Imperatriz Itaocarense traz Itaocara sob a visão lírica de Patápio Silva em sua estreia no Grupo Especial

A vice-campeã do grupo de acesso GRESV Imperatriz Itaocarense divulgou a sua sinopse para o Carnaval Virtual 2019. Em sua estreia no Grupo Especial, a escola buscará o título pedindo passagem para contar a história da terra que a viu nascer: Itaocara, sob a visão lírica de seu maior ícone cultural Patápio Silva com o enredo “Aldeia da Pedra nos sopros do compositor” de autoria dos carnavalescos Walter Gualberto Martins e Manoel Moraes da Silva Júnior.

 

FICHA TÉCNICA

Presidente: Manoel Moraes da Silva Júnior
Vice-presidente: Moisés Silva
Diretor de Carnaval: Thiago Lepletier
Diretor Artístico: Victor Raphael
Diretor de Bateria: Alex Basílio
Rainha de Bateria: Jéssica Oliveira
Intérprete: Igor Sorriso
Carnavalescos: Walter Gualberto Martins e Manoel Moraes da Silva Júnior

 

ENREDO:

Aldeia da Pedra nos sopros do compositor

 

JUSTIFICATIVA

Ao ser fundado, em 2015, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Itaocarense fundamentou-se pela exaltação da cultura nacional, sobretudo na ênfase de valorização dos artistas do interior fluminense, artistas estes escondidos pelo anonimato ou esquecidos pela história, mas que tem uma parcela considerável pela formação, resgate, propagação e crescimento das manifestações culturais que formam o verdadeiro cidadão brasileiro.

Seguindo este contexto, ao estrear no grupo especial a Imperatriz vem, humildemente e respeitosamente, pedir passagem para contar a história da terra que a viu nascer – Itaocara, sob a visão lírica de seu maior ícone cultural, simplesmente Patápio Silva, tido por muitos como o maior flautista que este país já possuiu.

Nascido mulato, pobre, neste rincão interiorano, no fim do século XIX, viu na persistência e na luta, os combustíveis que alimentavam o sonho de se formar músico. Morreu muito jovem, aos 26 anos, pouco para quem poderia ter contribuído ainda mais para a música brasileira, mas o suficiente para provar que seu sonho não foi em vão. Entrou para o hall dos heróis negros desta nação e até hoje é inspiração para os itaocarenses, em especial, pelo seu amor por esta terra e como exemplo de resistência aos nãos que a vida por vezes oferece… A cultura popular local afirma que seus sopros flautistas encantam em beleza e fazem viajar nas memórias vivas da cidade aqueles que por alguns instantes param para contemplar o amanhecer e o entardecer à beira do velho Paraíba do Sul. Patápio ainda vive e a todo instante compõe uma nova canção onde o cenário é seu berço: Itaocara de ontem, de hoje e de sempre…

Avante Imperatriz Itaocarense!!! Avante Itaocara!!! O carnaval virtual espera por vocês!!!

 

SINOPSE

Alvorece em terras itaocarenses… A passarada faz festa sobre as copas dos avermelhados flamboyants numa cantoria que mais faz parecer uma orquestra em dia de gala. Canários, maritacas, sabiás e bem-te-vis juntam-se ao burburinho do velho Paraíba do Sul com suas águas vencendo os rochedos numa incessante correria em busca do mar campista…

Vez em quando se agitam os galhos dos ingazeiros anunciando a chegada do vento a soprar como se fosse flauta, a sonorizar ainda mais a paisagem… Há quem diga que é o sopro dos espíritos. Outros são mais categóricos e afirmam reconhecer as notas musicais e as atribuem a Patápio Silva, maior flautista brasileiro e ilustre filho deste chão, e a sua “flauta encantada”, que a todo amanhecer fica a compor canções que contam a história deste rincão – seu “primeiro amor” – em chorosas e eruditas melodias…

Certos dias a flauta sopra mais forte, Tupã risca o céu, estremece a terra, as águas se turvam em enchentes e o concerto encena as guerras que as tribos indígenas dos Puris e Coroados, em meio aos Coropós e Botocudos, travavam quando desembarcou o capuchinho Frei Thomás de Castelo, vindo da cidade de São Fidélis, com a incumbência de pacificá-los, catequizá-los e erguer a única igreja do Brasil dedicada a São José de Leonisssa, embrionando assim o povoado de São José de São Marcos ou antiga Aldeia da Pedra, de onde até hoje se contempla o grande rochedo que emerge das águas e que originou seu nome.

