na sacada das casas, nos altares e oratórios e nas águas serpenteando os rios e igarapés na alvorada conduzindo o “cardume” de embarcações que seguem os santos de adoração do povo.

Sou alegria, dança, toada, brega… Carimbó, ciriá, marujada! O toque forte do tambor ecoa alcançando o mundo, amplificado pela força da cultura popular, me faço de palco para os çairés, botos, índios, caboclas e todas as manifestações desse pedaço verde de chão. Sou a orquestra da vida que rege no teatro verde da Amazônia uma sinfonia de amores. 

Pano, espuma, veludo, cetim… Azul, vermelho, gingado, ritmo e tradição. Eu existo na euforia de cada torcedor “azulado” ou “encarnado”, no grito das torcidas, no brilhar das estrelas do céu ou no bater dos corações na terra. Sou a melodia que encanta uma nação.

 Eu sou a poesia que brada da floresta, a mãe de toda a vida, os regentes da orquestra verde que pulsa da Amazônia, eu vivo, eu existo para lutar e eu brado para resistir e assim, continuar perpetuando em mim a melodia que vem da selva.

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