Brotos da Flor adentrará nos jardins de Burle Marx em 2021

Logo oficial da agremiação.

A primeira escola mirim do carnaval virtual, a Brotos da Flor irá trazer em 2021 o enredo Brotos da Flor nos jardins de Burle Marx de autoria de seu carnavalesco, Rafael Gonçalves. A roxo, preto e branco de Florianópolis irá estrear no grupo especial em 2021 com seu carnavalesco que já possui uma trajetória de alguns anos de experiência na folia virtual na busca do campeonato.

Confira abaixo a sinopse e a justificativa da agremiação:

Logo oficial completo da agremiação.

Homenagem à Natureza

Broto gentil, a primavera
será um sonho de sonhar-se
na fumaça
no grito
no sem azul deserto
das cidades mortas que se julgam vivas?
Carlos Drummond de Andrade, “E aconteceu a primavera

Oh Natureza!
A ti faço esta homenagem
A tu que me destes a vida
Por toda a minha vida dediquei-me.

Com os pés na terra vejo
O desabrochar das tuas flores
de brotos que florescem
Em explosões de cores como em uma pintura

Sintam este perfume
E este frescor da chuva que canta nas folhas
Que, misturada com gotas de sol,
fazem-nas parecer pedras preciosas

Esta árvore que plantei
Hoje olho para ela tão grande e frondosa
Orgulhoso, me dou conta da vida que vivi
Medida em muitos anos pela sua altura

Inclinações artísticas

Os materiais do urbanismo são o sol, as árvores, o céu ,o aço, o concreto, nessa ordem hierárquica e indissolúvel.
Le Corbusier

Na chácara um jardim
E uma Alocasia cuprea, um presente de admirar
Uma opera de Wagner cantou o barítono
E, ao piano, a mãe tocava belas flores musicais

Em Berlin, o deslumbramento
Com a flora tropical
E a arte nos museus
Impressionismo, Cubismo, Expressionismo

Cores berrantes, roupas sujas de tinta
Com as plantas compôs sinfonias
Com elas também criou quadros abstratos

Expedições Burle Marx

Eu, que sempre apostei
Na minha paixão
Guardei um país no meu coração
Um foco de luz, seduz a razão
De repente a visão da esperança
Quis esse sonhador
Aprendiz de tanto suor
Ser feliz num gesto de amor
Meu país acendeu a cor

Verde, as matas no olhar
Ver de perto ver, de novo um lugar
Costa Netto / Eduardo Gudin, “Verde”

A mata dormiu
O vento acabou
A folha caiu
Fazendo rumor ao tocar
Ah, Ah..
Dora Vasconcellos / Heitor Villa-Lobos, “Cair da tarde”

Um jardim de cactos foi buscar
na caatinga
E por todo o Brasil
Foi descobrindo espécies

Pela Floresta Amazônica
Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal
Viu muita beleza
No que antes era visto como mato

Viu muita destruição
Ameaçando a flora nativa
Não se calou ao ver a boiada passar
Defendendo o meio ambiente

O paraíso do artista

Plante uma boa semente
Numa terra condizente, que a semente dá

Pegue, regue bem a planta
Que nem praga não adianta
Ela vai vingar
Planta é como o sentimento
Tem o seu momento
Tem o seu lugar
Toquinho / Vinícius de Moraes, “Planta Baixa”

Em Guaratiba inventou seu paraíso
O seu “quintal maior que o mundo”
Seu lar-laboratório-ateliê
de colecionador
Plantas tropicais, jardins de pedra e de água
viveiros e sombrais
pinturas, cerâmicas, carrancas
santos e cristais
objetos: imagens poéticas

Nesta terra estudou, observou
o nascimento, o crescimento
a floração, a ação do tempo
do sol, da chuva e do vento
a composição plástica
e a associação entre as espécies.
Diluiu as fronteiras entre
cultura e ciência
natureza e criação humana
erudito e popular

Expressão máxima
do modo de ser e de estar no mundo
de um artista multifacetado
Sitio Santo Antônio da Bica
Hoje, Sitio Roberto Burle Marx