Outras vezes, o choro de Patápio relembra seus ancestrais do negro continente, como se fossem folhas a se desprenderem das árvores com o vento para mergulharem nas águas ou beijarem o solo. Os passos à beira rio, com a sonoridade das folhas secas a se quebrarem sob os pés, soam como correntes e grilhões a aprisionarem os sonhos de liberdade… Os africanos foram testemunhas do início de uma transição que gerou a metamorfose das grandes florestas em extensas lavouras, das pequenas aldeias em grandes fazendas, do povoado de São José de São Marcos à freguesia de São José de Leonissa da Aldeia da Pedra, onde a mão negra rasgava o solo, lançava o grão e o café assumia o seu protagonismo econômico… Com o tempo o café se foi e a cana de açúcar entrou em cena… Os engenhos prosperaram e, na contrapartida da realidade, a sociedade enxergou a dor e aboliu em muitos deles a escravidão, antes mesmo da áurea lei ser assinada, fazendo destes confins um reduto de abolicionistas.

Não só os africanos nestas bandas pisaram, mais tarde, também imigrantes europeus, sírios e libaneses chegaram, consolidando a miscigenação e diversidade deste povo democrático que nos anseios por ares republicanos nunca deu importância às visitas do imperador D. Pedro II. O esforço e a luta por estes ideais foram recompensados com a emancipação da freguesia antes mesmo da recém proclamada República completar um ano. Iniciava-se assim uma nova era de ordem, progresso e esperança no agora, município de Itaocara.

Nos dias mais frios o amanhecer é ainda mais bonito… A névoa repousa sobre o rio e cria o suspense do ato que está por vir. Pouco a pouco a “cortina de fumaça” se desfaz com os raios solares, revelando águas límpidas a se agitarem a cada mergulho dos pássaros que se banham como os antigos nativos. O rio, em sua limpidez, reflete o céu “noturno” do interior nos meses de inverno, salpicado de estrelas a piscar tal qual fagulha a dançar em volta da fogueira que ilumina e aquece as danças de quadrilha nos festejos em louvor aos santos juninos… Tempo em que as composições “patapianas” remetem às polcas e danças de salão que influenciaram algumas festividades locais. E elas não são poucas! São de origem negra, portuguesa, popular… Há folias em homenagem aos magos reis em janeiro, tem boi pintadinho nos carnavais de fevereiro. Já teve cavalhada e caxambu. Mineiro pau e roda de samba tem o ano inteiro.

Se o vento que chega nas manhãs é perfumado, é certo avistar, em meio aos pássaros, um ou outro “beija-flor” a flertar a “margarida” do jardim da velha praça, com seus canteiros coloridos que rodeiam ímpares monumentos… Do alto, o velho Moisés guarda os mandamentos e a cidade, contempla a paisagem enquanto Diana, a caçadora, sente saudade de Adão e Eva, que, expulsos pelo tempo, deixaram este paraíso para morar na memória de quem conviveu com o seu criador Manoel Florentino e o prefeito Carlos Faria Souto, que transformou a cidade em um centro cultural a céu aberto, ou então com Watson e Eliana Macedo que se eternizaram na sétima arte da extinta Atlântida, e com tantos outros que escrevendo o nome na história deste rincão, elevaram a “Princesinha do Paraíba” a celeiro das artes nacionais… Ah!!! Como Itaocara floresceu, floresce e ainda há de florescer para as artes, sobretudo inspirada na imagem perfeita do herói Patápio que, vencendo os preconceitos e obstáculos, transformou-se no num renomado flautista.

Nesta “fantasia de concerto”, que se renova a cada manhã, o flautista há de continuar a compor e relembrar muitos atos de glória e esplendor que as páginas brancas do livro da história reservam para esta terra querida que hoje a Imperatriz orgulhosamente desfila na avenida em mais um carnaval virtual…

 

BREVE CRONOLOGIA

ITAOCARA

Final do século XVIII e início do Século XIX – Viviam na região de Itaocara indígenas das tribos dos Botocudos, Coropós, Puris e Coroados, sendo estas duas últimas inimigas e, estando em constantes conflitos, acabavam por gerar instabilidade entre todos os aborígenes. Freis capuchinhos da Matriz de São Fidélis, a quem pertenciam estas terras, tentavam encontrar um local e autorização para fundar uma nova vila.

