Imperatriz Itaocarense cantará o Duque de Santo Tirso no carnaval 2023

Logo oficial do enredo

Após a 6ª colocação no carnaval passado, o GRESV Imperatriz Itaocarense apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo Especial do Carnaval Virtual 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

De autoria do carnavalesco Walter Martins, a representante de Itaocara/RJ irá apresentar o enredo “Duque de Santo Tirso”, abordando a história do Mão de Luva.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela agremiação:

“Duque de Santo Tirso”

Apresentação

Para muitos historiadores Mão de Luva foi um dos muitos aventureiros que invadiu os Sertões de Macacu a fim de contrabandear ouro. Descoberto, caiu em desgraça. 

Para o povo virou lenda e de boca em boca, geração em geração, acabou por se tornar um herói injustiçado que perseguido pela Coroa Portuguesa, perdeu tudo e no interior da Província do Rio de Janeiro se tornou “rei”, responsável pelo surgimento de uma cidade e pela abertura da ocupação dos seus sertões. 

Alicerçada na cultura popular e inspirada nos romances e lendas que nosso herói inspirou ao longo dos anos, a Imperatriz vem contar no Carnaval Virtual de 2023 a versão romanceada da saga do Duque de Santo Tirso – o Mão de Luva.

Sinopse

O dia ainda não tinha terminado e a fidalguia portuguesa já se preparava para a grande noite no Palácio de Queluz. O belo solar real, já se encontrava todo decorado para que os anfitriões recebessem seus convidados. A festa fazia parte de um costume antigo, quando a realeza se reunia e mostrava aos nobres lusitanos e a representantes das nações amigas, todo o poderio de Portugal através de muita pompa, com grandes banquetes regados a vinho do porto e muita dança. 

Esse, mais do que nunca, era um baile importante para reafirmar a capacidade de superação portuguesa, afinal, haviam se passado apenas três anos do grande terremoto que devastou Lisboa. Além disso, a infanta Maria, primogênita do rei Dom José I e da rainha Mariana Vitória, herdeira do trono, começaria a criar oficialmente laços diplomáticos com os representantes de outras monarquias européias, pavimentando assim o caminho para que no futuro, já monarca, tivesse boas relações internacionais. A festa  para ela, seria também um ótimo momento para reencontrar o jovem Manoel Henriques, Duque de Santo Tirso, com quem trocava juras de amor pelos corredores do Paço de Madeira. Ambos, embora muito apaixonados, sabiam da dificuldade de convencer Dom José a aceitar o namoro… Não pela vontade dele, mas pela influência do seu Ministro de Estado, Sebastião José de Carvalho, futuro Marquês de Pombal, em todas as decisões reais, principalmente no casamento da princesa. Dom Pedro, tio de Maria, era o preferido do ministro.

E a noite, como planejado, foi esplendorosa. As famílias tradicionais portuguesas desfilaram seus melhores trajes ostentando suas mais brilhantes jóias. Os brindes se multiplicaram pelos grandes salões que estavam ainda mais belos… O auge foi o grande baile na sala das serenatas quando a princesa dançou alternando o par com muitos jovens que ainda tinham esperança de conquistar o coração mais cobiçado do reino. Mas o grande sorriso da infanta só iluminou o ambiente quando o convite veio do jovem que amava. Maria e Manoel Henriques por instantes esqueceram as preocupações e deslizaram pelo salão como se não fossem observados por todos, sobretudo por Sebastião José que, astuto como águia, percebeu o sentimento que unia os olhares do jovem casal e decidiu acelerar as conversas com Dom José sobre o casamento real.

O futuro Marquês de Pombal de fato havia conquistado a confiança do rei, principalmente após seu papel na reconstrução de Lisboa. Mas sua ascensão e perseguição a alguns importantes nomes da corte acabou gerando incômodo na nobreza, culminando num plano de atentado contra sua vida. Entre os envolvidos estavam membros da família Távora, alguns jesuítas, o Duque de Aveiro e Santo Tirso. 

O plano elaborado consistia em interceptar a carruagem que conduzia o ministro e matá-lo. E assim o fizeram. Atiraram na carruagem. Porém acertaram a pessoa errada, pois quem estava sendo conduzido era na verdade o rei, que mesmo ferido conseguiu chegar ao Paço. Lisboa acordou empolvorosa com a notícia da tentativa de regicídio.

Em pouco tempo os envolvidos foram descobertos, presos, torturados, julgados e condenados à morte, exceto um: Santo Tirso. Sua vida foi preservada graças às súplicas de sua amada junto ao rei que permitiu-lhe continuar vivendo, porém retirou-lhe todas as riquezas e títulos. Manoel Henriques foi ainda condenado ao exílio eterno nas terras do Brasil e, na noite anterior a sua partida recebeu a visita de Maria nas masmorras de Belém.

