Colorados do samba traz a infância na Amazônia como enredo 2023

Logo oficial do enredo

5ª colocada do Grupo de Acesso I no carnaval passado, o BVC Colorados do Samba apresentou o enredo que levará para o seu desfile no Grupo Especial do Carnaval Virtual em 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

De autoria do carnavalesco Lucas Bereco, o enredo “O Cordão da bicharada – Retratos da infância na Amazônia” abordará o Cordão da Bicharada, de Mestre Zenóbio Ferreira.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgado pela agremiação:

SINOPSE

XAPIRIPÊS.
(…) Terra-Floresta, virgem e tropical. Suas cores saltam à tela viva, de profundidade infindável. Nela nasceu Omama, o primeiro ancestral-gente, que é filho de Hutukara; a terra fértil. Quando o menino cresceu, transformou Urihi, a Amazônia, em entidade viva e consciente. Para fazer companhia a ela, Omama copulou com a filha do Terepesikê, o senhor do mundo subaquático. Assim nasceu o primeiro xamã yanomami, que luta para manter longe os nê-waripês; espíritos maléficos que caçam e matam o seu povo.
Para protegê-los, Omama criou os Xapiripês, seres fantásticos que assumem as formas de yaropês; animais que compõem a vasta fauna amazônica. Graças aos bichos, os Xapiripês podem festejar e brincar por toda Urihi feito crianças encantadas. Quem nasce nesse paraíso verde e pertence à ancestralidade Yanomami tem o privilégio de ser escoltado por Xapiripês e tem os Yaropês como seus maiores companheiros de vida.

FILHO DE DEUSES, FILHO DE BICHOS.
(…) A vida dos Asurinís do Tocantins floresce quando o bebê é concebido pelo herói mítico Mahíra, que visita os sonhos das mulheres para anunciar a sagrada gestação. Quando chega a hora do nascimento, quem fica responsável por trazer o bebê a este mundo é a própria avó-parteira. Já com o bebê presente neste plano, o pai-térreo da criança deve cantar todos os dias para que seu filho cresça mais rápido e de forma saudável. Para auxiliar na fase de crescimento, também se inicia as pinturas corporais com jenipapo.
Há ainda quem acredite que crianças também são filhas de bichos. Os Galibi-marworno, por exemplo, temem a lendária Kadeikaru; uma cobra grande que vem a terra e “leva” suas crias para o “mundo do fundo”. Para evitar o rapto dos mimis, o pajé visita a mãe todos os dias para proclamar potás, que afastam qualquer maldição e precedem um bom parto. Os que não são levados pela Kadeikaru, acabam marcas permanentes. Isso significa que essa Tiximun tem habilidades xamânicas e com isso está propícia a se tornar um grande Pajé quando crescer.

A SUPERORDEM XENARTHRA.
(…) Floresta cheia de bichos e bichos cheios de mitos… Nas tribos indígenas da na Amazônia, crescer ouvindo histórias em que os animais assumem o protagonismo atenua o frescor da imaginação das crianças e ensina elas a entender a origem da natureza que as rodeia. São aves, mamíferos, anfíbios, insetos e peixes. Mais de 40 mil espécies que enchem de beleza e cores o lugar que elas vivem. E onde houver Amazônia, sempre haverá vida!
Dentre a imensa biodiversidade amazônica, está presente a “superordem Xenarthra”, composta pelas preguiças, tamanduás e tatus. Entre os superstições e crendices que idealiza a presença desses mamíferos, existe a teoria de que o Mapinguari, figura monstruosa que habita as densas matas brasileiras, é na verdade a última criatura viva da linhagem das “preguiças-gigantes”, extintas há mais de 10 milhões de anos, habitantes da América do Sul antes deste continente ser povoado por humanos. Sendo a moradia desses animais curiosos, a Amazônia se torna um portal místico que nos leva a viajar pela pré-história brasileira.

