‘Depois somos nós que vemos racismo em tudo’, diz mãe sobre cartilha escolar
Cartilha escolar. Foto: Reprodução
Através de sua página no Facebook, a usuária Marisa Santana fez um desabafo sobre uma atividade proposta em uma cartilha escolar para crianças.
‘Depois somos nós que vemos racismo em tudo’, disse em seu relato após mencionar a ausência de algumas características físicas para ser utilizada como resposta da pergunta que consta no exercício.
Além da ausência da opção “negra” que a criança criou para assinalar a resposta, só consta a alternativa “magra”, escondendo quem não seja.
Na semana passada, Aline Lopes, outra mãe de uma criança de 3 anos, que frequenta uma escola particular no Recife, em Pernambuco, denunciou um livro didático por racismo. Clique aqui para relembrar o caso.
Em outra postagem, Marisa fez uma reflexão e pediu ajuda de seus seguidores para combater o racismo.
Leia na íntegra:
“Toda vez que faço alguma postagem sobre o racismo vivido por mim ou por alguém da minha família, eu sempre acabo me divertindo com algumas reações.
Jura mesmo que vocês se espantam com essas denúncias?
Deixa eu contar uma coisa: amiguinhes, a vida para nós, negros, sempre foi assim. Eu digo SEMPRE FOI ASSIM…Ou vocês acham que quando eu era criança eu me via representada na escola, nos programas de tevê, na mídia e nas caralhas a quatro?
Vocês acham que quando eu era criança a professora se importava que, nas imagens dos exercícios e dos livros, só crianças brancas fossem representadas ou que nas festas de escolas apenas alunes brancxs tivessem destaque?
Eu lembro do único destaque que eu tive na minha vida acadêmica infantil. Foi uma festa sobre folclore e cada turma representava um estado. A minha ficou com o Rio de Janeiro.
Advinhem sobre o que foi a dança da minha turma?
Óbvio, carnaval.
Advinhem qual foi o meu destaque?
Óbvio, passista de escola de samba.
Porque escola só serve (não deveria, não deveria) para reforçar estigmas e estereótipos.
Não tá cada vez pior não…
Sempre foi essa merda que vocês estão vendo. Por isso que eu rio da cara de vocês quando viram o olhinho e dizem: “ahhh, tudo agora é racismo”. Coleguinhx, deixa te contar uma novidade…sempre foi assim. A diferença é que gente vem aprendendo que o silêncio não nos protege.
Aí tá a lindeza da parada. Porque hoje em dia neguinhx está levantando o dedo e apontando: “isso, é racismo, mermão”.
Aí sim. Aí é cada vez mais difícil manter a farsa da democracia racial que nos manteve subjugados por séculos. Fica, a cada momento, mais difícil manter o discurso da meritocracia quando, revelando essas situações, fica muito nítido o quanto brancos são beneficiados pela engrenagem do racismo. Até acredito que deva ser difícil e vergonhoso para muitos de vocês admitirem isso. Porque é para vocês se envergonharem muito.
Mas, para além de achar algumas reações bastante curiosas, uma coisa me intriga. Eu já perguntei aqui e tive pouquíssimas respostas. Vou aproveitar a comoção do meu último post para tornar a perguntar. O que você, que mega se indigna ao ouvir os meus relatos, faz para combater o racismo? Acho super digno vocês me apoiarem, compartilharem meus posts, discutirem aqui comigo. Mas vocês conseguem observar a violência do racismo em seus relacionamentos cotidianos, em seus privilégios?”
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