Conheça a sinopse do enredo da Comunidade do Samba para o Carnaval Virtual 2020

A ARV Comunidade do Samba divulgou hoje seu enredo para a disputa do Grupo de Acesso do Carnaval Virtual 2020, a escola irá cantar o enredo “Quem levou a perna do Saci?” de autoria do carnavalesco da agremiação Lucas Bereco.

Presidente: Guilherme Couto
Carnavalesco: Lucas Bereco
Intérprete: Cláudio Bardelli

 

SINOPSE:

Quem levou a perna do Saci?

Autor: Lucas Bereco

“Saci pererê”, ou “triquê”, ou “perê”, é um personagem marcante do folclore brasileiro….

[…] surgiu como um espírito das matas fruto do imaginário indígena da região sul, mas foi só o danado cair no cenário amazônico que ele virou um negrinho travesso e perneta. E não é coincidência o saci “desmembrar” justamente aqui na amazônia. Talvez ele tenha sido vítima em um dos vários casos de roubos ocorridos nesta grande selva muito antes de ela ser o “inferno verde” e o brasil ser o “pau brasil”.

O nome é oriundo da experiência que os invasores tiveram quando entraram pela primeira vez na floresta e de cara foram expulsos por uma tribo de mulheres guerreiras pertencentes ao “reino das pedras verdes”. Devido a força e a habilidade de luta, os espanhóis nomearam essas índias de “amazonas” e desde então esse lugar é reconhecido como a morada desses seres místicos, protetoras da cidade lendária de “eldorado”.

Além das amazonas, a floresta também já era habitada há séculos por civilizações andinas e ceramistas. Esses habitantes conseguiram construir uma sociedade complexa e produtiva em meio a um ambiente mutável. Pelos poucos vestígios preservados que sobraram, se nota seus domínios em várias áreas do conhecimento humano e o alto nível de organização social e cultural.

 

Foi então que se iniciou o processo desastroso de ocupação estrangeira na Amazônia brasileira…

[…] e foi através dos portugueses. Eles sabiam que naquele lugar havia coisas muito mais preciosas do que o ouro. Em meados do séc XVII, foi construído o “forte do presépio”, localizado onde atualmente é a cidade de belém do pará. As aldeias ao redor se transformaram missões e os nativos em escravos. Os que negaram essa condição, lutaram o quanto puderam, mas não resistiram aos meios avançados de dominação que os portugueses possuíam. Com a catequização, os missionários tentavam “apaziguar” os poucos que se deixavam doutrinar, mas as doenças trazidas pelos invasores infectou corpos asseados que nunca antes haviam tido contato com tais enfermidades.

De uma forma ou de outra, a mortalidade indígena só cresceu. Os portugueses e os espanhóis não roubaram somente o território e os recursos do lugar, roubaram também vidas humanas e o valor de uma história que levou muito tempo para ser construída.

Depois de tantas tentativas de povoamento da amazônia, para os invasores, ela continuava inóspita e gerava muitas incertezas com relação às suas possibilidades. Aos poucos, o norte virou apenas uma concentração de índios desnorteados, negros sem utilidade, e comerciantes frustrados. Essa miscigenação deu a luz a população cabocla da região.

 

Apesar do desastre, a amazônia caminhava rumo a sofisticação…

[…] antes, muito antes da chegada dos europeus em território sul-americano, os povos originários da floresta já tinham o conhecimento de que a seiva branca extraída da “hevea brasiliensis” tinha propriedades plásticas. No início do séc XX, o mundo já estava sendo tomado pelas visões futuristas da revolução industrial. Devido o surgimento de fábricas com máquinas, cresceu a procura por matéria prima rentável.

Com propriedades únicas, o látex amazônico atraiu consumidores de todos os lugares. Pelo grande investimento, a floresta em pouquíssimo tempo evoluiu de um lugar inabitável para um núcleo urbano e desenvolvido. Belém e manaus se transformaram em fragmentos da europa no meio da selva.

Foi o período mais próspero da região, porém, toda essa grande riqueza ia para os cofres dos poucos integrantes da alta sociedade. A infraestrutura moderna e a pompa europeia mascarava um esquema massivo e desumano de exploração. Caboclos ribeirinhos e centenas de retirantes nordestinos procuravam na mata uma condição melhor de vida, mas isso não passou de um sonho necessário à quem buscava qualquer meio para fugir da

própria realidade.

 

Tempos depois, um inglês, cujo o nome não vale a pena ser citado…

[…] mas que é considerado o “pai da biopirataria”, roubou da amazônia 70 mil sementes de seringueiras. Em questão de décadas, a inglaterra era a maior produtora de látex do mundo. Esse ato impactou drasticamente a economia nacional e levou o mercado do látex amazônico à um declínio total.

Depois da queda, ainda houve tentativas de reerguer a economia da região com a produção da borracha. Nos anos 20, um dos principais nomes da história da indústria automobilística fundou no meio da floresta uma comunidade que trouxe para o país os costumes e hábitos dos norte americanos. A fabricação de pneus deu à amazônia ares industriais que substituiu o luxo e o tom burguês do começo do século.

A última tentativa de tornar o látex o nosso principal produto de exportação foi em meados da 2ª grande guerra mundial. Os “soldados da borracha” foram convocados para o invadir a mata e produzir a borracha que iria direto para os tanques de guerra dos países aliados. Quando a guerra se findou, e os estados unidos não precisava mais da borracha brasileira, a “terra sem homens para homens sem terra” se tornou “a terra para homens doentes, desempregados e ensandecidos.”

