Alto nível estético impressiona na primeira noite do Grupo de Acesso 1 do Carnaval Virtual

Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NEsCaFe no Carnaval Virtual

Os desfiles do Grupo de Acesso I do Carnaval Virtual 2021 começaram nesta sexta-feira. As agremiações mantiveram o alto nível do espetáculo após os surpreendentes desfiles no Grupo de Acesso II, que ocorreram no final de semana passado.

Ao todo, doze escolas se apresentaram na Passarela Virtual e apresentaram belos enredos e plásticas exuberantes. No entanto, Malandros, Arautos do Cerrado e Deixa de Truque saíram na frente na disputa pelo cobiçado título. Confira a seguir como foram os desfiles.

VALONGO

Abrindo os desfiles, a Valongo trouxe o belo enredo “A Cosme e Damião: Valongo é Doce Devoção” para a Passarela Virtual. Com uma sinopse poética, a escola cantou Cosme e Damião, Ibejis e Erês e fez cada espectador sentir-se criança novamente. Com muito molejo e puro gingado, a agremiação desfilou um belo contraste entre traços e cores suaves, e elementos de cores fortes. A energia crescente representou um mundo perfeito de Axé. Destaque para a terceira alegoria e para o casal de  Mestre-Sala e Porta-Bandeira em um compasso delicado, dentre composições, que  mostraram bastante do sincretismo por aqui.

Alegoria 3 da Valongo.

MALANDROS

A vermelho e branco pisou forte na Passarela Virtual com o enredo “Os três amores de Xangô”. A agremiação desfilou a vida do Rei Xangô e suas esposas Oyá, Oxum e Obá. A comissão de frente veio no compasso do samba-enredo e já mostrou imponência logo na abertura do desfile. As cores terrosas misturadas ao vermelho deram realce ao figurino do casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. A escola conseguiu mesclar com maestria cores frias às cores quentes, em um conjunto visual arrebatador que a colocou entre as melhores da noite. Destaque para a quarta alegoria, representando os Orixás no coração do Mundo.

Carro 4 da Malandros.

EMBAIXADORES DA ÁGUIA

Terceira escola a entrar na Passarela, a Embaixadores da Águia trouxe o lindo enredo “Salve a negritude feminina”. A comissão de frente chegou com força representativa, para homenagear mulheres maravilhosas que fizeram história. A seguir, desfilaram alas e alegorias de muita beleza plástica apresentando o universo preto feminino. Conjunto plástico impressionante, no qual se destacaram a terceira alegoria, “Mulheres de Fé”, a ala das baianas e as alas 2 e 3, “Dandara dos Palmares” e “Mulheres escravas”, respectivamente. 

 IMAGEM: Ala das Baianas – Chica da Silva

Ala das Baianas da Embaixadores da Águia.

ME CHAMA QUE EU VOU

A agremiação nos brindou com uma linda homenagem ao maior pugilista brasileiro, com o enredo “Pra que nunca se esqueça, um abraço Maguila!” O ponto alto do desfile da Me Chama que eu Vou foi a clareza na transmissão do enredo, ao resgatar a lembrança de um grande esportista. Colorida e alegre, enfatizou o amor na vida do pugilista, representado por sua bateria, para dizer que seu coração veio à lona. A simpatia do homenageado reverberou no desfile, que explorou a estética pop em suas alegorias e fantasias.

Carro 4 da Me Chama Que Eu VouARTE YORUBÁ

A Arte Yorubá contou a diáspora africana através do olhar feminino com a homenagem às guardiãs dos pavilhões. O enredo “Porta-Bandeiras: as Yalodês do samba” destacou a força do bailado das porta-bandeiras em um desfile multicolorido. A africanidade feminina atravessou todo o desfile para homenagear Laís Moreira. Destaque para as alas “Águas de Oxum”, “Aguas da grande Mãe” e “Maracatú”, além da ala de baianas.

Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira da Arte Yorubá.

IMPÉRIO DA CARLOTA

A escola de Betim, sexta a desfilar, apresentou uma justa homenagem ao cantor e compositor Mateus Aleluia, ex-integrante d’Os Tincoãs. Volutas, arabescos e dourados envolveram o barroco baiano na exibição da comissão de frente. O primeiro destaque de chão trouxe tons de azul ao branco com muito volume na opulência dos azulejos. A cor branca, aliás, invadiu a avenida em tons sobre tons perfeitos, destacados na Velha Guarda, na ala “Batuques do Rum, o Rompi e o Lé”, e segundo carro alegórico, “Atabaques e Noites de Terreiros”.

Destaque de Chão da Império da Carlota.

DRAGÕES LENDÁRIOS

Embalada por um valente samba, a Dragões Lendários desfilou na Passarela Virtual o enredo “Ciata – A mãe negra do samba”. Novamente a voz feminina se fez presente em um desfile colorido e plasticamente encantador.  A narrativa carnavalesca envolveu religião, fé e muito samba. A energia vital foi apresentada na dança da cultura dos Orixás pela comissão de frente. Destacou-se a divertida ala “Drags da Dragões – O rancho Rosa Branca” com meia arrastão vestidas de Rosas Brancas. O tripé “Carnaval festa do povo” representou todas as manifestações carnavalescas populares.

IMAGEM: Carro 4 “ Procissão do Samba a Tia Ciata.

