A Imperiais de Madureira irá trazer seu Manifesto Crespo em 2021

Logo oficial da agremiação.

A Imperiais de Madureira, atual nona colocada do Grupo de Acesso 1 do Carnaval Virtual apresentará em 2021 o enredo Manifesto Crespo de autoria de Gabriel Borba, Marcos Felipe Reis, Yago Medeiros e Anderson Silva. A verde, azul e branco de Madureira possui suas cores em homenagem às tradicionais escolas de seu bairro, a Portela e o Império Serrano e apostou na renovação de sua equipe de carnaval na busca da ascensão ao Grupo Especial.

Confira abaixo o texto de sua sinopse:

SOBRE NÓS

Logo oficial completo da agremiação.

Eu olho no espelho e me perco no emaranhado de fios me perguntando: “Quem sou eu?”.
No meio do subúrbio, em Madureira, parece que sou apenas mais uma.
A pele preta carrega as marcas de meus antepassados. “Será que sou bonita?”.
Às vezes duvido de mim mesma. Minha mãe, ao ver meu descontentamento, sentou do meu lado e me ajudou a desembaraçar os nós que confundiam minha cabeça sobre nossa história, coisas que minha avó lhe contava quando a via “brigando com sua cabeleira”.
Coisas que o tempo não apagou, que se entrelaçou pela nossa família e por que não de muitas outras por aí…

RAÍZES

A verdade é que a história do cabelo crespo cruza a caminhada da humanidade. A ancestralidade demarcava poder por entre penteados, que denotavam classes sociais, idades, a origem e a religião. Saltam aos olhos! Cores vibrantes se estampavam por entre tribos originárias, transformavam-se em coroas para coroar sua identidade. Estiquem o couro como os Himba, protejam e amarrem com as forças do bambu dos Afar, cubram com a terra, adornai! Reinventar-se com o dejeto da outra civilização, onde o lixo novamente se faz luxo ao vestir os Daasanach.

CABELO “RUIM”

Navegando por entre a diáspora negra, a imposição de poder era cruel. Não bastava retirar da terra, era preciso tirar a terra de nossos entres guerreiros. Raspar os cabelos era um ato de mutilação, o cortar dos laços com a terra mãe não deixaria um fio. Negras foram proibidas de mostrar seus penteados livres, sendo obrigadas a cobri-los enlaçando turbantes de todos os tipos. Era uma ameaça para os padrões da época. Muitas mulheres viam-se socialmente obrigadas a alisar suas madeixas com ferro quente e química, um grande sacrifício. Porque o cabelo era ruim, por ele não querer se prender ás amarras da sociedade? Os crespos precisam resistir! Fazer justiça à estas formas de origem que se libertaram em abolição, mas não soltaram as amarras sociais. O que antes eram raspados, cresceram e esconderam as pepitas de ouro que deram liberdade à Galanga para espalhar o quilombo pelos morros. O negro, então, não é “forro”, é liberto! Elevem, então, seus tributos ao grande Deus leão por meio de seus dreads incortáveis. Vejam agora nosso rei, o penteado africano, que emana força ao ser coroado rumo ao tão sonhado retorno para sua terra, sua raiz.

ARMADOS E PODEROSOS

Cabelos ao vento! O Black é Power e caminha em ascensão. Afirmam-se então as cabeleiras selvagens que demarcavam identidade.
O negro é lindo! Pelos Estados Unidos se tornam atos políticos de resistência, encabeçando grandes líderes nas caminhadas por seus sonhos.
Rugem as Panteras Negras! Intimidem seus opressores e mostrem quem são de verdade!
Oh Mama África, resista ao movimento separatista, assuma seus corpos. Os pretos estão se a(r)mando cada vez mais.
O Swing e a malandragem dos percursores do Black chegam ao Brasil e foram de suma importância para gravarem mais ainda seus traços.
Os espaços suburbanos foram então ocupados, dando início aos bailes que serviam de pontos de encontro, onde toda uma linguagem e expressão nascia nos salões de beleza. E por aqui em Madureira não seria diferente.
O charme que se tinha em sua pele, tão julgada no asfalto, fazia em “Blues” seus “Jazz” discotecantes embalando noites a dentro.
Mas porque o samba do crioulo era doido?

COROANDO O FUTURO

O que é bom? O que é ruim? Ruim é não saber quem somos, não saber quem nos representa.
O negro não veste, ele se impõe em sua existência.
Tranças prontas, me sinto com uma força linda, jamais sentida. Me fortaleço como as raízes de minhas origens. Me olho ao espelho com um semblante confiante, minha mãe sorri orgulhosa, mais uma preta está pronta para desabrochar.
O caminho é necessário para fortalecer nossas raízes: somos todos fios entrelaçados, “eu sou porquê somos”. E é de posse disso que precisamos continuar a aprender com orgulho de ser quem somos e de onde viemos, para alcançar o futuro, moldando nosso presente.
Vamos expandir o consciente para fora dessa realidade que tanto nos amarrou e cortou, deixando nosso sol interior brilhar em busca de quem somos.
Precisamos coroar um futuro que nossos cabelos crespos possam se enraizar e crescer de forma como queiram, todos os dias, em um manifesto que represente para sempre nossa complementaridade com um novo universo onde todos nós podemos ser juntos.

Referências Bibliográficas:
Djaimilia Pereira de Almeira. Esse cabelo – A tragicomédia de um cabelo crespo que cruza a história de Portugal e Angola. Editora Teorema. Portugal. 2015.
Hairbrasil.com. Beleza negra: histórias, encantos e glamour. 18 de maio de 2015.
MATTOS, Ivanilde Guedes de. Revista do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Estética afro-diaspórica e o em-poderamento crespo. V. 5, n. 2. Julho de 2015.
Vieira, Kauê. Black Power: Instrumento de resistência e cultura. Projeto Afreaka. Disponível em: http://www.afreaka.com.br/notas/black-power-instrumento-de-resistencia-e-cultura/. Acesso em novembro de 2020.
Tribuna. Soul Brasil: A trajetória do movimento Black no país. O Estado do Paraná. Março de 2006.
Revista Super Interessante. O movimento Black-Rio: Desarmado e perigoso. Outu-bro de 2004, revisado em outubro de 2016. Disponível em: https://super.abril.com.br/cultura/o-movimento-black-rio-desarmado-e-perigoso/. Acessado em novembro de 2020.
Portal Geledés Entretenimento. Dossiê Afrofuturismo: saiba mais sobre o movimento cultura. 24/09/2015. Disponível em https://www.geledes.org.br/dossie-afrofuturismo-saiba-mais-sobre-o-movimento-cultural/. Acessado em novembro de 2020.

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