A luta pela liberdade em Palmares será apresentada pela União Capivariana

Logo oficial da agremiação.

A verde, amarelo e azul de Seropédica, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, apresentará em 2021 o enredo Angola Janga: a luta por libertade!. A União Capivariana, escola surgida da reunião de amigos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) desfilará pelo Grupo de Acesso 2, buscando uma vaga no Grupo de Acesso 1 do ano que vem.

Confira abaixo o texto da sinopse:

Logo oficial completo da agremiação.

A mata densa e fechada é um assombro para a fuga. Mutalambô nos prepare o escape”. Os sons nativos do breu é aluviado pelo cantar de liberdade do Mutú, que aponta a picada pra Casa da Cuca. Preta velha, rezadeira, pede a proteção das Nkisis para que valha o trajeto para Angola Janga. Ndandalunda nos proteja em suas águas. No curso tortuoso e ocupado por missongos nem sempre é possível vencer, Pambu Njila cuidará dos caminhos de liberdade.

Boas são as lembranças de vovó, da vida livre nas terras de Matamba, antes da travessia do grande Kalunga. Nesta lida de cativeiro, onde o flagelo é rotina, o sofrimento é um companheiro fiel. A liberdade ainda é um sonho. Sonhos se conquistam com muita luta. Lutar pela liberdade é mais do que necessidade, é a condição da vida. Os Malungos triunfaram na Serra da Barriga, construíram autonomia diante da desgraça da vida escrava.

Colocaram o nome de Angola Janga, nossa Angola! Aos pés de Kitembo clamamos nossos ancestrais, a vida se faz frutífera e farta. Erguemos choças e mocambos, batuques de tambor e danças de celebração exaltam a riqueza da nossa colheita e a posse daquilo que nos fora tomado. Contudo nossa liberdade é ameaçada pelas excursões daqueles que vivem da exploração do nosso sangue.

Angola Janga é a vida sem a mordaça da opressão, foi onde aprendemos a resistir. Por mais de 100 anos Palmares foi pujante. Nossa grandiosidade erigiu a maior liderança política que este país já teve. Sobrinho de Ganga Zumba, livre de nascimento, negro de linhagem real. Salve, Zumbi! Filho de Nzambi! Múlange Dipanda! 

Em Macaco erguemos uma fortaleza de guerra. Nkosi forjou corações e mentes para a batalha, do ferro se produziu lanças para avanço da luta. A cada invasão, com bravura, resistimos. Os colonizadores convocaram bandidos da pior espécie para nos impedir de viver livre. Os impomos derrotas inimagináveis, mostramos o poder que nossa organização trazia. Ninguém pode impedir a luta de um povo que brada por liberdade!

A força do inimigo se traduziu na forte artilharia empregada para nossa derrota. Com tiros de canhão foi ao chão nossa fortaleza. Macaco foi lavado com sangue de liberdade. Zumbi fugiu, mas a perversidade do opressor quis, além de matá-lo, decapitá-lo e expor sua cabeça em praça publica para servir de exemplo. Serviu. O seu legado “correu terras, céus e mares, influenciando a abolição”. Inspiração para lutar por liberdade. Do seu sangue nasceram: Joaquim Nabuco, Manuel Congo, Luiza Mahin, Luis Gama, André Rebouças, José do Patrocínio, Francisco José do Nascimento, Maria Firmina dos Reis, Abdias do Nascimento e outros tantos.

A opressão colonial seguiu por anos, todavia novos quilombos sempre foram construídos. Até hoje nos organizamos em nossas “pequenas áfricas”. A cada geração, novos zumbis se levantam. Nossa liberdade ainda não conquistamos por completo, mas ela virá através da luta, por meio da herança que colhemos do solo de Angola Janga!

No carnaval virtual da União Capivariana em 2021, desfilaremos “uma história sobre Palmares”, a luta
de um povo que conquistou sua liberdade com muita luta!

Glossário (por ordem de aparecimento)

Angola Janga – Termo usado entre os próprios moradores para definir o conjunto de mocambos de Palmares. Em kimbundu significa “pequena Angola”. Havia vários mocambos no local, grandes e pequenos, os maiores chegavam a ter mais de 6 mil pessoas.
Mutalambô – Nkisi caçador, protetor das florestas; habita nas montanhas; seus elementos são terra, vegetais e animais.
Nkisis – São divindades da tradição Angolana pertencentes a crença dos povos da região dos países da costa ocidental do continente africano.
Mutú – Pássaro nativo da região da Serra da Barriga, Alagoas.
Ndandalunda – Nkisi deusa da fertilidade; associada a lua e senhora dos encantos; seus elementos são o ar e as águas doces.
Missongos – Capanga, soldado.
Pambu Njila – Nkisi responsável pela comunicação entre as divindades e os homens; seu lugar é a rua, é o senhor dos caminhos; seus elementos são terra e fogo.
Matamba – Reino pré-colonial que ficava a leste de Angola, (Ndongo, em kimbundo)
Calunga – Segundo Maria Helena Figueiredo Lopes, “O termo multilinguistico banto kalunga encerra ideia de grandeza, imensidão, designando Deus, o mar, a morte”
Malungo – Companheiro; o temo com os quais os escravos se tratavam durante a travessia no tumbeiro.
Kitembo – Nkisi responsável pelo tempo; tem domínio sobre as estações do ano, mudanças climáticas; é considerado rei da nação Angola, representado pela árvore gameleira branca; a divindade mais reverenciada depois de Nzambi.
Choça – Casebres construídos a partir de palhas, bambus e outros materiais.
Nzambi – Deus supremo na cosmogonia Banto; a essa divindade é atribuída a criação de todas as coisas existentes; pode ser comparado a Olorum, na tradição Yorubana;
Múlange Dipanda – Vigilante da libertação
Macaco – Ou mocambo do macaco; considerada a capital de Palmares.
Nkosi – Nkisi das guerras; senhor do ferro e do aço; seus elementos são a terra e o ferro

Fontes de Pesquisa

Livro: “Angola Janga: Uma história de Palmares”. Marcelo D’Salete (Autor)
Dissertação: “Ecopedagogia no terreiro de candomblé Angola. Edmilton Amaro da Hora Filho (Autor)
Dicionário Kimbundu-Português: Linguístico, botânico, histórico e corográfico. A. de Assis Junior (Autor)
Site: “Awùre: Portal de mídia afro”

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