Carro 4 da Dragões Lendários.

NAÇÃO IMPERIAL

O universo sertanejo invadiu a Passarela Virtual no oitavo desfile da noite. O enredo “Cavaleiros em tempos de glória: A Nação Imperial pede licença para contar a história da saga de um vaqueiro” foi desenvolvido a partir da canção “Saga de um Vaqueiro”, considerada o hino do nordestino. O samba-enredo com levada country e refrão empolgante animou o desfile da Nação Imperial. O vaqueiro abriu a porteira e a escola impressionou com o grandioso abre-alas, “Cenário de Tapui”. O som do berrante atravessou a avenida na ala 7. A ala “A fé em Nossa Senhora” trouxe volumes e cores fortes, junto ao tripé de Nossa Senhora. A apresentação se encerrou com uma bela alegoria com referências ao cangaço. 

Carro Abre-Alas da Nação Imperial.

UNIDOS DE FRANCO DA ROCHA

Nona escola a desfilar, a Unidos de Franco da Rocha homenageou as bodas de ouro da Sociedade Rosas de Ouro, com o enredo “50 primaveras de Rosas…”. O desfile fez jus à sinopse, ao unir tradição e emoção e abordou a importância da agremiação paulistana além das apresentações no carnaval. Várias alas representaram os antigos carnavais. Em um colorido conjunto de fantasias, destacaram-se as alas “ A inclusão” e “O cacau é show”. Verdadeiro “mar de rosas” que invadiu a Passarela Virtual.

Ala 10 da Unidos do Franco da Rocha

ARAUTOS DO CERRADO

Com o enredo “Com a morte do Barão tivemos dois “carnavá”… Ai que bom! Ai que gostoso! Vem com a Arautos “festejá”!”, a Onça entrou na Passarela Virtual contando a história dos dois carnavais que aconteceram em 1912. Uma grande louvação à vida, como afirma a sinopse, que apresentou um paralelo com questões relacionadas ao momento pandêmico que atravessamos na atualidade. O ponto alto do desfile foi o conjunto de fantasias, que exploraram com competência o uso de adereços de mão. Destaque, ainda, para a criatividade nas formas dos figurinos, como demonstrado na ala “Carnaval, a luz que não se apaga”. A Arautos do Cerrado fez um desfile nostálgico, com um dos melhores conjuntos da noite, e deixou a avenida com uma certeza: “em fevereiro” – ou abril – “tem carnaval”!

Ala 16 da Arautos do Cerrado.

UNIÃO DA GÁVEA

A penúltima escola da noite trouxe o requintado enredo “O Relicário do Universo”, com foco nos livros e no universo literário. Como diz a delicada sinopse, “Um livro tem o poder de transformar a visão de um menino sobre o universo”. Já na primeira página, a comissão de frente impressionou com efeitos especiais que transformavam crianças em astronautas em meio a estantes repletas de livros. Através de um ótimo conjunto alegórico e de fantasias, a literatura desdobrou-se em belas ilustrações carnavalescas até o último capítulo do lúdico desfile da União da Gávea.

Comissão de Frente da União da Gávea.

DEIXA DE TRUQUE

Fechando a noite em grande estilo, a Deixa de Truque apresentou o enredo “Quem quer ser Matinta Perera?”. O desfile apresentou diversas faces da lenda, “trazendo como proposta dar luz à figura da Matinta Perera dentro do folclore amazônico e desmistificando essa figura tida como tão assustadora”, como informa a sinopse. As lendas e manifestações folclóricas sempre rendem boas apresentações carnavalescas e com a Deixa de Truque não foi diferente: a agremiação apresentou um dos melhores desfiles da noite. A narrativa foi desenvolvida com bastante competência, deixando a comunidade truqueira feliz e com esperanças no título. A agremiação capixaba apresentou um opulento conjunto plástico, no qual se destacaram-se o gigantesco abre-alas em diversos tons de verde e a bela fantasia da ala 5.

Carro Abre-Alas da Deixa de Truque.

Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NesCaFe (@necf.ufrj):

Alexandre Gonçalves – Doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Especialista em Figurino e Carnaval – UVA. Especialista em Carnaval e Cultura – Universidade Estácio de Sá. Julgador de Alegorias e Adereços no Grupo de Acesso do Rio de Janeiro. Integrante da comissão de carnaval da Império de Petrópolis. Pesquisador do NEsCaFe/CNPq.

Clark Mangabeira – Pós-doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Enredista da U. de Vila Isabel, U. de Padre Miguel e Mocidade Alegre. Antropólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso. Pesquisador do NesCaFe/CNPq.

Du Carmo Vido – Doutoranda em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Professora de Artes do Município do Rio de Janeiro. Professora convidada da Pós-graduação em Figurino e Carnaval – UVA. Pesquisadora do NEsCaFe/CNPq.

Leo Jesus – Doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Professor substituto da Escola de Belas Artes – UFRJ. Professor convidado da Pós-graduação em Figurino e Carnaval – UVA. Carnavalesco da Acadêmicos do Engenho da Rainha. Pesquisador do NEsCaFe/CNPq.

Verônica Valle – Mestranda em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Designer, atua com concepção visual e artística em cenografia e desenvolve projetos conceituais e artísticos para escolas de samba do Rio de Janeiro. Pesquisadora do NEsCaFe/CNPq.

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