Tradição Imperial exaltará Oxum e a missão concedida por Obatalá

Logo oficial da agremiação.

A Tradição Imperial, escola presidida por Tauan Silva desfilará no Grupo de Acesso 2 com o enredo De Obatalá a missão. Pelas mãos de Oxum, a primeira yawó de autoria de seus novos enredistas, Lucas Guerra e Vanderson Cesar. E visando competir pelo título do grupo, a escola de Niterói também modificou seu carnavalesco para o carnaval virtual 2021 trazendo Caio Barcellos, vice campeão do Grupo de Acesso 1 de 2019.

Confira abaixo a sinopse da escola:

Logo oficial completo da agremiação.

Findado os matizes da criação, Olorum gera Obatalá e posteriormente todos os outros Orixás. A cada um deles foi consagrada uma força natural ao qual se manifestariam no Ayê.

Oxum, rainha do ouro, beleza e amor, recebeu as águas doces, cascatas, cachoeiras e ainda, a ligação da maternidade, dominando e guardando o poder feminino da fecundação. Pelas mãos de Obatalá recebeu a ordem de iniciar a humanidade no sagrado culto aos Orixás, sendo assim a primeira iyalorixá. 

Para seguir com a missão, a yabá conta com a ajuda de outros dois Orixás: Exú e Ossain. Oxum também recebe ajuda de Orunmilá que através de Opon Ifá – a tábua de búzios -, repassa e traduz os ensinamentos e preceitos que o
grande Orixá fun-fun orienta para a iniciação. 

Seguindo à risca todos os preceitos, ao final do rito, Oxum percebe que havia renascido um novo ser humano, uma total mudança na personalidade do iniciado. Agora dotado do mais profundo sentimento religioso e plena entrega e dedicação ao culto, para o qual foi preparado. Diante do feito, ela percebe que não seria possível preparar um novo ser humano de tantas virtudes. Logo ela intercede junto ao grande Orixá, para que o mais novo sacerdote seja preservado do toque de Iku- a morte. 

Obatalá então explica para Oxum que não pode intervir no ciclo natural da vida: “Um dia, quando ainda não existia a humanidade, Nanã, a grande anciã, pegou o barro do fundo do lago onde morava e ofertou à Oxalá para que fosse moldado os homens fazendo um único pedido: assim como o homem nasce do barro, para o barro ele voltará ao findar de sua caminhada, a matéria da vida seguirá de volta ao seu ciclo.”. E ele continua: “Porém também possuo forças e poderes, assim como você, Yabá. Crie uma imagem, escolha um símbolo para que juntos possamos perpetuar as virtudes desse ser, sem interferir no ciclo da vida da matéria de Nanã. Esse símbolo deverá ter a representação daquilo que liga seu orí as forças essenciais da vida, assim como o início e o fim onde a matéria descansa após o toque de Iku”. 

Em busca do que melhor carregaria todas essas simbologias, Oxum vai até os outros Orixás para que eles a ajudassem na escolha. As divindades respondem para a Yabá que Etú, a galinha preta das florestas, deveria ser escolhida. Etú caminhava por todos os cantos, conhecia os segredos do amanhecer, entardecer e anoitecer, sempre atenta aos detalhes de tudo e todos, ela seria aquilo que melhor representaria a ligação entre o ser renascido e as forças ancestrais da vida. Oxum parte em busca de Etú e a leva até Obatalá, chegando à casa do fun-fun apresenta o símbolo escolhido por ela e todos os outros Orixás: Etú, a galinha preta, a ligação sagrada entre o iniciado e sua ancestralidade. 

Obatalá escuta a Yabá, entende a escolha e começa a preparar Etú. Pega o pó de efun e sopra sobre as penas, deixando marcadas diversas pintas brancas, ordena que Oxum pegue karité, a manteiga de orí da costa e molde um cone chamado de oxú que a partir daquele momento seria o que ligaria todo iniciado ao seu Orixá: “Daqui em diante Etú será eternizada e deverá estar presente em todos os rituais do culto, a galinha preta nascerá adornada com pó de efun e o oxú em sua cabeça, isso será feito em minha honra e de todos os Orixás”, diz Obatalá. Após isso, Oxum entrega a galinha pintada ao iniciado, pinta seu corpo com o mesmo pó de efun e coloca sobre sua cabeça um oxú como de Etú. Dessa forma, ela encontra a preservação das virtudes e dotes daquele que por suas mãos renasceu. 

Os preceitos da iniciação foram perpetuados através do legado de Oxum em todas as Iyalorixás, pelas mãos das grandes matriarcas o Candomblé segue seu caminho de fé. Assim como a Yabá recebeu de Obatalá a missão, as mães-de-santo cumprem a sua aqui na terra. Sua importância no legado feminino da religião está transfigurada em Mãe Stella de Oxóssi, Raidalva de Omolú, Seci Caxi de Angorô, Mãe Senhora, Jaciara de Oxum, Gilda de Ogum, Olga de Alaketu, Menininha do Gantois e tantas outras rainhas, herdeiras do trono sagrado daqueles que conduzem os passos para o renascimento de um novo ser. Pelas mãos das sacerdotisas a crença, a força e os fundamentos se renovam com amor. Legado ancestral matriarcal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
PRANDI, Reginaldo. “Mitologia dos Orixás”. 1. ed. atual. São Paulo – SP: Companhia das Letras, Dez 2000. 624 p. v. 1. ISBN 8535900640.
“OXUN INICIA O PRIMEIRO SER HUMANO” – Juntos no Candomblé. Disponível em: <http://www.juntosnocandomble.com.br/2009/09/oxun-inicia-o-primeiro-ser-humano.html?m=1>. Acesso em 10/02/2021.
“A GALINHA DA ANGOLA” – Ilé Òyá Aférifè Asé Igbayn – Mar/2020. Disponível em: <https://ileoyaaferifeokanlogun.wordpress.com/2020/03/29/a-galinha-da-angola/amp/>. Acesso em 10/02/2021.

GLOSSÁRIO:
Ayê – Terra, mundo físico, paralelo ao Orun, o mundo espiritual.
Obatalá – Primeiro Orixá criado, senhor do branco.
Iyalorixá – Aquela que comanda um terreiro e todos os seus cultos, responsável pela iniciação de seus filhos.
Yabá – Mãe rainha, título atribuído aos Orixás femininos.
Orixá fun-fun – Divindades do branco, aqueles que primeiro foram criados por Olorum, utilizam o efun para enfeitar seus corpos.
Orí – Cabeça, mente, alma orgânica.
Efun – Pó branco utilizado na iniciação, a representação da criação em um iniciado.

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