Acadêmicos da Tamarineira cantará a cidade de Mariana em 2023

Logo oficial do enredo

Após a 8ª colocação no carnaval passado, o GRESV Acadêmicos da Tamarineira divulgou o enredo para a disputa do Grupo de Acesso I do Carnaval Virtual 2023.

Pavilhão oficial da agremiação.

A verde e branco de Jundiaí/SP levará a cidade mineira de Mariana para a passarela virtual. De autoria de Marcos Felipe Reis, enredista da escola, “Mariana nos braços da fé” é a temática que marcará o retorno de Paulo Henrique como carnavalesco no Carnaval Virtual.

Confira abaixo a sinopse divulgada pela agremiação:

“MARIANA NOS BRAÇOS DA FÉ”

Viajar no tempo. Imaginar o tempo da chegada dos bandeirantes chefiados pelo coronel Salvador Fernandes Furtado, pelos mares de morros que formam a Serra do Caraça e o Pico do Itacolomi. Seguindo serra acima, a imagem de Nossa Senhora do Carmo abençoava as expedições, fundando o arraial em busca do ouro descoberto junto ao Rio Carmo que por ali passava. Dom João V ordenou que em homenagem à rainha Maria Ana de Áustria nasceria a cidade de Mariana. Ah, logo Mariana se torna a menina dos olhos da corrida do ouro, a primeira cidade de Minas Gerais e sua primeira capital.

Desperte aos primeiros raios de sol, que se esgueiram por entre as gotas da serração que caiu ao final da noite. A fé nos faz coisas incríveis e por aqui realmente move montanhas – os mares de morros que nos circulam. O galo canta e a cidade que brotou em volta das minas começa a acordar. O sol aos poucos começa a esquentar os ladrilhos das ruas, que logo recebem os primeiros moradores em busca do trabalho, do café e de seus afazeres. Os pequenos mercadinhos colocam suas frutas e verduras na calçada em meio aos casarões que bordam as ruas. As negras de ganho equilibram os tabuleiros enquanto outros escravos chegam para servir de mercadoria aos feitores. A primeira igreja do município já vem recebendo seus fiéis em meio às badaladas do sino. É momento de fé, principalmente para os mais idosos, de fazer suas pequenas preces por dias melhores. 

A chegada da estrada de ferro deu um gás para a exploração do ouro, que era escoado em grande parte para sustentar as riquezas da coroa portuguesa. A guerra dos Emboabas acelerava o crescimento da cidade, que abrigava bandeirantes paulistas e portugueses em disputa pelas riquezas da região. Os paulistas, na condição de descobridores e povoadores da região, se consideravam no direito de ocupar os melhores cargos e receber as melhores datas minerais, além de reivindicar a exclusividade no direito de exploração das minas de ouro e do comércio monopolista de abastecimento. Mariana é também berço literário do estado, do poeta e inconfidente Cláudio Manuel da Costa, de Frei Santa Rita Durão e do “correio ambulante”, a primeira agência de correios do estado, comunicando-o com São Paulo e Rio de Janeiro. Muitos escravizados vieram para aquecer a mineração e por suas mãos a cidade foi crescendo, as pedras eram amontoadas para formar as ruas e igrejas eram erguidas para mostrar a altivez da sede do bispado mineiro.  Os santuários então tomaram conta dos morros da cidade, espalhando a aura celestial que por ali ganhava forma.

Logo oficial do enredo

E se tem liturgia e fé, também tem “causos”. O verdadeiro marianense conhece a história da barata de igreja, uma velha senhora que vivia de missa em missa colhendo várias informações e bajulando o padre. Contam os antigos que ela, com ciúmes de uma jovem funcionária do padre, espalhou um boato da união dos dois. Esse fato fez a moça perder tudo até definhar em sua morte. Eis que em seu velório, ela joga uma maldição na velha senhora que confessou os pecados e ficou responsável de juntar todas as penas de aves mortas da região e mesmo que terminasse, deveria ir ao alto de um morro, soltá-las e catar tudo novamente até padecer. E quem não conhece Maricota, que vivia de banda nas janelas de Mariana ouvindo todas as fofocas? Essa até tentou virar vigia noturna, mas depois de tanto debochar das lamúrias da procissão das almas acabou virando parte dela. Procissão que existe até hoje, caminhando com matracas, bumbos e fiéis vestidos de branco carregando cruzes pela cidade.

O marianense é um verdadeiro tesouro da cidade, que atualmente tenta sobreviver após a tentativa de soterrar sua existência, num dos capítulos que mais chocou nosso país. O marianense se pergunta: “Afinal, quanto vale a minha vida?”. Contudo, não se abala, erguendo-se na fé que sempre moveu a cidade desde o início dos tempos coloniais. Em cada prece, um pedido de futuro melhor. Em cada reza, um clamor pelo reconhecimento e para que não se esqueçam de quem se foi e de quem ainda continua. “Eis que vim de Deus, como tu; do barro também eu fui formado”. O barro que tanto destruiu é também origem da vida nas mãos de Deus e irá reconstruir os caminhos dessa gente. A estrada por entre aqueles mesmos mares de morros ao redor da cidade é longa, mas repleta de esperança e fé. 

Texto e pesquisa: Marcos Felipe Reis

Referências:

Bíblia online. Jó 33:6. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/j%C3%B3/33/6. Acesso em jan. 2023. 

Mariana – primeira capital de Minas Gerais. História. O estado Mineiro. Disponível em: https://mariana.org.br/turismo/Apresentacao/viajar. Acesso em nov. 2022.

Portal da cidade de Mariana. História da cidade de Mariana. Disponível em: https://mariana.portaldacidade.com/historia-de-mariana-mg. Acesso em nov 2022.

Prefeitura de Mariana. Procissão das almas: cultura e tradição pelas ruas marianenses. Disponível em: https://mariana.mg.gov.br/noticia/4366/procissao-das-almas-cultura-e-tradicao-pelas-ruas-marianenses. Acesso em nov. 2022.

Tribunal de Justiça de Minas Gerais. 16 de julho: Dia de Minas celebra 42 anos. Disponível em: https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/16-de-julho-dia-de-minas-celebra-42-anos.htm#. Acesso em nov 2022.

Universidade Federal Fluminense. História. Revoltas. Guerra dos Emboabas. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revolta/guerras-dos-emboabas/. Acesso em jan. 2023.

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