Logo oficial do enredo

PEQUENO RIBEIRINHO.
(…) Ser ribeirinho é saber que carrega o sangue dos povos tradicionais, povos de luta, que foram “pacificados” pelos ibéricos através de hábitos e costumes europeus. De indígenas que foram catequizados e mocambos negros que encontraram na Amazônia um recomeço, nasce então o caboclo nortista. O mesmo ainda carrega os traços do nordestino retirante, que desceu pro norte atendendo ao chamado dos seringais.
Essa gente toda deixou herdeiros e esses herdeiros aprenderam que brincar é disputar corrida subindo os açaizeiros, é esculpir brinquedos com a bucha miritizeiro, é se banha de rio enquanto pesca o sustento da toda família… Ser criança ribeirinha é singrar com a sua curiosidade as águas barrentas dos rios que cortam a extensão da floresta, para além dos trapiches e taperas. Quem vive às margens de um submundo tão misterioso, morada de botos encantados e boiúnas sonolentas, desfruta de um imaginário constantemente estimulado e vive um cotidiano rodeado de possibilidades fantásticas.

BRINCANTE.
(…) Não à toa, o termo brincante refere-se a aquele que participa das folias tradicionais, folclóricas e populares do Brasil. Brincar remete diretamente à infância, pois, quando as crianças são estimuladas, nenhum adulto é capaz de celebrar a vida tão bem quanto elas.
Na Amazônia tem festa o ano todo para se esbaldar: Na quaresma, marabaixo e malhação de judas, em celebração da semana santa. No período junino tem festa de boi, quadrilhas e cordões de pássaros, para enriquecer o folclore da região. Já na época do Círio de Nazaré e Marujada de São Benedito, é tempo de cumprir promessas e renovar os votos de fé.
Coincidindo com o calendário litúrgico, ocorrem também as “festas de terreiro”; uma exaltação à religiosidade afro-indígena amazônica que mistura símbolos da umbanda e da pajelança tupinambá. Nesses dias especiais, os encantados descem na gira para festejar. Para os pequenos, a melhor festa de todas é a do dia de Cosme e Damião, quando os terreiros se abastecem de guloseimas e brinquedos para preparar a chegada dos erês. Essas entidades chamam todos para participar das suas brincadeiras e compartilham com outras crianças os seus presentes e mimos repletos de axé.

CORDÄO DA BICHARA.
(…) Na Amazônia também se celebra o carnaval, mas, distante do glamour das passarelas e do caos urbano das micaretas, a folia acontece nos rios. Os barcos “po-po-pos”, lotados de palhaços, cabeçudos e mascarados, navegam levando alegria para as comunidades que margeiam as águas do rio Tocantins. Assim, com mais de 100 anos de realização, o “carnaval das águas” e sua originalidade rendeu a Cametá o título de patrimônio histórico nacional.
As crianças também têm participação ativa na tradição do carnaval cametaense. Criado pelo Mestre Zenóbio Ferreira, no distrito de Juaba, o “Cordão da Bicharada” vem há 50 anos realizando um apelo pela preservação da fauna amazônica. Os pequenos ribeirinhos, fantasiados de animais, se esforçam para alertar sobre os detrimento da natureza causado pela exploração ilegal. Além de fornecer lazer e cultura, que é um direito institucional, a atividade carnavalesca também desenvolve nos pequenos foliões a consciência etnoecológica que elas levarão pelo resto de suas vidas. No carnaval do Cordão da Bicharada, todo caboquinho tem sua voz ouvida e entendida, e assim, crescerá livre, feliz e saudável. Brincar o carnaval amazônico é a melhor forma de proteger suas raízes e reconhecer de onde se vem. Através dessa folia, o nosso povo mostra o seu melhor quando eterniza o passado, nutre o presente e assegura o futuro dos seus filhos, netos e bisnetos.

Salve o carnaval
Salve o cordão da bicharada!
Salve a cultura cabocla
Salve a floresta amazônica
Salve o povo brasileiro!

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