O jardim moderno brasileiro

Você me pergunta se eu prefiro fazer um jardim para um casal, uma família, ou um jardim público, eu respondo que prefiro fazer um jardim que sirva para uma cidade, onde posso ter a possibilidade de ajudar e educar, oferecendo uma área verde a pessoas que não têm a oportunidade de estar em contato com as plantas, os animais, a paisagem, tudo o que é vivo.
Roberto Burle Marx

Buscando espécies
nas florestas, nos brejos,
à beira dos caminhos
ou nos fundos das casas de caboclo
apanhou plantas abandonadas e desprezadas,
vítimas da transplantação dos modelos europeus.
Criou jardins que refletem nossa cultura
artística e biológica
que expressam a potência da nossa natureza.
Aprendeu as lições que teve com ela

Paisagens urbanas
espaços públicos para o povo
Contraste e comunhão
“frio palmeiral de cimento” , cores e texturas
o áspero, o espinhento, o pontiagudo,
a curva e a linha reta,
a árvore, a pedra, o concreto
a necessidade estética.

Outras artes, outros jardins

Para mim, as flores e as folhas são quase músicas em sua harmonia. Outras vezes, vejo–as como esculturas, como volumes que se destacam no espaço. Ou, ainda, sinto-as como pinturas, com seu colorido e formas caprichosas. Observo-as sob o sol e sob a chuva, e certos cambiantes de luz fazem-nas parecer como pedras preciosas.
Roberto Burle Marx

Um curioso,
alimentado pelo princípio da experimentação
Paisagista, dedicou-se à pintura
escultura, gravura, desenho, estampas de tecido
Pintou tapetes, quadros, painéis de azulejos
Desenhou joias e o irmão lapidou
água-marinha, quartzo, turmalina.

Brilhou nos palcos
Suas cores em figurinos e cenários
vestiram bailados.
E no baile de gala
do Theatro Municipal
o abstracionismo
inaugurou uma nova era no carnaval
pelas mãos de Pamplona.

Justificativa

A Brotos da Flor, para o Carnaval Virtual 2021, presta uma homenagem ao paisagista Roberto Burle Marx. Destacamos sua importância por inaugurar o jardim tropical moderno, que rompeu com o modelo importado da Europa, promovendo uma reconexão de nós, brasileiros, com nossa identidade cultural, tanto artística quanto biológica. Falamos de um homem preocupado em deixar um legado para as gerações futuras, daí a iniciativa de doar o Sítio Roberto Burle Marx, seu grande laboratório paisagístico, para o governo federal.

Em um país historicamente marcado pela destruição da natureza, Burle Marx plantou espécies autóctones antes desprezadas e consideradas mero mato sem importância. Para isso, foi buscar exemplares na própria natureza e, com auxilio de botânicos, formou um importantíssimo acervo com grande variedade de espécies, algumas delas fadadas ao desaparecimento e muitas ainda desconhecidas, o que prova a importância do seu trabalho para a botânica. Também foi um importante ativista na defesa do meio ambiente, lutando pela preservação e conservação da natureza.

Podemos estreitar as fronteiras entre arte e ciência quando falamos de Burle Marx assim como quando falamos de Leonardo da Vinci. Apesar de vermos o paisagismo, e toda a sua importância para a botânica, como sua principal atividade, destacamos que ele se dedicou com o mesmo afeto e o mesmo princípio de experimentação a outras artes como a pintura, o design de joias, o figurino e a cenografia. 

Destacamos o protagonismo de Burle Marx na criação do jardim tropical moderno, mas vamos além. No carnaval de 1956, Burle Marx deslocou as grandes alegorias carnavalescas, até então preferidas como elementos decorativos do Theatro Municipal, para dar lugar a uma decoração moderna e abstrata, com um projeto intitulado “Abstracionismo” executado pelo cenógrafo do teatro, naquele momento, Fernando Pamplona. Será que Burle Marx não teria também um papel importante na transformação da nossa festa carnavalesca ao influenciar o futuro comandante da “Revolução Salgueirense” com o rompimento do modelo tradicional de decoração?

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