A infanta enfrentou todos os perigos para que pudesse ajudar seu amado. Disfarçada, chegou à porta da cela e, separados pelas grades do fétido ambiente, lhe presenteou com um crucifixo de diamantes, um saco de moedas e lhe instruiu a ir para as terras de Minas Gerais onde poderia enriquecer-se rapidamente. Rico e com prestígio recuperado, receberia ainda a sua ajuda quando subisse ao trono para que pudesse retornar a Portugal. E, por último, beijou sua mão direita e pediu que daquele dia em diante usasse na mesma mão uma luva preta para que a mantivesse sem manchas até o dia que iria novamente tocar a mão de sua amada. 

E assim Manoel Henriques o fez. Calçou a luva destra e na manhã seguinte foi degredado para a colônia portuguesa. Já a bordo do navio que o trazia foi batizado pelo capitão como Mão de Luva, codinome que o caracterizou nas terras que se tornaram seu novo lar. 

Por aqui, desembarcou no Rio de Janeiro, onde pode entender as engrenagens que faziam a colônia seguir seu rumo. As casas, em sua maioria, eram pequenas e grudadas umas às outras. As ruas estreitas eram sujas, mal calçadas e pouco iluminadas. Nelas transitavam diariamente filas e mais filas de negros acorrentados vindos da África, financiados pelos traficantes, grandes proprietários de terras e pelos mineiros. Do interior chegavam tropas de mulas carregadas de produtos agrícolas para serem comercializados ou encaminhados à metrópole. No porto também se via navios carregados de ouro e diamantes que custeavam a vida da corte lusitana e viabilizaram, anos antes, o ressurgimento de Lisboa. Toda essa carga era fruto da cobrança de 1/5 sobre a produção das minas, imposto este que gerava descontentamento geral, como pode notar Mão de Luva nas conversas escondidas ao longo de noites nas tabernas.

Sua estadia na cidade foi rápida, afinal precisava partir para as terras onde imperava a riqueza e, após se associar a outros dois aventureiros rumou para Vila Rica. No caminho para Minas Gerais acabaram sendo capturados por quilombolas súditos do Soba Cabinda de quem se tornaram cativos por alguns dias. O líder quilombola quis mostrar na prática o que os brancos faziam com os africanos e, Mão de Luva compreendeu bem tudo o que eles passavam nas terras brasileiras.

Uma vez libertos, seguiram seu destino e alcançaram Vila Rica, a terra de Ofir de tantos faiscadores que se aventuravam em busca do vil metal. Mão de Luva observava atento tudo ao seu redor e se impressionava com a quantidade de pessoas arrastadas pela auri sacra fama. As casas, as ruas, as tabernas, a casa de fundição, tudo era descortinado aos olhos do exilado português que meio atônito se encaminhou para dentro de uma das igrejas para rezar. Encantado com o que via no interior do belo templo dedicado a Nossa Senhora do Pilar, prostrou-se ao chão e clamou a bênção de Deus para a nova vida que a partir daquele momento iria começar. Lembrou-se de Maria, sua amada, e prometeu em pensamento trabalhar noite e dia para que mais rápido pudesse tê-la em seus braços.

Assim Mão de Luva e seus companheiros se alojaram na floresta às margens do córrego do Tripuí, longe das vistas da guarda e de aventureiros que, assim como eles, buscavam explorar o ouro clandestinamente, sem a menor obediência ao cumprimento do imposto real ao qual muitos chamavam de quinto dos infernos. 

Ali ficaram por seis anos, encontrando ouro nos afluentes do Tripuí, até que foram descobertos pela guarda e tiveram que partir às pressas, carregando consigo apenas as roupas do corpo e o saco com o ouro acumulado ao longo deste período.

Resolveram então se aventurar nas terras do Sertão de Macacu, vasta região da província do Rio de Janeiro, que se estendia desde Campos dos Goytacazes até Santo Antônio de Sá, e que era ocupada por tribos dos Coroados, Puris e Coropós, a quem a Coroa designava como tribos de índios bravos. A entrada nesta área era proibida por Portugal, pois queriam evitar os extravios de ouro e diamantes de Minas através dos  descaminhos. Afinal, havia uma estrada real, onde a fiscalização era atuante e por lá é que os brasileiros deveriam trafegar.  

Mão de Luva e seu grupo atravessaram o Rio Paraíba do Sul e, longe da fiscalização portuguesa, enterraram o saco de ouro e fizeram um mapa do local. Depois deram início à exploração da região até alcançarem as margens do rio Bossaraí, onde encontraram um grupo de aventureiros. O objetivo comum de encontrar ouro naquelas terras uniu os dois grupos que em unanimidade elegeram Manuel Henriques como líder. 