1809 – Frei Thomás de Castelo recebe autorização para criação do povoado que recebe o nome de São José de São Marcos, em homenagem ao último vice-rei do Brasil (Dom Marcos). Os índios não aceitam o nome e continuam a chamar o local, como era o costume, de Aldeia da Pedra.

1812 – O bispo José Caetano da Silva Coutinho eleva o local a Curato sob o nome de São José de Leonissa da Aldeia da Pedra.

1850 – São José de Leonissa da Aldeia da Pedra é elevada a freguesia.

1890 – Em outubro, São José de Leonissa da Aldeia da Pedra é elevada a município de Itaocara. Do tupi, ita = pedra, ocara = praça, aldeia.

 

PATÁPIO SILVA

1880 – Nasce, na freguesia de São Joé de Leonissa da Aldeia da Pedra, Patápio Silva, filho primogênito do barbeiro português Bruno José da Silva e da negra Amélia Medina da Silva.

1896 – Patápio começa a integrar bandas musicais nas cidades de São Fidélis (RJ), Santo Antônio de Pádua (RJ), Miracema (RJ), Palma (MG) e Campos (RJ).

1900 – Aos 20 anos muda-se para o Rio de Janeiro, com o objetivo principal de ingressar no curso de flauta do Instituto Nacional de Música.

1901 – Patápio é admitido no curso de flauta do Instituto Nacional de Música.

1902 – Com apenas 22 anos, Patápio torna-se o primeiro instrumentista solo a realizar gravações fonográficas para serem comercializadas em escala industrial no Brasil, através da Casa Edison.

1904 – Em fevereiro, Patápio vai ao Instituto Nacional de Música receber a flauta de prata como prêmio pelo primeiro lugar alcançado no concurso do instituto que era oferecido aos alunos concluintes, prêmio este que desapareceu, antes mesmo de sua entrega, gerando constrangimento ao jovem músico. A referida flauta reapareceu três meses depois quando o episódio já havia se popularizado e sendo conhecido como o caso da “flauta encantada”.

– A composição “Amor Perdido” do flautista alcança o primeiro lugar entre as mais comercializadas no país.

1905 – Inicia uma série de viagens para divulgação de seu trabalho e aquisição de fundos para custear seu sonho maior que era estudar na Europa, começando neste referido ano pela cidade de São Paulo e chegando a passar por Santos, Batatais, Guaratinguetá, São João da Boa Vista, Caldas e Curitiba.

1907 – Morre, aos 26 anos, de maneira misteriosa, na cidade de Florianópolis, o compositor itaocarense, deixando um legado que se perpetua até hoje, sobretudo entre os acadêmicos musicistas. Deixou composições como “Primeiro Amor”, “Margarida”, “Beija-flor”, “Noturno”, “O Sonho”, “Fantasia de concerto”, entre outras. A respeito dele, escreveu Lima Barreto, após sua morte:

“De uns tempos a esta parte, porém, a flauta caiu de importância, e só um único flautista dos nossos dias conseguiu, por instantes, reabilitar o mavioso instrumento – delícia, que foi, dos nossos pais e avós. Quero falar do Patápio Silva. Com a morte dele a flauta voltou a ocupar um lugar secundário como instrumento musical, a que os doutores em música, quer executantes, quer os críticos eruditos, não dão nenhuma importância. Voltou a ser novamente plebeu.”

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BURMEISTER, H. Viagem ao Brasil através das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Tradução de Manoel Salvaterra e Hubert Schoenfeldt. Editora Itatiaia Limitada. Belo Horizonte, 1980.

PIZA, M.T. Itaocara, antiga aldeia de índios. Diário Oficial. Niterói, 1946.

MAXIMILIANO, Principe de Wied-Neuwied. Viagem ao Brasil. Tradução de Edgar Sussekind de Medonça e Flávio Poppe de Figueiredo. Editora Itatiaia Limitada. Belo Horizonte, 1989.

SCISÍNIO, A. E. Itaocara – Uma democracia rural. Imprensa Oficial. Niterói, 1990.

DEBRET, J.B. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Tradução Sérgio Milliet. Imprensa Oficial. São Paulo, 2015.

OLIVEIRA, M. de L. Patápio Silva, o sopro da arte. Trajetória de um flautista mulato no início do século XX. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2007.

 

INFORMAÇÕES DA DISPUTA DE SAMBA

– Escola encomendará a obra.

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