Artigo: O jornalismo de imersão e o ensino nas universidades

Jornais impressos. Foto: Reprodução

Jornais impressos. Foto: Reprodução

O jornalista Ricardo Calil escreveu sua tese de mestrado sobre o fim dos jornais impressos e o desenvolvimento de um modelo chamado de jornalismo de imersão. O SRzd traz para os leitores o estudo dividido em cinco partes, que serão publicadas esta semana. Você pode ver aqui os três que já estão disponíveis. Segue abaixo o quarto:

O jornalismo de imersão e o ensino nas universidades

Mas como fica o ensino do jornalismo nas universidades com o aparecimento desta nova ferramenta de trabalho? As universidade terão que se adaptar para que os alunos saibam como lidar com esta nova tecnologia quando chegarem ao mercado de trabalho ? Nós ouvimos alguns professores de jornalismo e profissionais sobre este novo momento. Para o Editor da Revista Bio, Romildo Guerranti a situação não é diferente da situação que aconteceu anos atrás “ Quando comecei a estudar jornalismo havia uma cadeira de fotografia, mas nós não tínhamos laboratório. Conseguimos montá-lo com grandes sacrifícios no último ano do curso. E quem terminou sem a experiência da banheira e dos agentes químicos? Teria perdido alguma coisa? Creio que não, porque 15 anos depois surgiu a fotografia digital. E tudo isso foi aposentado. Acredito que basta ensinar o uso do computador que o resto vai junto.

Já a professora Gabriela Mafort, que também é consultora de jornalismo digital, acha que as universidades vão ter que se adaptar. Segundo ela, “as universidades precisam investir em Laboratórios de produção Maker que contemplem as novas tecnologias. Drones, câmeras 360 graus, uso da realidade virtual, uso da realidade aumentada, planejamento integrado multiplataformas, aplicativos, podcasts, Games. Protótipos das redações do Futuro que deverão servir de farol inclusive para as redações mais tradicionais”.

O Coordenador de Jornalismo da ESPM, Pedro Curi, tem uma opinião diferente , ele afirma que hoje é um desafio muito grande formar alguém em jornalismo porque as mudanças tecnológicas estão acontecendo muito rapidamente, e o aluno tem que estar preparado para entrar no mercado de trabalho em 3 ou 4 anos. “Então se um estudante meu vai para uma empresa que tem este tipo de tecnologia, eu prefiro que ele ao invés de saber operar uma câmera de 360 graus, que ele pense o que eu posso fazer de diferente com uma câmera 360 graus”. De acordo com o professor Pedro Curi a ESPM está trabalhando em cima da linguagem e não em cima da tecnologia. Segundo ele, a grande dúvida é se cabe as universidades trabalhar esta nova tecnologia, isto porque hoje os aluno tem no bolso uma tecnologia que transmite “ao vivo”, celulares que enviam imagens “ao vivo” para qualquer lugar do mundo em tempo real. “ Se eu for pensar no meu tempo de televisão, até mandar o carro de geração, ou o motolink ao local do fato, demorava muito pra se ter imagens e as vezes não conseguíamos fechar link daquele local. Eu acho que este tipo de tecnologia está trazendo muito mais agilidade para os grandes veículos. Hoje qualquer pessoa é um cinegrafista em potencial, bastando ter um celular de boa qualidade no bolso”. Para Pedro Curi, neste momento, nas universidades, é melhor trabalhar com os alunos a narrativa da matéria ou trabalhar mais as diferentes formas de narrar antes de produzir a tecnologia, que daqui a algum tempo pode ser superada por outra que será mais leve, mais simples, com câmeras mais baratas como já se viu acontecer com outras tecnologias.
A Gerente de Desenvolvimento de Jornalistas da TV Globo, Vera Iris Paternostro, concorda com o professor Pedro Curi. Para ela, o novo profissional precisa saber misturar o conteúdo jornalístico com a nova tecnologia e dali retirar algo diferenciado para a matéria dele. “Eu passei muitos anos vendo a tecnologia avançando, ir mudando, e o jornalismo se adaptando a estas mudanças e pelo jeito está continuando a mudar, por exemplo, a mobilidade hoje das câmeras é muito funcional para o jornalismo e vai ser cada dia mais. Vera Iris lembrou que a invasão da comunidade da Rocinha foi registrada em vários vídeos gravados por celulares dos moradores. “O resumo dos acontecimentos da Rocinha mostrado no “Fantástico” era todo feito por moradores. Então é fundamental, pois ninguém faria esta cobertura com tantos detalhes”. Vera disse também que mesmo que formato tradicional, como o jornal de papel, o rádio e etc… se desintegrem no futuro, fica a pergunta de que recurso o profissional precisa quando ele quer fazer uma matéria, criativa, interessante, diferente, atraente e inesquecível? ou até qual o recurso ele precisa ir?. O básico ou mais alguma coisa?”… Se você vai fazer a matéria com câmera 360, além da perspectiva que você perde, você vai permitir que as pessoas que vão consumir esta reportagem entendam o que você está propondo ?” Vera Iris acha que os veículos de comunicação deixaram de se preocupar com o público, o entendimento do público. “Hoje, cada um quer fazer a pirotecnia necessária com a tecnologia mais avançada, é o filtro, é o drone é a câmera 360 graus, e etc.., mas e o cara do lado de lá ? ou a gente não está mais preocupado com ele? Eu acho que fomos nos afastando um pouco dele”.

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