A ‘paradinha’ de Mestre André de Padre Miguel

Se existe um nome mitológico no Carnaval carioca, este é o de José Pereira da Silva (1932-1980), o Mestre André.

Ele era maestro-chefe da bateria da GRES Independente de Padre Miguel, nos anos 1960-1970.

Todos, em geral, louvam Mestre André, em primeiro lugar, por ter sido o criador da famosa “paradinha” da bateria, hoje executada por todas as escolas de samba.

Começou como mestre-sala.

Mestre André. Foto: ReproduçãoMas ficou conhecido logo pela facilidade em soprar o apito. Assim que ouviam o apito do Mestre André, os ritmistas faziam mudanças sonoras/harmônicas na bateria, pois sacavam imediatamente códigos que viam através daquele famoso apito.

Em 8 de fevereiro de 1959, na Av. Rio Branco, foi a estreia da GRES Mocidade Independente no Grupo Especial.

Nesta apresentação, Mestre André, de frente para a bateria, com seu apito implacável, teve um escorregão, e caiu no chão.

Para ele, Mestre André, era um desastre inconcebível, já que ostentava títulos e mais títulos de elegância afrobrasileira.

Sem se importar com o fato, Mestre André, astuto que só ele, se levantou, e num rodopio, apontou para o repique.

O instrumento entrou no tempo exato e a bateria se manifestou harmônica/empolgada na Avenida com todos os seus instrumentos, pois entendera imediatamente, as sinalizações de sua liderança musical.

Estava, então, criada, a “paradinha” das baterias, na estreia da GRES Mocidade Independente no Grupo Especial.

No entanto, há uma segunda versão sobre a criação da “paradinha”.

Djalma Nicolau, tocador de caixa da agremiação, diz que foi ele quem sugeriu a “paradinha” para Mestre André. Este teria aceito e resolvera pô-la em prática no Carnaval de 1959.

A terceira versão da “paradinha” é do ex-mestre-sala da Mocidade Independente chamado de Salgueiro. Este cortejava a porta-bandeira, Helena de Siri. Salgueiro escorregou e caiu.

No chão, foi coberto pelo pavilhão da escola da porta-bandeira.

Esta era uma estratégia para que os jurados não percebessem a gafe de Salgueiro.

Mestre André, então, sacando o lance, pediu que a bateria parasse de tocar.

Foi atendido na hora.

O público não entendeu aquele silêncio percussivo.

Lépido, Salgueiro se levantou, voltou a cortejar a porta-bandeira e o show continuou, com o retorno da bateria ao seu som original, sob o controle de Mestre André.

Mestre André não ficou somente na “paradinha”.

Ele teve uma vida musical afro genial.

Organizou algumas estratégias, naquela época, ainda muito atrasada, subdesenvolvida.

Por exemplo, criou algumas novidades.

Uma delas:

-Mandou vender antes do desfile sapatos dos ritmistas. Mesmo a contragosto, no asfalto quente, os ritmistas desfilaram e encantaram o público com seu toque. Parece que André quis desafiar a bateria colocando-a em condições adversas, com o fogo nos pés do asfalto. Na verdade, demonstra sua grande capacidade de liderança, pois todos os ritmistas obedeceram a uma proposta física violenta do chefe, e se consagraram na avenida, com os gritos de “olé” da arquibancada.

Outra contribuição:

– O ritmista Sebastião Miquimba marcava o ritmo no surdo de primeira, mas sempre dava mais um pancada no couro para preencher o vazio que ficava antes do toque da segunda.

Mestre André viu aquilo e achou uma grande novidade percussiva. Além de oficializar o surdo de terceira, em sua bateria, o Mestre mandou confeccionar um surdo especial para Sebastião Miquimba.

Assim, a Mocidade Independente criava mais uma bossa no mundo samba, graças aos ouvidos maravilhosos de Mestre André.
Mais uma criação de Mestre André, ou seja, foram as baquetas múltiplas para ampliar o toque dos tamborins.

A impressão é que havia mais instrumentos tocando na bateria, dando uma impressão que havia um universo sonoro variado e indefinível na Avenida.

Por fim, criou uma escola de ritmistas mirins, tirando as crianças do mundo do ócio das favelas de Padre Miguel. A maioria destes jovens acabara engrossando a famosa bateria da Mocidade Independente.

Era um avanço grande, pois, naquela época, Mestre André executava um trabalho social no mundo do samba, que viria a ser recuperado, nos anos 1980, com a “Mangueira do Amanhã”.

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