Acadêmicos de Madureira irá homenagear Aqualtune no Carnaval Virtual 2023

Logo oficial do enredo

O GRESV Acadêmicos de Madureira anunciou o enredo que marcará o seu retorno ao Grupo de Acesso I, do Carnaval Virtual.

Pavilhão oficial da agremiação

De autoria de Pedro Machado e Anderson Rocha, a vermelha e branca, de Madureira/RJ, irá homenagear a princesa preta com o enredo “Aqualtune: História de uma princesa com olhos presenteados por Iemanjá”.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela escola:

Aqualtune: História de uma princesa com olhos presenteados por Iemanjá.

Contam os antigos anciões, uma lenda sobre um espírito africano ancestral, que teria sido imortalizado pelo Deus supremo Olorum, grande criador do mundo e dos orixás. Á divindade Aqualtune, os guerreiros quilombolas clamavam antes das batalhas, buscando coragem, forças e proteção para que pudessem enfrentar seus inimigos em busca da vitória sobre os repressores.

Aqualtune, princesa congolesa, possuía uma beleza singular, pele escura como a noite e olhos azuis da cor do mar. Ainda muito jovem casou – se com seu primo, o Duque de Mbamba, sucessor direto ao trono congolês, em uma cerimônia tradicional, seguindo os costumes da cultura portuguesa. A celebração do matrimônio se deu na catedral de São Salvador do Congo, capital do império, sob as bênçãos do Bispo Dom Manuel Baptista Soares, a maior autoridade eclesiástica presente no reino, diante dos olhos de toda nobreza.

Mesmo sendo um império independente, a cultura congolesa sofria com a grande influência dos portugueses. Dentro dos seus costumes, hábitos e crenças, já não se via a herança ancestral do povo congolês, cultuavam os santos de forma católica, suas vestes eram semelhantes às do invasor, e o português ensinado como língua oficial. Além de tudo isso, com o colonizador, mantinha ainda o comércio das suas riquezas naturais como marfim, ouro e as pedras preciosas, suas mercadorias principais.

Detentora de um espírito guerreiro, Aqualtune, não aceitava as injustiças sofridas pelo seu povo, e seguindo os fundamentos da protetora de seu Orí, Iemanjá (mesmo sem saber, por puro instinto materno) lutava bravamente contra o tráfico ilegal de negros; recebia, acolhia e cuidava de todos que fugiam da guerra, que se encontrava além dos muros do seu império, e buscavam refúgio em seus domínios, como uma grande mãe amparando seus filhos. Em meio a duelos e conflitos, durante uma investida contra sua cidade, a princesa foi capturada pelos Imbangala e pelos Jnagas (povos nômades e canibais, educados desde pequenos para a guerra e só para esse fim, que habitavam a região do Congo e da Angola, contratados pelos portugueses como mercenários e caçadores de pessoas.), que logo a negociaram com os lusitanos contrabandistas.

Assim que chegou ao porto de Luanda, despida de suas vestes de rainha, a vestiram como uma longa “camisola” de algodão cru, semitransparente, e cobriram – lhe o rosto utilizando uma máscara de ferro, impedindo que os outros negros a reconhecessem, prevenindo qualquer rebelião por parte dos aprisionados. Ali iniciava – se o inferno na vida da pobre princesa, justo ela que estava habituada a salvar vidas encontradas em tais condições, agora era a vítima desse infortúnio, da sanha incontrolável dos lusitanos, que desejavam tornar toda a população africana escrava. Sabendo da preciosidade que tinham em suas mãos e prevendo o alto valor que poderiam comercializar a nobre congolesa, agora escrava, em sua maior colônia, os portugueses embarcaram Aqualtune no primeiro navio negreiro que rumaria para as terras brasileiras.

Sob o olhar de Aqualtune passava-se a realidade nua e crua do que sua nação sofria nas mãos dos brancos. Nessa “barca da morte”, negros eram acoitados, amarrados ao mastro e torturados. Durante a sofrida travessia marítima, onde almas choravam e peles sangravam, qualquer tentativa de resistência era reprimida pelos capatazes, as mulheres eram constantemente violentadas, e vistas como objeto profano no olhar do homem branco. Os escravizados eram tratados como mercadoria, sem nenhuma humanidade, as instalações eram insalubres, centenas de negros ocupava os vários andares da embarcação, os mais idosos e enfermos eram arrastados pelo chão do convés e lançados ao mar, para que os “monstros marinhos” os devorassem. Aqualtune não esqueceria jamais o terror cravado nos olhos de cada prisioneiro, em seu espírito, crescia a vontade inquebrável de livrar a sua gente daquela desventura.

Após longo tempo sofrendo, com aquela terrível e absurda viagem rumo ao desconhecido, a embarcação atracou no Porto do Recife, na Capitania de Pernambuco. Homens bem armados apontavam as escopetas em direção aos cativos, enquanto eles eram acorrentados uns aos outros formandos uma enorme fila. Caminhavam lentamente até o cais, onde eram colocados em pequenas celas, escuras, úmidas e estreitas, com portas de ferro, prisões utilizadas para mercadorias humanas, que compunham o caótico mercado de escravos.

