Flor de Lótus homenageia Abdias do Nascimento em seu enredo para o Carnaval Virtual

O GRESV Flor de Lótus divulgou ontem sua sinopse em Homenagem a Abdias do Nascimento, ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, para o Carnaval Virtual 2019 no dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Após o 4º lugar no grupo especial do carnaval passado, a escola buscará o título com o enredo “Sangue Brasil! Abdias do Nascimento – O leão africano pede passagem” de autoria de Marcos Felipe Reis, a confecção do logo ficou por cargo de Jorge Silveira e Netto Gomes.

FICHA TÉCNICA

Presidente: Guilherme Lima
Vice-Presidente: Osvaldo Júnior
Carnavalesco: Júlio César Rossolen
Intérprete: à definir

Sangue Brasil! Abdias do Nascimento – O leão africano pede passagem

Autor: Marcos Felipe Reis

Contam, na velha e sábia história
Que o universo vive em constantes trocas
Num eterno vai e vem de fatos
E que os grandes griôs não descansam jamais…
Numa noite escura, onde as estrelas bordavam o céu
Uma fogueira ardia e crepitava enquanto clareava rostos
Rostos estes marcados pelo tempo
É o preço que se paga por tanta sabedoria…

E um destes rostos trazia consigo o semblante de um leão
Os olhos negros fitavam o calor que envolvia todo aquele corpo
Enquanto ele se lembrava dos tempos que passaram…
Abdias Nascimento construiu sua luta em meio à grande luta racial
Desenhando suas cicatrizes no mesmo ritmo
Em que apareciam em seus irmãos de pele
Após anos e anos absorvendo as palavras de seus antepassados
Partiu então para a grande São Paulo
Pelas linhas de frente da força nacional (a)
Contabilizando as injustiças
Enquanto o drama de carregar a sua cor lhe acompanhava
Pela Frente Negra deste nosso Brasil
Transformando sua vida num grande Experimento negro…(b)

Este grande Imperador (c)
Sempre que ia à batalha
Levava consigo a cultura e os estudos como armadura
A alfabetização lhe diferenciava pela cor
E mesmo que proibido, dançava pelas noites da vida
Dando voltas e pontapés no preconceito do dia-a-dia
Subia então o Morro da Mangueira para alimentar sua fé
Recorrer ao sagrado para sempre pedir força

É por entre os becos e vielas
Que o negro se esgueira em busca do sol
Cantava, batucava, jongava
Tinhas várias facetas, era artista!
Tendo o teatro como boca de cena
E a luta como seu ideal
Fundava seus estudos afro-brasileiros
Riscando o chão com histórias que sempre ouvia
Era o Museu da Arte que ali surgia

Ah, se o povo pudesse te ouvir
Como um rugido bravo de quem clamava igualdade
E que ganhara força vinda de noites de exílio
E ouviu!
O grande leão foi para os braços do Rio
Sendo o primeiro de sua cor a sentar na cadeira do poder
Levando aquelas palavras da noite escura a diante
Com toda a valentia e a astúcia de um predador
Marcando dali em diante nosso 13 de maio abolidor
O grande 20 de novembro quilombola
Que ecoam sem volta nos dias de hoje

(a) Referência à Frente Negra Brasileira
(b) Referencia ao Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias
(c) Referência à peça “Imperador James”, grande sucesso de Abdias como diretor