Estrela Guia trará os monstros criados pela humanidade em 2021

Logo oficial da agremiação.

A verde, branco e ouro de Santos, cidade do litoral paulista, apresentará em 2021 o enredo Besta é tu de autoria de seu carnavalesco, Thiago Santos. A escola presidida por Rafael Colaço fará sua estreia no Grupo Especial do Carnaval Virtual exaltando os monstros criados pela humanidade para esconder suas moralidades, angústias e desejos cotidianos na busca pelo título inédito de campeã do Grupo Especial.

Confira abaixo a apresentação e a sinopse da agremiação:

Logo oficial completo da agremiação.

Em 2021 o GRESV Estrela Guia estreia no grupo especial dos desfiles virtuais com o enredo “Besta é tu”, tentando “assustar” as co-irmãs, revela em que medida o homem se espelha na sua imaginação e projeta nos monstros seus conceitos morais, angústias e fantasias. Mostraremos que todo monstro tem sua história, afinal, eles sempre existiram entre nós e foram amados em uma estranha combinação de medo e prazer.

Sinopse
Idade Média. A razão ainda não domina o universo e o mundo ainda é uma terra incógnita, cujas fronteiras dos mistérios aguardam para serem devassadas. O universo romano sobre-humano precede a Idade Média gótica e nesse período, o Oriente transmite ao Ocidente ornamentos e um bestiário fantástico, que são assimilados e integrados aos seus sistemas culturais. Na imaginação de Plínio, o Velho, romano criador de tantas histórias de monstros, estes seres habitavam uma grande floresta na fronteira do desconhecido, sentido Oriente.
Essas velhas histórias impressionaram Agostinho, o Santo, que se perguntava se os monstros seriam criaturas de Deus, descendentes de Adão? Se tinham algo a mostrar, manifestar, predizer ou anunciar a vontade do Criador? Nas reflexões de Agostinho, monstros, homens ou raças, faziam parte do mundo e concorriam para sua beleza.

Assim, monstros e maravilhas penetram nos domínios da arte religiosa gótica. Além de enfeitar pórticos, capitéis e iluminuras, eles passam a encontrar seu lugar em bestiários, livros que somavam descrições de animais verdadeiros e imaginários. Nestes, a ênfase na moralidade, apregoada pela Igreja católica, dá novo sentido alegórico aos monstros. Concilia-se filosofia e religião popular e as entidades mitológicas ganham um significado espiritual na prática do ensinamento de bons costumes.
Terror e encantamento se misturam. Os volumes são magnificamente iluminados por grandes artistas, que combinam as imagens com os textos em forma de fábulas, transmitindo características de animais fantásticos como, unicórnios, leões, faunos e dragões. Esses animais transmutam-se em signos na disseminação do conhecimento das sagradas escrituras, que colorem as bibliotecas de igrejas e mosteiros. As representações monstruosas se transformam de acordo com o momento temporal e seu poder de sedução é tão grande que, até finais da Idade Média, são motivo de obsessão de cartógrafos, moralistas e viajantes utópicos, que se aventuravam pelos confins da Terra.

Mas, o cenário muda radicalmente, já que sob o efeito de várias calamidades como, a Peste Negra, a interminável Guerra dos Cem Anos e a inquietação da crença da chegada do Anticristo, multiplicou-se o mal-estar social. As noções formais do bem e do mal ficam mais proeminentes e um delírio místico se apodera das interpretações genéticas das bestas. A origem monstruosa sofre influência positiva ou nefasta de Deus e do Diabo e a permanente rixa cria seres perfeitos ou monstros deformados. Homens marcados por sinais físicos não podem oferecer serviços a Deus. Nessa lógica, o mudo revela, no silêncio, a intimidade com as trevas. O surdo é insensível a palavra de Deus, o cego tem os olhos queimados pelo calor do inferno, o corcunda traz o peso da sua maldição nas costas, sobre a qual se senta seu mestre, o Diabo.

No Renascimento, os monstros saltam da zoologia fantástica dos bestiários para espetáculos e textos literários, numa tentativa de exorcizar as inseguranças políticas e econômicas. Homens e mulheres empurram-se nas feiras, seja para ver as pinturas de peixes estranhos, adestradores de babuínos, quer seja para comprar tônicos feitos com chifres de unicórnios das mãos de boticários, ou mesmo adquirir brochuras baratas anunciando nascimentos monstruosos ou que relatam as aventurescas viagens ao Mundus Novus.

Nas viagens ultramarinas, monstros e monstrengos seguem a rota em direção ao Oeste. Aportam juntos com os primeiros colonizadores na Terra Brasilis. Ora se acha que o novo mundo é habitado por seres que descendem de Adão, ora que é endereço fixo do demônio, morada de malignas criaturas exorcizadas e que agora querem se vingar. As variações e combinações possíveis, tiradas de diferentes reinos da natureza, eram infinitas no insólito imaginário europeu. No Brasil, ganham possibilidades prodigiosas com o antropófago, o tucano, a preguiça e o abacaxi.

No decorrer dos tempos, o bestiário brasileiro ganha influência diversa e encontra moradia em diferentes manifestações folclóricas. Nas expressões populares, dá asas à fértil imaginação do povo para apontar e zombar do diferente. Expressões como: “Que diabo é isso?”; “Filhote de cruz credo!”; “Cão chupando manga!” – caracterizam o indivíduo diferente dos padrões. Tudo no mesmo balaio, o movimento armorial, idealizado por Ariano Suassuna, mistura o folclore medieval europeu com elementos da cultura popular brasileira em diferentes linguagens. Bebendo muito do realismo mágico sertanejo e dos manuscritos bestiários.

No cenário político brasileiro, movimentos são bestializados por quem tem ideais diferentes. Nos anos de 1970, o movimento Desbunde, com escracho e gozação, propôs encontrar um pensamento alternativo ao sufocante contexto que a ditadura impunha. A contracultura seria uma alternativa de questionamento lúdico e comportamental. Encarar a vida com mais alegria, combater a caretice, o mau humor, os preconceitos e a falsa moralidade de ideias medievais. Vários exemplos ainda fazem parte do imaginário popular: as performances abusadas do Dzi Croquettes, a anarquia de O Pasquim, o colorido e o barulho da Tropicália e o swing dos Novos Baianos, que com muito deboche cantaram “Besta é tu”, cuja letra é uma convocação a abandonar velhos ideais e viver o mundo em liberdade.

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