Não é nada demais, mas está tão comum acordar e olhar a rede social quanto escovar os dentes pela manhã. Aliás, para muitos usuários do Instagram, Facebook e Whatsapp aquela checada na rede é também a última atividade do dia, antes de dormir.
Para muitos, uma distração, para outros trabalho. Seja como for, nunca estivemos tanto na rede como agora, principalmente com o empurrão que a pandemia deu. Mas é assim, meio sem perceber, que a dependência se dá. A Associação Brasileira de Psiquiatria alerta para o risco de nomofobia, o medo de ficar desconectado.
Segundo o médico psiquiatra Ilton Castro, o primeiro sinal de dependência é o sofrimento. “Irritabilidade, inquietação, ansiedade, mudanças repentinas do ânimo e prejuízos na memória. A compulsão por likes gera a falsa sensação de bem-estar e prazer. E mesmo os usuários menos ativos, que ficam visualizando passivamente as postagens, acabam se intoxicando pela comparação com vidas perfeitas, retocadas por filtros e recursos que não existem de fato”, explica.
Uma pesquisa que envolveu cinco universidades internacionais (Sydney University, Harvard University, Kings College, University de Oxford e University of Manchester) comprovou que o uso contínuo da internet tem alterado nossa cognição, o raciocínio. No lugar do foco e concentração: atenção dividida. As redes provocam a todo tempo interrupções, e sem perceber, somos cada vez mais dispersos. “Atividades cotidianas entram em desequilíbrio: trabalho, estudo, relacionamentos e até mesmo a integridade física, quando se faz uso dos smartphones ao dirigir. Neste momento, é notório que todas as tentativas de controle da situação foram fracassadas”, alerta o psiquiatra.
O Brasil ainda está aprendendo a lidar com a rede. Nos países onde as conexões se dão há mais tempo, a preocupação com o uso já é presente. Atitudes simples podem dar um freio no mundo virtual.
“As sociedades mais industrializadas, que receberam o primeiro impacto, já criaram a noção de que a conectividade excessiva é um ladrão de tempo e oportunidades. Atualmente, observa-se certas regras de etiqueta no uso dos smartphones em reuniões sociais. Não ficar segurando o celular o tempo todo, usar a função não perturbe, jamais interromper uma conversa presencial para atender o celular ou verificar as redes sociais. Não conversar verificando o celular, comunicar-se aos outros quando for necessário e desconectar-se das redes sociais também é uma maneira de se auto-policiar”, explica o médico.
É preciso observar a hora de pedir ajuda especializada. O uso excessivo da rede tem comprometido relações reais. Relacionamentos entre casais, filhos, amigos e até compromissos de trabalho e estudo são negligenciados.
“É preciso entender este desejo e encontrar o caminho de controle. Assim como o cigarro, que já ofereceu a sensação de glamour e compensação, a rede social também atravessa esta imagem, mas pode ser extremamente danosa, caso não seja bem utilizada. O equilíbrio é o caminho para para uma ferramenta de expressão, voz, encontro e crescimento”, complementa o doutor Ilton Castro, que é formado pela Faculdade de Medicina do Vale do Aço (MG). Psiquiatra pelo Hospital Naval Marcílio Dias, ele tem especialização em idosos e medicina do sono.
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