Não tardou para que Aqualtune fosse vendida como escrava “reprodutora”. Seu destino foi a Fazenda e Engenho Bom Sucesso, situada na região de Porto Calvo (atual Alagoas). Em meio a vasta plantação de cana – de – açúcar erguia – se uma mansão, de dois andares; pintada de branco, com janelas em verde escuro. Era nesse lindo cenário que moravam os maiores temores dos aprisionados.

A massacrante e longa jornada, começava com o galo cantando pela manhã e só terminava após o sol se pôr. Era uma realidade inimaginável ser escrava naquele lugar, ainda se fazia noite, quando os feitores tocavam o sino, e rapidamente, os escravos se aprontavam para a labuta. As mulheres eram designadas ao trabalho na lavoura, colhendo frutas e legumes, e cortando a cana, já os homens encarregados do trabalho na moenda, lugar destinado à preparação e separação do açúcar, antes da sua comercialização. Aqualtune insatisfeita com a vida repugnante que se encontrava, começou a preparar uma estratégia para fugir daquele ambiente hostil, escondendo instrumentos utilizados na lavoura, para que pudessem ser utilizados com armas e explorou melhor as propriedades do engenho, buscando uma rota de fuga.

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Tomou conhecimento de uma tribo de guerreiros que vivia na floresta, e que não se deixavam mais serem escravizados, pretendendo se juntar a eles, com a esperança de um dia poder retornar a sua terra. Em uma madrugada, a princesa se fez general de um grupo de oitenta e cinco cativos revoltos, e comandou uma investida contra os capatazes daquela prisão, conseguindo conquistar a liberdade sua e dos seus ali presentes. Começava ali a luta para a liberdade!

A princesa guerreira, que se encontrava indecisa para qual lugar deveria partir, foi guiada finalmente pelo espírito ancestral das matas, na direção dos escravos livres. Após dois dias de caminhada, o grupo encontrou os guerreiros quilombolas, e corajosamente a general do grupo foi pedir-lhes ajuda. O grupo seguiu os guerreiros até um vasto descampado no meio da floresta, onde se encontravam algumas cabanas, negros corriam e brincavam livremente. Ao chegar ao local, uma “preta velha”, vestida de branco, com cabelos que pareciam nuvens, se encontrava sentada próximo a um braseiro, que iluminava seu rosto doce e gentil. Ao se aproximar daquela senhora, Aqualtune foi tomada pela sensação de pertencimento, era como se aquela anciã já fizesse parte da vida da princesa.

A velha senhora pegou nas mãos de Aqualtune, e como uma visão, revelou a princesa de que ela era filha da Rainha dos mares, que seus olhos reluzentes como as águas do mar eram dádiva de Odoyá. A sábia anciã também revelou a qualidade de Iemanjá (essência do orixá), que regia a princesa, manifestou que ela possuía ligação com o grande guerreiro Ogum Alagbedé, também chamada Iemanjá Ogunté, uma guerreira que carrega, preso à cintura, as armas de ferro confeccionadas pelo grande ferreiro Ogum. É indomável e justiceira, como o mar revolto. Além de todas essas novidades que aqueciam o coração de Aqualtune, ela ainda foi informada que foi Oxóssi, o protetor das florestas, que a guiou até o encontro da aldeia.

Concluindo sua fala, a anciã apresentou o sincretismo presente na aldeia em suas celebrações, que os santos embora fossem parecidos com os santos católicos, adorados e reverenciados pelos colonizadores, possuíam outros nomes e outra identidade, o que para Aqualtune seria primordial para ela se desligar das raízes do seu passado, e firmar seus pés no centro da ancestralidade do seu povo, ela se encontrava no meio da terra de um povo livre, o Quilombo dos Palmares, um lugar de resistência e liberdade!

O tempo foi passando lentamente e a princesa foi se aprofundando no reconhecimento da sua cultura ancestral, se afeiçoando a cada membro daquela comunidade, conhecendo as danças africanas, ao som dos atabaques e cada canção entoada pelo seu povo, seu coração e sua alma se sentiam mais vivos ao toque do tambor. A escravidão fazia parte de sua vida agora, mas foi nessa terra de sofrimento que se sentiu africana verdadeiramente. Com seus conhecimentos logo ascendeu ao cargo de general e líder de Palmares, o maior de todos os quilombos. Em Palmares criou seus descendentes, Ganga Zumba, que viria a se tornar um habilidoso guerreiro, e a Sabina, mãe do maior líder quilombola de nossa história, Zumbi dos Palmares.

Não se sabe ao certo, se foi em batalha ou em decorrência do tempo, que Aqualtune fez a passagem para o Orum, a certeza que temos é que a força e a esperança, sempre latente de libertar seu povo das amarras da opressão, levaram Aqualtune, nessa terra onde aprendeu a louvar os santos e os orixás, a se reconhecer como africana e transformou Palmares num lugar de sonhos e de liberdade.

Sua vida em terra nunca será esquecida, em cada pele preta Aqualtune Vive!

ODOYÁ IEMANJÁ!!!
AXÉ AQUALTUNE!!!

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