 

Aliás, o roubo das sementes foi só a intensificação de um péssimo hábito…

[…] graças ao saberes tradicionais, caboclos e os indígenas amazônicos têm uma extensa experiência com o uso das plantas em medicamentos caseiros e em rituais xamânicos. A indústrias científicas estrangeiras se apropriam dessas informações e elas são usadas em estudos fora do brasil.

O veneno da “rã kambô” é um exemplo desta prática. Depois que farmacêuticos de outras nacionalidades souberam que a secreção extraída da pele deste anfíbio tem propriedades anestésicas, a kambô kambô vem sendo contrabandeada para criação de medicamentos e vacinas.

A área de cosméticos também tem exemplos de utilização da vegetação amazônica na produção de suas mercadorias. Nos anos 30, uma marca francesa de perfumaria utilizava o óleo de “pau rosa” na receita de seu perfume mais caro.

Até o famoso açaí vem sendo o personagem corriqueiro de muitas brigas judiciais em casos de biopirataria e apropriação de material genético. Típico do estado do pará, ele é rico em componentes energéticos e empresas internacionais, que já monopolizaram a palavra “açaí”, usam o fruto na tonificação de bebidas e suplementos nutricionais.

 

A biopirataria e o contrabando dão o alerta: a amazônia sempre vai estar na vitrine…

[…] pois sua biodiversidade é única e tem um gigantesco potencial econômico que aguça a ambição dos maiores comerciantes do mundo.

A vegetação, que se segmenta em vários tipos de biomas, vem sendo destruída pela extração ilegal de madeira que, constantemente, derruba hectares e mais hectares desse imenso tapete verde.

Os recursos naturais da região atribuem mais valor a esse tesouro da humanidade. A bacia hidrográfica amazônica, por exemplo, por si só já é valiosa em ser a maior do mundo, mas, além disso, ela também é responsável por armazenar 20% de toda água doce do planeta.

São rios e lagos preciosos e poluídos pelas mineradoras que encontram na selva remota o polo perfeito para a exploração.

O tráfico e a caça predatória de animais silvestres da amazônia também é um dado preocupante. Mamíferos, répteis, aves, anfíbios e peixes são levados para estudos e a fabricação de subprodutos. Em situações mais absurdas, são levados até mesmo para domesticação de espécies raras que em alguns casos são encontradas unicamente aqui.

O fato é que, desde as primeiras invasões europeias, a amazônia possui um péssimo histórico de ocupação da sua área por interesses financeiros. São processos errôneos que não somente negligenciam a qualidade de vida dos habitantes do lugar mas também ameaçam a integridade dessa natureza exuberante.

 

Cacos de espelho e bugigangas inúteis não são mais tão fascinantes quanto antes…

[…] o “pertencimento social” é o escambo do momento. Quando os “irmãos índios” do séc XXI permitem que suas terras sejam invadidas por garimpos e hidroelétricas, eles se dão uma oportunidade de pertencer a sociedade brasileira. O “progresso” é um contrato que testemunha o momento no qual o índio se torna “gente igual a nós”.

Assim a história vem se repetindo e o mesmo erros são cometidos. Para as “grandes cabeças” que estão no poder, amazônia é a solução econômica desse país, mesmo que isso signifique a perda da consciência de preservação e o fim a luta contra crimes ambientais.

A maior floresta tropical do mundo cada dia mais se torna um grande centro comercial cheio de propaganda enganosa. Junto das terras, recursos, vivências e saberes, outros personagens do nosso folclore também vão entrar na tabela de preços. A perna que falta no saci agora é um “chaveirinho” que agrupa as chaves que abrem as portas da região norte para o mercado nacional e internacional.

 

Depois que perdeu a perna, o saci virou duende de jardim…

[…] o curupira e o caipora tiveram o mesmo destino. A iara foi levada para ser atração principal em um oceanário nos estados unidos. Por apenas 20 dólares, os norte americanos podem apreciar o momento sublime onde ela canta de forma arrebatadora o “acalanto tupi” e hipnotiza todos com a sua beleza.

O mapinguari, tosado e cheirosinho, é pet de madame granfina. Vai ficar na coleira até ela cansar de exibi-lo nas mais belas ruas de paris. A pele da boiúna é perfeita para confecção de um estoque infinito de belas bolsas e sapatos de grife. Tudo muito chique e com selo internacional. Vários muiraquitãs serão vendidos nas joalherias mais caras do mundo.

Todos ficarão sabendo que as “icamiabas” são excelentes designers de jóias. De fato, o “green hell” shopping center tem todo o indispensável para ser um negócio bem sucedido: produtos e serviços diferenciados, grande demanda de compradores, investidores, quase nada de concorrência e um time muito, muito interessado em servir todos os clientes. Porém, ao contrário do que foi ensinado, a amazônia, sim, é limitada. Não limitada em imponência e em benefícios para a existência de todos os seus “filhos”, mas sim limitada de forças para permanecer viva no meio de tanta destruição que é consequência da ganância e da exploração desenfreada. Qualquer negócio, se mal administrado, caminha para a falência e a ruína. Mas diferente de qualquer negócio, a amazônia, se chegar ao seu limite, não poderá ser restaurada e só restará os danos causados pela sua ausência

Então, cara freguesia, é bom aproveitar enquanto ainda há estoque. A promoção é por tempo limitado…

 

INFORMAÇÕES DA DISPUTA DE SAMBA:

– Prazo para entrega do samba, até 30/04/2020

– Gravação pode ser caseira, apenas voz. Desde que contenha uma passagem completa do samba.

– Sem limite de obras para compositores, podendo enviar ou participar da criação de mais de um samba.

– Enviar áudio e letra para [email protected], com o nome dos compositores.

 

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