Vice-presidente renuncia: ‘impotente para evitar violência contra o Império Serrano’

Márcio Araujo de Oliveira. Foto: Reprodução de Internet

Márcio Araujo de Oliveira. Foto: Reprodução de Internet

A polêmica envolvendo o lançamento do enredo do Império Serrano para o Carnaval de 2019 continua. Na noite desta sexta-feira (20), através de sua página no Facebook, Márcio Araujo de Oliveira, comunicou sua renúncia ao cargo de vice-presidente social da agremiação.

A opção que a escola fez em desfilar com o clássico da MPB “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha, que também serve de título de enredo,dividiu opiniões entre os sambistas.

O assunto gerou polêmica, com críticas de internautas nas redes sociais e também de compositores, que veem a ação da escola com risco para a ala. Houve também quem aprovasse a decisão da agremiação. O SRzd ouviu compositores, tanto do Império Serrano quanto de outras escolas.

Um dos que desaprovaram a ideia foi o diretor de Carnaval Hélio Oliveira. Em carta aberta aos imperianos, Hélio anunciou sua saída de verde-e-branco e questionou a decisão da escola. Clique aqui para ler o comunicado na íntegra.

Em nota oficial enviada ao SRzd na tarde desta sexta-feira (20), a direção administrativa da agremiação esclareceu que Hélio Oliveira foi parte integrante da Comissão de Carnaval em 2018, porém já havia sido informado sobre o seu desligamento ao término daquele desfile.

Leia o comunicado na íntegra publicado por Márcio Araujo de Oliveira:

Ao: GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA IMPÉRIO SERRANO;
SÓCIOS DO GRESIS;
CONSELHO DIRETOR DO GRESIS;
CONSELHO DELIBERATIVO DO GRESIS;
CONSELHO FISCAL DO GRESIS;
E A TODOS OS APAIXONADOS E SIMPATIZANTES DO GRESIS

Eu Márcio Araujo de Oliveira, lamento entregar minha carta de renuncia ao cargo de VICE-PRESIDENTE SOCIAL do GRESIS ao qual fui eleito pelos sócios do GRESIS.

“Novidade pra cidade criei
Samba-enredo de verdade cantei
A nobreza em pessoa mostrei
É real minha coroa sou rei”

Minha relação com o IMPÉRIO SERRANO não é uma relação apenas racional, é uma relação exercida racionalmente, porém motivada por um grande amor e uma imensa paixão pela Escola. Quando digo amor e paixão pela Escola, estou dizendo que sou apaixonado pelo que nossa escola representa em seus valores, ideais, tradições e sua gente.
Quanto mais eu aprofundo meu conhecimento sobre o passado de nossa agremiação, seu legado de inovações associadas à preservação das tradições, e seu histórico de resistência, construídos pelas pessoas que idealizaram a Escola, tenho um grande orgulho de ser mais um apaixonado pelo Império Serrano.
No presente, quando atendendo aos pedidos de amigos associados do GRESIS me apresento como candidato a cargo eletivo, busco modernizar processos administrativos, organizar rotinas, facilitar a tomada de decisões. O objetivo é criar um ambiente propício ao surgimento de novos talentos artísticos – e talento artístico não falta ao Império e a sua comunidade, que apesar das adversidades continua produzindo frutos de inegável qualidade.
Quando imagino no futuro do Império, vislumbro uma Escola forte, pujante, competitiva, e que encha o imperiano de orgulho, e que principalmente siga fiel aos ideais de seus fundadores, as suas tradições, que seja UMA ESCOLA DE SAMBA e continue formando gerações de sambistas e apaixonados pelo samba.
Isso tudo me leva a uma objeção de consciência com o que foi apresentado para o carnaval de 2019. Não posso aceitar que nossa Escola de Samba deixe de ser uma escola e muito menos que abandone o samba. Não concordo que em nome de promover inovação nossa diretoria descaracterize a principal essência das escolas de samba – que é a composição do samba enredo. Samba enredo para ser executado naquele momento único, que é o desfile de uma comunidade. Comunidade essa que se reveste de orgulho para mostra ao mundo toda sua arte. Não compactuo com esse entendimento que ouvi da diretoria de que o Império não tem mais capacidade de criar um samba que contagie a sua comunidade. Não me permito ser omisso diante de repetidos equívocos que nos descaracterizam como escola e passemos a ser apenas repetidores de samba e mero imitadores do que outras escolas já tentaram. Não posso aceitar que o IMPÉRIO deixe de ser SERRANO, que deixe de ser SERRINHA.
Não tomei parte da discussão dessa proposta de enredo. Ontem a noite fui apenas informado pelos demais membros do Conselho Diretor, de uma decisão que já havia sido tomada, em um claro desrespeito ao ESTATUTO SOCIAL do GRESIS que em seu ARTIGO 54, que determina que esse tipo de decisão seja tomada em conjunto pelo Conselho Diretor.
Infelizmente me vi impotente para evitar que essa, que é provavelmente a maior violência cometida contra o Império Serrano, fosse consumada por aqueles que deveriam prezar pela escola. Isso me trás infinita tristeza .
Amando a escola e confiando na inigualável capacidade dos Imperianos em superar todas as dificuldades, me desligo do CONSELHO DIRETOR.
Agradeço aos amigos, aos sócios e aos apaixonados pelo Império Serrano, que confiaram em mim, e me apoiaram nessa empreitada.
O que me conforta é ter a certeza que continuamos sendo uma democracia, e que numa democracia nada é eterno.

“sou resistência
Sou Império, sim “sinhô”

MÁRCIO ARAUJO DE OLIVEIRA

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