Logo oficial do enredo

E, durante 18 anos, Mão de Luva reinou nos Sertões de Macacu, erguendo um aldeamento de terras férteis, vastas plantações de cereais e belos pomares. Sua autoridade era respeitada em toda vizinhança. A fama de líder corria terras e repercutia longe. Tornou-se famoso e as histórias a seu respeito correram de boca em boca. Para uns era um homem misterioso com poderes sobrenaturais, capaz de fazer cavalos saltarem sobre telhados de casas graças aos poderes de uma bolsa que carregava pendurada ao pescoço. Para outros um homem de sorte que se aventurou e enriqueceu, conquistando prestígio e poder. 

Porém, para as autoridades tratava-se de mais um contrabandista que deveria ser punido com os rigores da lei. E, diante das histórias de ocupação dos sertões proibidos, o governador de Minas Gerais organizou uma expedição para mapear a região e localizar o bando. Separados em dois grupos, uma vez atravessado o Rio Paraíba do Sul, os dragões partiram para caminhos diferentes. O pequeno grupo que procurava o povoado de Mão de Luva, depois de dias de batidas em vão na densa floresta, já se organizava para retornar à Vila Rica, quando ouviram o cantar de um galo. Logo, o sargento mór deduziu que seria ali a aldeia. Ao invadirem o local foram recebidos a tiros, pedradas e pancadas. Os dragões não tiveram alternativa a não ser recuar. Foram enganados por um dos homens do vilarejo que haviam interceptado na mata. Enquanto este conduzia a tropa à região do aldeamento, conseguiu enviar um mensageiro à Mão de Luva que organizou a armadilha.  

As autoridades de Minas unidas às do Rio de Janeiro, não satisfeitas com a presença e a vitória do bando, organizou uma nova estratégia, enviando emissários e uma carta à Mão de Luva prometendo a regularização das minas descobertas por ele, dando posse das terras aos moradores, assim como havia ocorrido com outros homens no passado. Manoel Henriques arriscou confiar na promessa, sobretudo depois de ir ao encontro do Governador em Vila Rica e de lá retornar com a garantia de proteção. Porém, tempo depois, uma nova expedição invadiu o lugarejo prendendo o líder e outros garimpeiros. 

Os homens foram encaminhados para Vila Rica onde ficaram presos e em 1786 foram julgados. A maioria foi condenada à prisão no Rio de Janeiro e Mão de Luva novamente foi condenado ao exílio, mas agora em Moçambique. A aldeia passou a ser administrada pelo governo que repartiu datas de exploração de ouro entre muitos dos seus aliados, fazendo com que agora passasse a ser conhecida como Arraial de Cantagalo, em homenagem ao galináceo que apontou onde o bando se escondia.

Na viagem para a África, Manoel Henriques faleceu. Em Portugal, a Rainha Maria I reinava absoluta. Havia enviuvado de seu marido (e tio) Dom Pedro III há poucos anos. Certa manhã recebeu a visita de um frade que lhe contou a história de Manoel Henriques nos sertões do Brasil e lhe entregou, cumprindo o último desejo de Mão de Luva, um misterioso embrulho. Ao abri-lo sobre a mesa,saltaram aos olhos estáticos de Dona Maria um crucifixo de diamantes e uma luva preta… Desde então, a rainha enlouqueceu.

Mão de Luva tornou-se lenda e até hoje há quem procure nas terras de Cantagalo e região o ouro enterrado nos sertões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Sebastião A. B. de. O tesouro de Cantagalo. Niterói: Centro de Estudo e Pesquisa Euclides da Cunha, 1991.

DIAS, Acácio Ferreira. O Mão de Luva – Fundador de Cantagalo. Niterói: Imprensa Oficial, 1953.

OLIVEIRA, Rodrigo Leonardo de. O “Mão de Luva” nos Sertões de Macacu: fatos e versões. Revista Impressões Rebeldes. Ano 8, n. 1 (jan-jun), 2020. Disponível em: <https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revista/o-mao-de-luva-nos-sertoes-de-macacu-fatos-e-versoes/>. Acesso em 10 de março de 2023.

OLIVEIRA, Rodrigo Leonardo de Sousa. “Mão de Luva” e “Montanha”: bandoleiros e salteadores nos caminhos de Minas Gerais no século XVIII: Matas Gerais da Mantiqueira: 1755-1786. Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2008. Disponível em: <https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/2927/1/rodrigoleonardodesousaoliveira.pdf>. Acesso em 10 de março de 2023.

VIVES, Vera de. Descobertos e Extravios – História de Maria I e Mão de Luva. Rio de Janeiro: Editora Record, 1997.

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